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Entre a ficção e a realidade

 Entre a ficção e a realidade
21.04.23
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Mark Twain deliciou gerações com “As aventuras de Tom Sawyer”. Deixou-nos um pensamento que permanece atual onde diz que, a grande diferença entre a ficção e a realidade, está apenas no facto da ficção requerer credibilidade. Isso, porque a fronteira entre ambas é muito ténue. Pouco tempo depois dele, nos anos 30, Huxley escrevia um maravilhoso livro de ficção “O Admirável Mundo Novo”. Nesse livro, quase um século atrás, ele já falava na biotecnologia, na fertilização in vitro, na droga da felicidade, na modificação do comportamento induzida pela corrente elétrica, nas hormonas artificiais e num mundo sem doenças. O único constrangimento era que não havia futuro, nem sonhos e a tal felicidade conseguia-se com a ingestão de “soma” (droga da felicidade). Problemas verdadeiramente sérios eram os dois tipos de totalitarismo: O Governo e a Ciência!
Quanto à ciência, os cientistas perceberam que não sabiam, nem podiam explicar tudo e assumiram a sua humildade. O salto seguinte, fruto dessa humildade, foi quando deixaram de viver cada um na sua quintinha, quando todas as ciências começaram a colaborar entre si (holística científica). Por isso a ciência tem-nos dado a melhoria da nossa qualidade de vida! O outro problema grave de Huxley era o governo, era a política! Aqui ele teve razão antes do tempo, mesmo quando se generalizaram os regimes das democracias representativas. George Eliot já tinha avisado que “as eleições eram como que cerimoniais de deliberação e desapontamento públicos, uma catarse do voto, antes do massacre do resultado”.
É hoje evidente, que a democracia não evoluiu no mesmo sentido da ciência e que se transformou num regime sequestrado e incapaz de cumprir as suas promessas e expectativas. A ciência preocupou-se com as exigências de qualificação dos seus cientistas, motivou-os para que a cada pergunta tem que corresponder uma resposta. A política não teve essas preocupações, nem de qualificação e nem de motivação. Orientou-se apenas para a conquista do poder, para a divisão, para a negação da diversidade. Fez o inverso da ciência e regressou ao tribalismo.
O problema desta democracia já nem é entre a ficção e a realidade, mas a dificuldade de fronteira entre a verdade e a mentira. Cedeu á economia, tecnologia, mediarquia e incapaz de as integrar afastou-se do demos! Já não basta ser “o pior dos regimes, à exceção de todos os outros” (Churchill) …

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