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Ponho todo o meu sonho no Belo, mas o ruído sufoca-me. Quero respirar a pureza das montanhas, mas a estupidez agride-me. Há muito que não creio na salvação do mundo, já só quero salvar-me, mas sobre mim a espada do veneno e fel. Fiz do conhecimento o meu ideal, mas a ignorância veste-se de rainha para melhor arruinar o meu quotidiano. O meu esforço concentra-se na elevação espiritual, mas a mediocridade reclama por mais território.
Em silêncio grito a delapidação dos dias.
Sei dos segredos da infância,
das horas carregadas de sombras,
sei das ruas acotoveladas de medo,
do olhar manchado de cansaços.
Mas procuro a luz de um gesto, o teu,
a cor que permanece no limiar de uns lábios, os teus,
os cavalos fogosos que incendeiam um corpo, o teu.
És para mim Paris.
Nas tuas mãos nascem as manhãs
e as palavras que sabem ao vento que passa,
delas se alimentam as ervas e os pássaros
que por dentro de nós insubmissos ardem.
Mas tenho um plano. Para salvar a vida. Para salvar a alegria de estar vivo. Para salvar ainda alguma pureza da alma. Para salvar o que permanece de belo nos meus sonhos de adolescente. Para salvar o sonho. Para salvar a canção de infância. Para salvar o deslumbramento. Ainda estou a tempo de aprender. É preciso aprender a pensar. Sem sentimentalismos ou ressentimentos. Com inteligência. Para ser digno da vida e da alegria. Tenho um plano, amor, uma estratégia planeada. Esperar-te. E para o nosso encontro desejo ser por inteiro, autêntico, homem e criança, poeta e responsável, amante, sonhador e racional.
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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