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A história de Albuquerque, o camisola 4, que aos 51 anos continua a amar o futebol como no primeiro dia

Confia que a genética tenha ajudado, mas o fator chave para, aos 51 anos, ainda jogar futebol é, confessa-nos, o compromisso. Assume que, quando assina um contrato com um clube, o faz como se de um contrato de trabalho se tratasse. Quis o destino que um dia jogasse ao lado do filho e juntos formam uma dupla de centrais no Santacruzense, nos distritais de Viseu. Passou também por um dos episódios mais marcantes de sempre do futebol distrital: quando o Farminhão passou a chamar-se Académico de Viseu. Eis Carlos Manuel Paiva Albuquerque. O Albuquerque para o futebol distrital

Carlos Eduardo Esteves | carlos.eduardo@jcentro.pta
 A história de Albuquerque, o camisola 4, que aos 51 anos continua a amar o futebol como no primeiro dia - Jornal do Centro
26.04.25
fotografia: Jornal do Centro
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26.04.25
Fotografia: Jornal do Centro
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À hora marcada, como se chegasse a um treino ou a um jogo. Ao sentar-se, durante o ajeitar de microfones, a confissão chegou. “Não estou habituado a isto”, disse. A conversa durou 45 minutos. Uma parte de jogo, ainda que com alguma compensação. A história de Carlos Manuel Paiva Albuquerque no futebol já se perdeu no tempo. “Trate-me por Albuquerque. É que ninguém me conhece por outro nome”, apelou. E assim foi.

Gumiei, a infância e o relógio da capela
Desde que se lembra, Albuquerque trata a bola por tu. Tudo começou quando a mãe trabalhava na escola da aldeia. Natural de Gumiei, no concelho de Viseu, havia sempre que chegar a casa primeiro do que ela. “Estava sempre atento ao relógio da capela para saber as horas. Cinco minutos antes da hora de saída da minha mãe, tinha de correr para casa”, lembra. Era a única extrafutebol que tinha. Se assim fosse, estava tudo bem. A escola nunca foi o local favorito. “Não sei porquê, nunca gostei de estudar. A minha irmã formou-se. Ainda bem para ela”, confidenciou. “A melhor parte da escola eram os recreios para jogar à bola”, aponta.

A vida estava-lhe destinada em tons esféricos. A bola acompanhou-o durante vários anos. E ainda lhe faz companhia. Aos 51 anos, “quase a fazer 52”, como lembra, ainda joga futebol no Santacruzense, um clube de Santa Cruz da Trapa, dos distritais de Viseu.

E, de repente, o filho ao lado
A carreira prolongou-se de tal forma que hoje joga lado a lado com o filho, Tiago. Quis o destino que fosse central como o pai. “Jogamos ambos com o pé direito. Ele veste o 40, eu visto o 4”, acrescenta. O número quatro sempre acompanhou Albuquerque. “Acho que é um número de central. O número quatro sempre foi associado a centrais mais maduros, mais intensos”, justifica. Tiago Albuquerque tem 21 anos e sempre jogou na parte recuada no campo. “O facto de jogar agora comigo foi um acaso. Nunca o pressionei. Sempre foi ele a querer ser futebolista”, conta.

Sobre o filho – e jurando que não o diz por ser o pai, sobram elogios. “É um rapaz que ouve o que lhe dizem, que gosta de aprender. É humilde”, sublinha. “Hoje há muitos jovens a quem não se pode dizer nada”, lamenta Albuquerque. Além desses valores, vê no filho qualidades como futebolista. “O futebol não é correr, é a forma como se corre. Isto não é atletismo. Importa saber correr”, aponta.

