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Diogo Costa tem 23 anos e é um lusodescendente com ligações a Lambeth, em Londres. Foi no dia 5 de maio de 2022 que os votos das eleições ditaram Diogo Costa como vereador do Município de Lambeth (a sul de Londres) pelo Partido Trabalhista. Com família em Mangualde, no distrito de Viseu, representa atualmente a comunidade lusófona que abrange milhares de portugueses, no bairro de Oval. Lambeth tem cerca de 326 mil pessoas, das quais a segunda comunidade mais representativa é a portuguesa. O Jornal do Centro encontrou o jovem que conta o seu percurso de vida política
Como surgiu a vontade de se envolver num sistema político? A sua infância e juventude em Lambeth influenciou essa decisão?
Sim, desde jovem que me interessava a política porque com 16 anos tive, enquanto disciplina, ciência política no 11º e no 12º aqui Reino Unido. E, depois, vi alguns eventos políticos a acontecer como, por exemplo, a independência da Escócia, o Brexit e as eleições de 2015 onde vi o povo britânico votar. Tudo isto me interessou e eu queria fazer parte de algo para mudar o estado do país. Com o apoio dos meus professores, concorri a presidente da Câmara da Juventude em Lambeth, candidatei-me e ganhei. Tive um mandato de dois anos e gostei da experiência. Assim, como fiquei filiado a um partido e alcancei funções dentro desse, quando surgiu a oportunidade para me candidatar como vereador de Oval decidi concorrer.
Na sua opinião, com que idade é que as pessoas começam a ter consciencialização política?
Acho que eu sou um dos poucos casos onde os jovens estão interessados na política. Os jovens devem ter interesse por este domínio, mas a escola e a educação dos pais podem ser os fatores que comprometem esse interesse, pois não ensinam coisas sobre política. Na minha escola eu tinha aulas também de cidadania e os direitos e os deveres do cidadão deixaram-me na altura muito curioso em percebê-los. Então comecei a estudar o sistema político e governamental e apercebi-me que tudo é política. Quando nascemos, já temos política a afetar a nossa vida. Os serviços de saúde e a educação por exemplo, são subordinados por um sistema político. Há uma falta, especialmente, no Reino Unido, de tentar ensinar e educar sobre o sistema político e de incentivar os jovens porque os mais novos pensam que não lhes afeta e por isso mantêm-se distantes da política. Acontece o mesmo com pessoas de mais idade.
Qual é a sua formação profissional e como é que isso influência o trabalho na Câmara para a qual foi eleito?
Tirei um curso de Ciências da Computação e outro de engenharia de sofware, porque os computadores também eram outros dos meus interesses na escola primária. Desde muito novo, eu sabia que não queria estudar uma área que fosse política, porque as pessoas não precisam de estudar política para fazer política. Informática é uma área onde eu ajudo as pessoas e, assim, tenho em emprego que não é política. Eu não gosto de dizer que tenho uma carreira política, eu só a faço no meu tempo livre. Um vereador não recebe um salário, então não conseguiria viver como vereador. Trabalho como engenheiro informático no centro financeiro de Londres, o meu emprego full-time das 9h às 17h30. O trabalho de vereador é feito de noite ou no fim de semana, com reuniões nos comités da Câmara.”
O que significa para si política?
Política para mim é tomar decisões, e abordar os temas e os problemas que existem em sociedade. No meu bairro, como vereador, vejo problemas como a recolha do lixo, as estradas, os estacionamentos ou licenças para as empresas como, por exemplo, horários mais alargados. Ter opiniões e vontade de mudar problemas sociais é política.
A comunidade de Lambeth apresenta necessidades sociais ou outras que precisam de ser mudadas?
Em Lambeth há uma grande comunidade de lusodescendentes, desde madeirenses e mangualdenses e o maior problema é a integração. A emigração para Lambeth aconteceu nos anos 70, 80 e 90. Estamos a falar de pessoas que emigraram para conseguir empregos que não necessitam de qualificações altas. Um dos problemas são os emigrantes falarem pouco a língua inglesa. Quem quer ir ao médico pede o acompanhamento de familiares que já nasceram no Reino Unido, ppor exemplo. Outro problema são os salários baixos e as rendas de habitação caras. Existe uma emigração interna dos lusodescendentes para o sul do município, porque as rendas são mais baratas.
Que papel fundamental têm os cidadãos na vida política?
Infelizmente, não há grande representação portuguesa no bairro, embora o português seja a segunda língua mais falada depois do inglês. Os portugueses conseguem votar localmente, mas há uma falta no sistema de ligação de conhecimento sobre o sistema político e de como este pode ajudar os portugueses. Têm direito a votar, mas muitos não votam porque pensam que os políticos são todos iguais e ainda comparam muito com o sistema político português. Há outros que não têm vontade de votar, mas acredito que quem nasceu cá depois da ditadura, tem mais interesse. Os emigrantes mais recentes, que vieram depois da troika, são pessoas com licenciaturas e que não conseguiram trabalho em Portugal e apesar de muitos não estarem em Lambeth votam nas eleições britânicas.
Que projetos tem a Câmara de Lambeth para ajudar na integração?
A Câmara de Lambeth já começou um programa – “Somos Lamnbeth”- para identificar o problema e tentar resolver, ao intervir nas escolas e dar apoio aos alunos portugueses. Já temos uma escola a dar bons resultados após a inserção deste programa e por isso queremos continuar a colocá-lo em outras escolas primárias.”
Qual o peso e importância de representatividade da comunidade lusófona na política inglesa?
Se consultarmos as estatísticas de residências permanentes da União Europeia, a comunidade portuguesa está no 5º ou 6º lugar com mais de 300 mil pedidos de residência permanentes, portanto é uma comunidade portuguesa é grande.
O que considera mais distinto da política inglesa para a portuguesa?
No Reino Unido quando votamos, não votamos num partido, mas sim para um candidato individual. Claro que há um partido num boletim de votos juntamente com o nome do candidato, mas são eleições para uma só pessoa. Durante a campanha, os candidatos atendem o público, ou seja, os cidadãos podem consultar o candidato para falarem dos problemas, deixarem queixas ou tirarem as suas dúvidas. Também podem consultar por e-mail ou por telefone. Eu represento o bairro de Oval e existem três vereadores e eu sou um deles. Nas eleições os cidadãos podem votar até três candidatos individuais. Existe assim uma conexão entre o político e o leitor.
De que forma a política pode construir melhores condições à população lusófona de Lambeth?
Tentamos sempre aplicar políticas favoráveis aos trabalhadores e à classe operária porque é um bairro controlado pelo Partido Trabalhista. Para além disto, estamos numa crise climática, com uma poluição do ar horrível e já estamos a fazer modificações às nossas ruas para reduzir o uso de carros e aumentar o uso de bicicletas, transportes públicos e incentivar a prática de caminhadas. Já há crianças no Reino Unido a nasceram com asma, por isso queremos cooperar na saúde das pessoas que cá estão e no bem-estar das próximas gerações. Vivermos num bairro limpo é um dos grandes objetivos que queremos alcançar.
Que perfil é que acha que um bom político deve ter?
Um bom político deve ser honesto com as pessoas e tentar fazer o máximo para mudar a vida dos cidadãos. Há coisas que eu gostaria de fazer, mas não faço promessas que eu sei que não consigo concretizar.
Projetos para o futuro?
Já trabalho desde os 19 anos e a minha carreira de engenheiro começou agora, por isso estou concentrado em ganhar mais experiência na área da programação. Politicamente, vamos ver como estes quatro anos de mandato vão correr, mas quero sempre ajudar o povo de Lambeth.