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Foi a mais bela carta alguma vez escrita pela Fátima. Comoveu-me tanto que permaneci deitado na cama do meu quarto a relê-la vezes sem conta. Aquelas páginas tinham sido ditadas pelo coração e processadas pelo cérebro de uma antiga vendedora de perfumes de um zona comercial. Que percurso ela fizera desde então, e sobretudo sem perder a graça, sem deixar que a miséria do mundo maculasse a sua pureza, já adulta mas ainda tão adolescente, responsável mas marginal aos cárceres da vida social. O milagre acontecera na minha vida e eu quase só por acaso não o arruinei. Um pouco mais de leviandade e tudo se teria diluído em quimeras ou em insignificâncias. Porque sou obsessivo com o factor biológico quando ocorrem aquelas tempestades irreprimíveis de cio. Deixo de ser dono de mim, alieno-me, saio à rua como um animal à procura da presa. A única desculpa que me alivia é que não vou com qualquer uma. Seleciono o alvo. A mulher tem que ter algo que a distinga da vulgaridade, ou a geometria do corpo ou a franqueza do olhar ou um certo calor humano.
Posso evitar alguns erros. Tornar-me mais cauteloso. Mas isto não opera nenhum milagre: não serei uma pessoa menos marcada pelo pecado. E a noção de pecado é tremenda para mim, esmaga-me, magoa-me, inibe-me mas não me emenda. Por enquanto continuo sem saber muito bem como desfazer o nó que me atrofia. O problema é a solidão. Sinto-me sozinho. Mesmo acompanhado de uma mulher, na cama com ela, uma certa tristeza não me abandona, mas o orgasmo alivia-me por momentos, às vezes por semanas.
22 de Maio 1982
Qual o caminho? Fumo umas coisas, bebo uma cerveja, assisto ao filme musical dos «Genesis», e ando pelas ruas de Coimbra, perdido em obsessões, sozinho. Chego a casa, escrevo, o pôr-do-sol acariciando vermelho o perfil do casario, saio, subo as calçadas, penso, penso em como a existência se vai por aqui derretendo, incolor, o tempo a fugir, a idade a criar raízes no deserto, a sensação doloroso de já ter um passado, o pensamento de uma mulher a devorar-me interiormente, e observo os colegas tão limitados, superficiais, cansam-me de tanta chateza, quero horizontes rasgados que a minha alma não me cabe mais nos bolsos desta cidade. Hei-de libertar-me, saltar o muro, desfazer-me desta pele, agarrar o sol e fugir.
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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