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Albuquerque e o filho Tiago a dupla de centrais do Santacruzense Foto Carina Cunha Fotografia

Do futebol de rua à formação: uma mudança de gerações
Puxando o jogo atrás, recuando a bola uns trinta anos, Albuquerque confessa olhar para o filho e recordar-se do tempo em que, com 21 anos, jogava futebol. “É tudo diferente. O Tiago teve uma coisa que eu não tive. Tem formação. No meu tempo era tudo mais difícil. Os meus pais separam-se tinha eu dez anos. Comecei a trabalhar aos 15 anos e deixei o futebol e só voltei como sénior. Eu praticava o chamado futebol de rua”, frisa. Hoje, prossegue, “até é demais, é tudo muito tático, muito formatado”. “Não os deixam jogar”, sublinha.

Albuquerque nem sempre jogou como central.. “Eu jogava a lateral e houve um treinador – o Eduardito – que me disse que eu lia bem o jogo e pôs-me a central”, lembra. Para chegar aos 52 anos em condições de jogar futebol, Albuquerque aponta a vários fatores. “Nunca fumei, nunca bebi, nunca fui de noitadas”, vinca. “Trabalho muito. Se tiver um dia de folga, eu tenho de ir correr. Se não tivermos jogo e eu não for correr, noto logo no jogo seguinte”, menciona.

No futebol amador, a vida é feita de um outro lado: o profissional. Albuquerque é hoje eletricista. Já trabalhou no ramo automóvel. Trabalhos que exigem atenção, tal como acontece no futebol. “Hoje, inclusive, jogamos com uma defesa a três. Eu sou o do meio, tenho de os comandar. Há colegas que dizem notar a minha ausência em campo”, assinala. “Tive um jogador que confessava aos colegas que eu era o treinador dele dentro de campo”, acrescenta.

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Albuquerque na equipa do Académico de Viseu depois de o clube renascer

O treino, sempre o amor ao treino
Trinta anos depois desde que abraçou o futebol no escalão sénior, continua a dizer o que diz há muito: o jogo é bom, mas o treino, o treino é fundamental. “Eu gosto mesmo de treinar. Mais do que pelo jogo, é o amor ao treino”, confessa. É no exemplo que, conta, prefere mostrar aos mais novos como deverão encarar a carreira de futebolista. “Não conseguia ser treinador de distrital por ser muito exigente. Se exijo de mim, também quero isso dos outros. Não gosto de sentir que há pessoas que vão treinar por verem os outros. Há jogadores que dizem que não são de treino, são de jogo. Como se paga pouco na distrital, acho que os jogadores me iam dizer que não me queriam aturar. Para mim, quem não treina, não calça”, atira. “Para mim, um treino tem tanto ou mais valor do que um jogo. Há quem não entenda isso”, lamenta.

Feitas as contas, Albuquerque acredita que não precisava mais do que os dedos das duas mãos para chegar ao número de vezes em que faltou aos treinos. “Só falho ou por doença, ou por causa de trabalho. E tenho alguém em casa que me dá nas orelhas. A minha mulher, o meu braço direito, sofre bastante com isso. Ela sabe que se eu assumi o compromisso com o clube, é para ir até ao fim. Quando saí do Farminhão parei de jogar à bola por causa do meu filho. Uma vez fui lá ver um jogo e disseram-me que só precisava de ir à sexta ao treino e jogava no domingo. Recusei. Eu se aceitasse o desafio tinha de ir aos três treinos. “Quando assumimos um compromisso, é como se fosse com um patrão”, defende.

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Equipa do Farminhão com Albuquerque a titular

O miúdo “baixinho” que chamou à atenção numa captação para o Académico de Viseu
Na longa carreira, lembra ainda hoje o momento em que veste a camisola do Académico de Viseu no escalão de juvenis. “Jogar no Académico de Viseu era o sonho de qualquer um. Havia poucos clubes formadores em Viseu e para jogarmos lá fazíamos um teste. Se interessasse, interessava. Agora não. Até pode não saber jogar futebol, mas se os pais pagam, o filho lá anda”, diz.

