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Aristides de Sousa Mendes já tem honras de Panteão Nacional. O antigo cônsul natural de Cabanas de Viriato foi homenageado esta manhã de terça-feira (19 de outubro) em Lisboa.
No Panteão Nacional, Aristides de Sousa Mendes tem uma urna sem corpo, sendo que os restos mortais permanecem na terra natal. O ex-diplomata salvou milhares de pessoas do regime nazi e do Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial, desobedecendo assim às ordens do governo então liderado por Oliveira Salazar.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, salientou que esse feito mudou o país e o mundo.
“Aristides de Sousa Mendes mudou a história de Portugal e projetou Portugal no mundo. Mudou a história de Portugal nesse momento trágico chamado genocídio em plena guerra mundial. Porque de genocídio se tratava, já na perseguição de comunidades, que haveria de acabar em Holocausto”, afirmou.
O chefe de Estado acrescentou que o ex-cônsul de Bordéus também conseguiu projetar Portugal “no universo, desde o reconhecimento a um dos Justo entre as nações em Jerusalém ao respeito e à veneração na Europa, nas Américas, na África, nas Ásias, onde quer que haja descendentes dos descendentes daquelas e daqueles que ajudou a salvar”.
Marcelo disse ainda que Portugal se curva perante a personalidade moral de Aristides de Sousa Mendes, “eternamente grato”, recordando-o “hoje e para sempre”. “Aqui entrou Aristides de Sousa Mendes e aqui permanecerá até ao fim dos tempos, se os tempos tiverem fim”, declarou.
Também o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, evocou Aristides recordando as vidas salvas pelo antigo cônsul. O político disse que, graças ao gesto do natural do concelho de Carregal do Sal, “estima-se que em 1940 mais de 30 mil vidas tenham sido salvas do horror nazi”. Um ato que foi sendo classificado mesmo “como provavelmente a maior ação de resgate feita por um único indivíduo durante o Holocausto”.
“Todos concordarão que o exemplo de generosidade e de coragem de Aristides de Sousa Mendes engrandece Portugal e prestigia o povo português. Tenho a certeza de que a maioria das pessoas gostará de pensar que, se alguma vez estivesse perante um dilema equivalente, escolheria não olhar para o lado e tomar a decisão ética, enfrentando as consequências. Felizmente, poucos de nós são confrontados na vida real com tal dilema”, afirmou Ferro Rodrigues.
O presidente do Parlamento disse ainda que, passadas oito décadas depois do gesto de Aristides, vê “com sobressalto” o crescimento dos fenómenos de ódio racial, homofobia, antissemitismo e “recusa do outro”. “Vemos que, pela Europa e pelo mundo fora, se verifica que o registo histórico do sucedido pode não ter ficado suficientemente enraizado na memória coletiva das democracias que desde então foram emergindo”, lamentou.
Por isso, Ferro Rodrigues espera que as honras de Panteão Nacional contribuam para perpetuar a memória de Aristides de Sousa Mendes.
Já o primeiro-ministro, António Costa, fala numa consagração importante para o ex-diplomata, tendo defendido que os seus valores devem ser lembrados e servir de inspiração para a atualidade porque “as perseguições não acabaram com a Segunda Guerra Mundial”.
“As perseguições não acabaram com a Segunda Guerra Mundial, nem a necessidade de assegurar proteção internacional terminou com aquele período”, apontou.
Costa disse ainda que, “infelizmente, a História tem demonstrado que aquilo com que Aristides de Sousa Mendes foi confrontado continua a ser uma realidade de hoje e, por isso, é muito importante que estes valores sejam lembrados por homenagem devida aos atos que foram praticados no devido tempo, mas também como inspiração para aquilo que temos que continuar a fazer e para manter bem vivos estes valores”.
O primeiro-ministro disse ainda que hoje se vivem “novas realidades”, mas que no fundo o que está em causa “é exatamente o mesmo: a proteção da dignidade da vida humana, a proteção das vidas, daqueles que buscam salvação”.
