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Quem diria? Em 2019, uma obscura classicista espanhola, Irene Vallejo, vê o seu ensaio sobre a história do livro e da escrita na Antiguidade subir ao top de vendas nacional e, logo de seguida, serem-lhe atribuídos diversos prémios, entre os quais o Prémio Nacional de Literatura de Espanha. Como é que um tema tão pouco atraente nos tempos contemporâneos se torna o grande best-seller do primeiro período de confinamento no país vizinho e, ainda por cima, um êxito internacional?
É que a autora soube criar uma espécie de grande romance de aventuras e maravilhamento a partir de dois momentos especiais que definem duas importantes civilizações: o Egipto Helénico, que fez nascer esse brilhante farol, não isento de episódios menos recomendáveis, que foi a Biblioteca de Alexandria, e a Roma Antiga, onde floresceu uma cultura literária brilhante e dinâmica e de cuja obsessão pelos livros, da parte dos nobres patrícios, Séneca dizia dever mais à decoração do que à efectiva leitura.
Para a frente e para trás, o leitor acompanha a criação dos primeiros alfabetos, dos catálogos de bibliotecas, o comércio e as vicissitudes do papiro e o aparecimento do pergaminho como suporte da escrita, levantando o véu para o papel desempenhado nesta saga pelas eternas minorias: mulheres, escravos, analfabetos.
A escrita é clara e escorreita, por vezes talvez demasiado familiar, mas próxima do leitor, aliciando-o para uma viagem em companhia de Alexandre, o Grande e de Ptolomeu ou Cleópatra, de Homero e da tradição oral que a escrita permitiu fixar, de Sapho e de Séneca ou da mártir Hipatia, a primeira mulher matemática, massacrada por uma juba de cristãos.
Paz e violência, criatividade e comércio, conhecimento e vaidade, liberdade e censura entrelaçam-se nesta viagem encantatória que a autora, a espaços, também traz para o presente.
O infinito num junco, de Irene Vallejos (Bertrand, 2020), está à sua espera, leitor, em qualquer livraria ou biblioteca, que já podem ser visitadas com confiança.
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