Nesse dia, quando fez o treino, que serviu de teste, no chamado “campo dos cavalos”, o atual campo de futebol de 7 do Fontelo, a revelação chegou no fim. “O treinador disse à minha mãe para levar o bilhete de identidade e uma fotografia minha. Lembro-me de ela lhe dizer que eu era muito baixinho e de ele lhe responder para não se preocupar”, relembra.

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Foto Carina Cunha Fotografia

O Académico havia de subir de divisão nesse escalão, nesse ano, mas o trabalho obrigou Albuquerque a parar de jogar futebol. Até aparecer o Atlético Clube de Travanca. E o Farminhão. “Ainda hoje digo que, se não tivesse transformado em Académico de Viseu, se ainda existisse e ainda me quisessem lá, eu nunca sairia de lá”, confessa. “O Farminhão tinha o que hoje o Santacruzense me dá: o conceito de família. Deixei de ganhar muito dinheiro por não querer deixar o Farminhão”, assume.

Hoje, em Santa Cruz da Trapa, diz sentir-se “bastante importante e útil para a equipa”. “Estar a carreira a chegar ao fim neste clube é muito bom. Sinto-me acarinhado, gostam de mim”, revela. Foi precisamente no Farminhão, enquanto jogador do clube, que viveu um dos momentos mais marcantes da carreira. Situação que acabou também por ser determinante para o Académico de Viseu.

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Albuquerque nos estúdios da Rádio Jornal do Centro


A tristeza de ver o Farminhão abandonado
Na tentativa de salvar o Académico de Viseu, o Farminhão mudou de nome. Em 2005, em assembleia de sócios, foi aprovada a mudança de nome de Grupo Desportivo de Farminhão para Académico de Viseu Futebol Clube. Houve 68 votos a favor, duas abstenções e 14 votos contra. O futebol profissional do Académico ‘ressuscitou’, então, em Farminhão. “Não foi fácil. Foi até um pouco esquisito. Uma semana ia avançar, na outra, já não. A época começou e não sabíamos que clube íamos representar, se jogávamos em Farminhão, se no Fontelo”, assume.

Uma semana antes de o campeonato iniciar, o grupo de trabalho começa a treinar. “Uma semana antes”, reforça Albuquerque. Ainda hoje, assume, não entendeu bem o que aconteceu. “Tenho sobrinhos que são ferrenhos do Académico e digo-lhes que o Académico nasceu em 2005, não é de 1914. É a realidade, na minha opinião. O outro, fechou e o contribuinte que tem é o antigo do Farminhão. Podem dizer que o Académico é de mil novecentos e setenta e tal, que é a data de fundação do Farminhão”, frisa.

Na verdade, o clube de Farminhão nasce em 1974. “Quando passo em Farminhão e vou ver aquele campo fico triste porque passei ali muito domingo e muito treino num clube que me diz muito. Ainda hoje digo que o Farminhão é o meu clube da distrital”, assume. “O Farminhão salvou o Académico, que escusou de começar a competir na terceira divisão distrital”, frisa.

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Equipa do Santacruzense clube atual de Albuquerque

Saudades do futebol? Sim. Do balneário? Ainda mais
Passeando pelos clubes que já representou, diz deles sentir, de todos, “saudades”. “O que levamos do futebol distrital são os amigos”, resume. Numa comparação ao que se vê hoje, há só diferenças. “Hoje só não aprende quem não quer. Há televisão, há tudo. Eu sou do tempo do Domingo Desportivo, com resumos de dois minutos e pouco mais. Passava na televisão no máximo um jogo por semana. Agora, não. Só não vê futebol e só não aprende, quem não quer”, justifica Albuquerque. O onze da sua vida, numa equipa onde “era titular”, fica para escutar no podcast.

E na imagem do fim da carreira só está uma coisa: o último passo que der no balneário. “O que vou ter mais saudades não é dos jogos, mas sim, do balneário”, refere. Sem querer falhar com ninguém, lá vai dizendo que por agora quer terminar esta época. A carreira, logo se vê.

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