Na cerimónia, coube a Margarida de Magalhães Ramalho, investigadora e coautora do Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes, o elogio fúnebre ao mais famoso diplomata português, durante o qual recordou a perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, que terminou com seis milhões deles mortos, entre outros que o nazismo perseguiu.
Durante o conflito, recordou, “os que estavam em fuga apenas queriam chegar ao sul de França e passar a fronteira. Tarefa nada fácil, pois tinham de ter válidos quatro vistos: saída de França, entrada em Espanha, que pressupunha uma entrada em Portugal, e esta pressupunha um visto definitivo para outro país”.
“É neste contexto de angústia e desespero generalizados que Aristides Sousa Mendes, que desde o início da guerra vinha emitindo alguns vistos à revelia da circular 14, o que lhe custou várias chamadas de atenção, decide, a 17 de junho, ao fim de três dias de uma enorme luta interior, escutar a voz da sua consciência e, ao arrepio das ordens de Lisboa, começa a emitir vistos a toda a gente, ordenando aos consulados dele dependentes que fizessem o mesmo”, referiu.
Nesta sua decisão, Aristides Sousa Mendes pode contar com o apoio condicional da sua mulher e filhos, recordou a investigadora, segundo a qual, graças ao “ato de consciência” do diplomata, pelo menos 10 mil pessoas entraram em Portugal, fugindo ao horror da perseguição nazi.
Foi pelas 12h03 que se formou o cortejo na nave central do Panteão Nacional constituído por assistentes parlamentares, o chefe do protocolo do Estado e secretário-geral da Assembleia da República, o Presidente da República, o primeiro-ministro, o presidente do parlamento, Silvério de Sousa Mendes (familiar de Aristides de Sousa Mendes), o coordenador e membros do grupo de trabalho parlamentar responsável por definir o processo de concessão de honras e o diretor do Panteão Nacional.
O cortejo dirigiu-se até à sala 2 do Panteão, onde se procedeu ao descerramento da placa evocativa da homenagem a Aristides de Sousa Mendes e a bandeira nacional foi dobrada por militares da Guarda Nacional Republicana.
Aristides de Sousa Mendes nasceu em Cabanas de Viriato a 19 de julho de 1885, e morreu em abril de 1954, no Hospital Franciscano para os Pobres, em Lisboa.
Pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, Aristides assume funções como cônsul em Bordéus, França, onde viria a desobedecer às ordens vindas do Governo português liderado por António de Oliveira Salazar. Em 1939, Portugal emitiu uma diretiva apelidada de “Circular 14”, que condicionava a emissão de vistos aos refugiados por diplomatas portugueses, sem autorização prévia.
Aristides de Sousa Mendes salvou milhares de judeus e outros refugiados do regime nazi, emitindo vistos à revelia das ordens da ditadura – a maioria entre 12 e 23 de junho de 1940 – o que lhe valeu mais tarde a expulsão da carreira diplomática, acabando por morrer na miséria.
Em 1966, o Memorial do Holocausto, em Jerusalém, prestou-lhe homenagem, atribuindo-lhe o título de ‘Justo entre as Nações’.
Em Portugal, em abril de 1988, a Assembleia da República decretou, por unanimidade, a reintegração, a título póstumo, na carreira diplomática do ex-cônsul em Bordéus, reconhecendo-se também o direito a indemnização reparadora aos herdeiros diretos.
Aristides foi também condecorado, a título póstumo, em 1986, com o grau de Oficial da Ordem da Liberdade e, em 1995, com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, ambas pelo Presidente Mário Soares e mais recentemente em 2016, com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, por Marcelo Rebelo de Sousa.
O processo de concessão de honras de Panteão Nacional a Aristides foi aprovado na Assembleia da República em julho de 2020 na sequência de um projeto de resolução proposto pela deputada não inscrita Joacine Katar Moreira.