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Violência Contra a Pessoa Idosa é um problema que ainda precisa ser debatido

 Violência Contra a Pessoa Idosa é um problema que ainda precisa ser debatido
16.06.22
fotografia: Jornal do Centro
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 Violência Contra a Pessoa Idosa é um problema que ainda precisa ser debatido
12.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Violência Contra a Pessoa Idosa é um problema que ainda precisa ser debatido

A violência contra a pessoa idosa é definida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como um “ato único ou repetido, ou falta de ação apropriada, que ocorre em qualquer relacionamento onde exista uma expectativa de confiança que causa danos ou sofrimento a pessoa idosa”.

Existem diversas classificações de tipos de agressão à pessoa idosa, que vão de violência física e psicológica à violência sexual e violência económica financeira, bem como negligência e abandono. 

Segundo os estudos efetuados a nível nacional e internacional, grande parte das agressões acontece no núcleo familiar, sendo a maioria das vítimas do sexo feminino e estando na idade entre os 60 e os 69 anos. A violência é perpetuada, principalmente, pelos cônjuges ou filhas (os).

Panorama Nacional

Um estudo feito pela APAV (Associação Portuguesa de Valorização à Vítima), entre 2013 e 2018, indica que esta Associação registou 6.878 processos de apoio as pessoas idosas, sendo 5.482 vítimas de crime e violência. O estudo aponta ainda que o número de agressores (contabilizados no mesmo período) foi maior do que o número de vítimas, chegando a 5.754, o que leva a concluir que existem pessoas idosas que são vítimas devários agressores em simultâneo. 

No relatório anual publicado pela APAV, referindo-se ao ano de 2020, foram registadas 1626 vítimas de violência, ou seja, mais 20% do que que em 2018. O estudo mostra ainda que o número de pessoas idosas vítimas de violência duplicou nos últimos 8 anos, o que levou a mais de 8.500 vítimas no país.

No mais recente relatório da associação, referindo-se ao ano de 2021, foram 1.594 as queixas. Verifica-se uma diminuição considerável em relação ao ano anterior, porém, os números são ainda preocupantes, destaca o estudo. Em 2021, 70% das vítimas foram mulheres que tinham em média 76 anos e 26,2% das agressões foram feitas por filhos (as) das vítimas e 16,5% por cônjuges.

Panorama local

No Distrito de Viseu, segundo os dados fornecidos pela GNR ao Jornal do Centro, em 2021 foram registadas 131 queixas de violência contra a pessoa idosa. Já este ano, as queixas foram 62 em 6 meses, valor que chega próximo a metade do ano passado completo. Das 62 queixas apresentadas, houve apenas um agressor detido.

Já o Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência Doméstica do Distrito de Viseu (NAVVD) registou no ano passado 26 vítimas com 65 ou mais anos e este ano foram registadas 9 queixas de pessoas com 65 ou mais anos, relativamente ao período de janeiro a maio.

José Carreira, viseense e fundador da Revista Envelhecer, dedica-se há 20 anos ao terceiro setor e diz que a violência contra pessoas idosas “está a crescer” e que este é um “fenómeno que ainda é invisível” porque “a sociedade ainda não dá a devida atenção ao problema”, mesmo que seja a “terceira maior forma de discriminação, estando atrás do racismo e do sexismo”.

Segundo o ativista, a grande maioria das vítimas sente-se “inibida a apresentar queixa” especialmente pelas agressões surgirem, na sua maioria, pelos familiares das próprias vítimas.

“O principal motivo das agressões tem que ver com a forma que as pessoas mais velhas são vistas pela sociedade. São vistas de maneira estereotipada e muitas vezes olhadas como um fardo para os seus familiares e não como pessoas de pleno direito”.

José Carreira faz ainda uma crítica a um problema recente, que é o ‘culto à juventude’. “As pessoas tem um constante medo de envelhecer, mesmo que seja um processo natural. E este medo do envelhecimento é algo que damos o nome de ‘velhofobia’ “, afirma, dando como exemplo uma declaração feita por Kim Kardashian em que a socialite afirmou que “se me dissessem que tinha que comer fezes todos os dias para ser jovem, talvez o fizesse”. Esta “imagem imensamente negativa da pessoa idosa” e do ser idoso contribui para a invisibilidade da problemática bem como para o agravamento das violências, salienta José Carreira.

“Não basta ser apenas à favor das pessoas mais velhas, é preciso ser anti-idadistas e lutar contra este problema, é preciso também de legislações voltadas para esta temática, pois todos nós um dia podemos ser vítimas”, acrescenta.

Para denunciar casos de agressão contra pessoas mais velhas poderá contactar o Núcleo de Atendimento as Vítimas de Violencia Doméstica do Distrito de Viseu (NAVVD) através do contacto: 916 939 640 ou pelo e-mail navviseu@gmail.com , bem como para Associação Portuguesa de Apoio a Vítima (APAV) através número: 116 006. O Dia Mundial da Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa assinalou esta quarta-feira, data para relembrar um problema social onde ainda há muito a melhorar.

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