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1. Os leitores mais novos nunca viveram em inflação, esse “imposto” terrível que afecta os rendimentos dos trabalhadores por conta de outrem, esse “imposto” implacável que flagela especialmente os mais pobres e os mais velhos.
Já os leitores mais cotas têm ainda bem presente os tempos do escudo fraco, uma moeda que desvalorizava todos os dias, quando ainda não tínhamos entrado na UE (na altura, dizia-se CEE). Vejamos o susto que foi a subida de preços nos cinco anos anteriores à adesão comunitária: 1981 – 19,2%; 1982 – 21,5%; 1983 – 24%; 1984 – 28,5%; 1985 – 19,5%.
Em 1983, ano em que Portugal foi à bancarrota e o FMI veio cá apertar a tarraxa, os portugueses perderam 7% de poder de compra, no ano seguinte 12,5%. Uma desgraça. Houve muita fome e revolta no país.
Recorde-se que aquela bancarrota de 1983/4 foi resolvida com um empréstimo do FMI de 2,8% do nosso PIB, enquanto que, para tapar o buraco da bancarrota socrática de 2011/4, foi necessário um empréstimo da Troika de 45,5% do PIB (!).
Mesmo assim, a primeira foi muito mais gravosa para as pessoas do que a segunda. É que, há quarenta anos, o nosso estado social não tinha, nem de perto nem de longe, a actual capacidade de resposta.
2. Agora, neste ano da graça de 2022, os 13 mil milhões de euros que as famílias pouparam fechadas em casa durante a peste estão a ser derretidos, ingloriamente, em inflação – especialmente nos alimentos e energia – e, se me é permitida uma brincadeirinha, em bilhetes para os Coldplay.
Sem surpresa, o euro está a patinar em relação ao dólar porque o BCE se atrasou na subida dos juros. Agora, está a correr atrás do prejuízo, isso significa dinheiro mais caro, subida das prestações das hipotecas, investimentos mais difíceis.
Mas nada de especial. Ponhamos as coisas em perspectiva para os mais novos perceberem o que nos poderia acontecer se saíssemos do euro: em 1983 comprei um apartamento de que fiquei a pagar um empréstimo com a taxa de juro em uso na altura: 32,5%.
Desta vez, não vamos passar pelos mesmos assados porque estamos na UE e temos o euro. Tenhamos bem presente isto quando, como vai ser inevitável, as esquerdas e as direitas radicais, amigas do senhor Putin e financiadas por ele, tudo irão fazer para atacar a UE, instrumentalizando o descontentamento das pessoas com as subidas nos preços do dinheiro, dos alimentos e da energia.
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