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A metáfora da gaiola e do pássaro está presente na vida política chinesa há pelo menos sessenta anos e terá sido usada pela primeira vez no espaço público por um dos pais fundadores do partido comunista, Chen Yun, que defendeu o seguinte: “a gaiola é o plano, e pode ser grande ou pequena, mas dentro da gaiola o pássaro, isto é, a economia, é livre para voar como quiser.”
A história da China comunista não é diferente da dos outros países comunistas: a planificação central da economia nunca conseguiu pôr pão na mesa das pessoas e produtos básicos nas lojas do estado. Com aquela fórmula, Chen queria que os seus camaradas deixassem as leis do mercado funcionar.
Só que o líder, Mao Tsé-Tung, não foi naquela conversa e preferiu a colectivização das terras do Grande Salto em Frente (1958/1962) que matou 36 milhões de pessoas à fome, a que fez seguir a Revolução Cultural (1966/1976) com o seu cortejo de perseguições e prisões.
As ideias de Chen Yun só iriam ser postas em prática mais tarde com o sucessor de Mao, Deng Xiaoping (1978/1992). A gaiola foi aumentada e a passarada exponenciou: 140 mil pequenos empresários em 1978, 310 mil em 1979, 806 mil em 1980, 2.6 milhões em 1981. Cada vez mais pássaros, cada vez mais liberdade de movimentos na gaiola. O resultado é bem sabido: a China teve um crescimento sem paralelo e pôs-se a caminho do lugar que foi seu durante milénios — primeira economia do mundo.
O congresso do partido comunista chinês da semana passada mostrou o que já se sabia: Xi Jinping tem saudades do estatismo e do culto da personalidade dos tempos de Mao Tsé-Tung. Diminuiu o tamanho da gaiola e a amplitude do voo dos pássaros. Que o diga Jack Ma, o dono da Ali Baba, a Amazon chinesa, a quem Xi cortou as asas.
Ora, este aperto tem consequências: a China de Xi Jinping está a voar muito mais baixinho do que a China de Jiang Zemin (1992/2002), a China de Xi Jinping está muito mais rente ao chão do que a China do seu antecessor, Hu Jintao (2002/2012), a quem ele, para mostrar quem manda, com todo o mundo a assistir, numa cena digna de Shakespeare, acaba de humilhar em pleno congresso.
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