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“Rússia, Europa, América — O Caminho Para o Fim da Liberdade”, de Timothy Snyder, é um livro indispensável para quem queira perceber Vladimir Putin, a forma como actua e o perigo que representa.
Aquele historiador norte-americano, professor na Universidade de Yale, designa como “política da inevitabilidade” a crença ingénua, e muito em voga logo a seguir à queda do muro de Berlim, de que os valores liberais iam ser adoptados em todo o mundo.
De facto, prevalecia então “a ideia de que o futuro é apenas mais do presente, de que as leis do progresso são conhecidas” e inevitáveis: “na versão capitalista americana desta história, a natureza criou o mercado, que criou a democracia, que criou a felicidade” e “na versão europeia, a história criou a nação, que aprendeu com a guerra que a paz era boa, e por isso escolheu a integração e a prosperidade.”
Ora, virado o milénio, este sonho do consenso democrático e do progresso perpétuo começou a sofrer sucessivos golpes: o 11 de Setembro de 2001, a guerra do Iraque de 2003, a crise financeira de 2008, o falhanço dos países do leste, a frustração da primavera árabe, o terrorismo, a desigualdade e as suas oligarquias.
Quando, em Maio de 2000, Vladimir Putin se tornou o líder da Rússia assumiu como prioridade pôr ordem no país que o seu predecessor, Boris Iéltsin, tinha deixado de rastos. Na primeira década de poder, criou uma estrutura clientelar mafiosa centralizada no Kremlin, reforçou a máquina militar e não abriu hostilidades com o Ocidente. Pelo contrário, fez charme às elites europeias, a começar pelas alemãs.
(Só um exemplo desta “harmonia”: em 20 de Novembro de 2010, o então presidente russo Dmitri Medvedev — um pau mandado de Putin, como se sabe — veio a Lisboa assinar um “acordo histórico com a Aliança Atlântica” de cooperação nos sistemas de defesa anti-míssil.)
Regressemos ao livro de Timothy Snyder.
Como vimos, sucessivos golpes desmoronaram o consenso liberal da “política da inevitabilidade”. Esse desastre constituiu uma oportunidade para os políticos que não querem ou não são capazes de melhorar a vida dos seus cidadãos. Chegamos então, segundo Snyder, à “política da eternidade” que tem a arte de convencer as pessoas que o progresso é impossível porque a nação está sempre debaixo das mesmas e eternas ameaças, que há um inimigo e que ele “virá independentemente do que fizermos.”
Os “políticos da eternidade”, como Putin, “manufacturam crises” e, “para distraírem as pessoas da sua incapacidade ou da sua relutância em promover reformas”, “incitam os cidadãos a sentir exaltação e ultraje com uma periodicidade curta, afogando o futuro no presente”.
E, claro, para se tornarem credíveis, eles “desvalorizam e destroem as obras dos países que podem parecer modelos para os seus cidadãos.”
É a especialidade de Putin: enquanto rouba as riquezas e o futuro do povo russo, vai-o mantendo numa bolha de “eternidade”, diabolizando o “inimigo” externo, “inimigo” que, nos media controlados pelo Kremlin, adquire formulações estranhíssimas, como, por exemplo, entre muitas outras, a “ameaça” gay que o patriarca Kirill da Igreja Ortodoxa Russa vê na Ucrânia.
A partir de 2012, com o seu poder consolidado, com os seus adversários políticos envenenados com novichok ou presos, Putin passou à ofensiva fora de portas: criou um exército de hackers para sabotar as instituições ocidentais, tratou de financiar partidos de extrema-esquerda, de extrema-direita, nacionalistas e secessionistas dentro da UE, em 2014 invadiu a Crimeia e o Donbas e quase destruiu a democracia ucraniana, em 2016 conseguiu o Brexit e a eleição de Trump.
O livro de Timothy Snyder documenta, com detalhe, todas estas movimentações do ditador russo, todo o entorno mental e filosófico da sua política da eternidade, todas estas derrotas das democracias liberais.
Parece que agora, perante a invasão da Ucrânia, o Ocidente acordou. Vale mais tarde do que nunca.
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