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Jorge Marques
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Ao fim de 4 suados anos, Marta Temido caiu com estrondo. Nada que não se antevisse para breve, acossada que estava de todos os lados.
Superou com estoicismo a pandemia, dando a cara nas conferências de imprensa fastidiosas, e foi o rosto do que se dizia ter sido um sucesso à escala europeia.
Mesmo contradizendo-se, e com um percurso, por vezes, errático, foi positiva e simpática, não baixando os braços perante as adversidades que lhe chegavam de todo o lado.
Poucos terão sido os ministros sujeitos a uma provação tão arrasadora.
Verdade seja dita, não se lhe conheceu grande obra, sabendo-se, de antemão, como, em Portugal, enredado em lóbis e atolado em interesses, é difícil levá-las a cabo.
Sujeitou-se a um papel que poucos aceitariam, e isso, não sendo prova de validade, é, no entanto, atestado de coragem.
Mas como não foi perfeita, cometeu erros, e sucumbiu.
Coleccionou polémicas e frases infelizes, fruto, quiçá, da pressão mediática e da opinião pública a que esteve sujeita, meses a fio.
Insinuou que os enfermeiros eram “criminosos”, chamou de “pouco resilientes” os médicos, a quem teve de pedir desculpas, em resposta ao Estado paralelo, que é a Ordem dos Médicos, suspendeu a “PPP” com o hospital de Braga, invocando a indisponibilidade do parceiro de negócio, no que foi, de imediato, desmentida pelo “Grupo Mello Saúde”, ordenou uma sindicância, legal, mas inédita, à Ordem dos Enfermeiros, que a entendeu como uma perseguição, anunciou penalizações aos médicos que assistiram interrupções voluntárias da gravidez, para logo recuar nas penalizações nas sanções anunciadas, e enfrentou uma vaga de demissões dos administradores e directores clínicos de vários hospitais.
Em todos estes episódios, teve entradas de leão e saídas de sendeiro. É próprio dos fracos. Mais valera ter antes pensado na sua autoridade, e ir em frente, arrostando com as consequências.
Os 2 anos de pandemia, o caos nas urgências, a falta de obstetras em vários hospitais e a morte de uma parturiente, numa transferência hospitalar, ocorrida na semana passada, e só conhecida nesta, foram a gota de água que encheu o copo, e a fizeram desfalecer nas forças que um corpo franzino aparentava ter.
Escudada neste último episódio que, diga-se, já não se aceita de ânimo leve, num país dito evoluído, alegou não ter condições políticas para continuar a dirigir um serviço que não funciona e revela a cada dia que passa fissuras difíceis de soldar.
O PM, como é do protocolo e da etiqueta, agradeceu os seus serviços, e insinuou já não ter sido a primeira vez que tal pedido acontecera.
Este é o maior revés que o bronzeado PM, regressado de férias, enfrenta nestes 5 meses que já vão de maioria absoluta.
Depois de Pedro Nuno Santos, Patrícia Gaspar e Maria do Céu, esta foi outra dor de cabeça a somar às outras.
Para além da descoordenação que o anúncio da demissão revela, ser feito de madrugada e pela própria titular, o maior problema reside num outro facto, que aparentemente, passou despercebido, e que é o cerne da questão.
Disse o PM, com a habitual irritante soberba, que a maioria absoluta consolidou: “só há mudança de políticas, deixando abaixo o governo”.
Ora aí está a prova de como o PM é teimoso e está cego.
O problema não estava na ministra, como não virá a estar no que lhe suceder, outro desgraçado mártir para queimar na fogueira dos interesses, das cativações e dos bloqueios.
A questão não é de protagonistas, vá para lá outro ministro, que, mesmo com uma varinha mágica, lhe acontecerá o mesmo. A questão é de políticas, e se elas só mudam deitando abaixo o governo, está tudo dito. Teremos, então, de esperar que isso aconteça, ou teremos de continuar a conviver com eta miopia, que pode custar vidas.
Pagar a tarefeiros num dia o que se paga a um médico dos quadros, num mês, não lembra ao diabo. Se esta orientação não mudar, é normal que mais médicos saiam do SNS, e o caos continue. Se não mudar a média de admissão às Faculdades, o mais normal será que, daqui a nada, não haja médicos suficientes. Se os ordenados não forem atractivos, o seguro é que se procurem no privado outras condições salariais.
Muitos profissionais de saúde estão mal pagos, mal aproveitados, mal alocados, exaustos, e revoltados, e o SNS não funciona, só vale para os que, tendo subsistemas de saúde, podem ir ao privado convencionado, tratar-se a tempo, contornando as graves e recorrentes insuficiências daquele. Para os pobres, para os que não têm uma alternativa, só têm a Segurança Social no bolso, contam os cêntimos do pão, o SNS não funciona, os doentes têm de esperar uma eternidade, nas consultas, nos exames, nos tratamentos, fazem fila e pedem por favor, porque está tudo entupido e gasto. E muitos morrem pelo caminho.
Este SNS está caduco, podre, defunto, e foram os sucessivos governos que o estragaram com a incompetência com que o geriram.
Esta é uma verdade que o governo não pode iludir, sob pena de mentir, e, com isso, nos estar a enganar a todos.
Se continuar a haver rebuço em tocar nesta ferida, e purgá-la, mesmo com dor, ela vai gangrenar, com a amputação inevitável que se lhe seguirá.
E a prosseguirmos assim, confirma-se que as maiorias absolutas, quando cansadas e desgastadas, tornam-se relativas, num rápido, envoltas num relaxamento, num conforto, num amolecimento, que poderão ter o efeito contrário ao da esperada segurança na acção, lucidez de propósitos e transparência de políticas.
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Eugénia Costa e Jenny Santos