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Filhos de Abel

 Filhos de Abel
30.06.21
fotografia: Jornal do Centro
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 Filhos de Abel
13.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Filhos de Abel

Passear é conhecer outras casas enquanto trazemos a nossa até outros lugares. A casa-corpo da Catarina, a casa-tempo da Rita e do António, a casa atlântica e pacífica do Hugo, a casa-mundo, interior e exterior do Diogo, a casa que é nossa e que encontramos sem querer na casa dos outros, a casa da avó da Patrícia, a casa-floresta do David, a casa-câmara escura da Beatriz Gaspar ou a casa-aldeia-do-meu-avô da Beatriz. Passear é trocar de chaves como faz o Miguel, é reencontrar a calma e o centro ao lado da Ema, é o que encontramos noutras casas para depois descobrir nas nossas. ?“Os Filhos de Abel” é o exercício final dos alunos do terceiro ano da Escola Superior de Teatro e Cinema que nasceu durante o segundo confinamento este ano. Perante o edifício da Escola fechado, e perante a impossibilidade de nos reunirmos num palco ou numa sala para ensaiarmos juntos, lançámos um repto: Porque não construir um espetáculo a andar? A passear uns com os outros, lado a lado, e a contar histórias e a percorrer caminhos? Partimos de vale formoso, de Miranda de Arcos de Valdevez, do porto de Lisboa, de Sesimbra, da Vila de Serva mas também de Praga, do Sobral de Monte Agraço ou do Barreiro.  
Iniciávamos os nossos encontros na plataforma zoom às 9 da manhã e partíamos com mapas, com ideias, com sugestões, e com propostas de trabalho para cada dia. Ao final de cada passeio, reencontrávamo-nos no quadradinho do zoom, conversávamos, trocávamos impressões, escrevíamos, propúnhamos novos passeios uns aos outros, convidávamos alguém próximo com quem coabitávamos a passear connosco.
Estes passeios deram-se um pouco por todo o país e talvez por isso este espetáculo esteja tão cheio de geografia.
Foi de um passeio de um dos alunos, o David Costa, e do que descobrimos sobre a construção de novos Passadiços em Arcos de Valdevez que nasceu a ideia de terminar a nossa residência artística em Miranda, no cume da montanha, onde a 26 de junho, no sábado passado, fizemos a antestreia deste espetáculo.
Talvez por isso este projeto esteja tão cheio de coração, tão carregado de nós, das nossas vidas e das nossas aflições do momento, de tudo aquilo que somos agora.
Talvez por isso este projeto esteja tão cheio de boas memórias e tão ligado aos lugares por onde passa.
Vamos finalmente estrear este projeto no Teatro Viriato, um sonho tornado realidade num lugar que não é de nenhum de nós mas que nos acolheu de braços abertos. ?Vamos terminar o curso de interpretação deste ano, e depois de múltiplas peripécias e frustrações da única maneira possível: em cena e em diálogo próximo com os espectadores viseenses e com uma cidade que, sentimos, também é um bocadinho nossa e que entre 5 e 7 de julho será habitada por muitos outros lugares que traremos connosco. Apareçam!

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Patrícia Portela, diretora artística do Teatro Viriato

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