Paloma Correia, David Gouveia e Santiago Oliveira são três dos 24 responsáveis pela criação de um filme de animação inspirado em personagens de livros infantis de Aquilino Ribeiro. “5 Reis de Gente e Alguns Bichos” tem pouco mais de 12 minutos e uma história por de trás da história que a película conta. E porquê? Porque os 24 responsáveis são os alunos do 4ª A, da Escola Básica Aquilino Ribeiro, em Viseu.
Paloma Correia, David Gouveia, Santiago Oliveira e as restantes crianças integraram ao longo do ano letivo um projeto dinamizado pelo Cine Clube, que ensinou e produziu com os alunos um filme que teve a estreia esta quinta-feira (15 de junho), no IPDJ de Viseu.
“Fizemos todos uma parte do filme que foi feito em bocadinhos e todos participaram. Gostei muito porque aprendemos profissões novas, não sabíamos como se fazia um filme e foi uma experiência muito fixe”, começa por contar Santiago Oliveira, que conversou com o Jornal do Centro minutos antes de ver o filme estrear diante de uma sala cheia.
“Estou um bocadinho ansioso, mas vai correr bem”, desabafa, admitindo que projetos como este “deviam existir mais”.
Durante vários meses, crianças e vários profissionais das diferentes áreas que integram a produção de um filme trabalharam na definição das personagens, escrita do argumento, animação, filmagens, música ou realização.
“Gostei muito, porque aprendemos coisas acerca do design, produção, som. O que gostei mais foi a parte em que fizemos os cenários e quando gravámos as vozes das personagens”, destaca Paloma Correia, outra das crianças.
Já David Gouveia destaca as filmagens e “a parte de por as personagens a mexer” como as etapas que mais gostou durante a criação do filme. Para o aluno, esta iniciativa “já ganhou” e deveria poder chegar a mais escolas. “Deveria haver mais coisas assim, para incentivar as crianças gostarem mais de cinema”, atira.
A abóbora, o coelho, a girafa, o elefante ou o macaco das fábulas de Aquilino Ribeiro, escritor que este ano assinala 60 anos da sua morte, ganharam uma nova vida e fizeram as delicias dos mais pequenos.
“O projeto aconteceu na Escola Aquilino Ribeiro e estamos a comemorar os 60 anos da morte do escritor e acho que é uma forma ótima de fazer uma mistura entre literatura, histórias, cinema e esta energia das crianças em trabalhar com tudo isso”, afirma Carla Augusto do Cineclube de Viseu, associação que leva o cinema às escolas há duas décadas.
“5 Reis de Gente e Alguns Bichos” surgiu integrado na oficina Aprender em Filmes que a associação tem vindo a desenvolver, sendo que neste caso com algumas diferenças.
“Esta oficina são 20 horas de workshop, mas aqui tivemos a oportunidade de estar o ano inteiro, com três vezes mais tempo para fazer o filme”, explica Carla Augusto, que acrescenta que esta nova versão só foi possível por terem candidatado a iniciativa e ter sido um dos 15 projetos eleitos, entre 176 candidatos de 37 países. O objetivo é “fomentar conceitos de aprendizagem inovadores e impulsionar a gestão do conhecimento no domínio dos direitos de propriedade intelectual para os sectores cultural e criativo”.
Além de Carla Augusto, o projeto foi desenvolvido por Graça Gomes (realização, filmagens, edição e pós-produção), Ana Bento (sonoplastia e banda sonora), Vanessa Chrystie (ilustração), Luís Costa (produção), Margarida Assis (argumento), Bruno Pinto (correção e mistura de som) e Miguel Cardoso (design gráfico).
Mas, segundo Carla Augusto, a iniciativa só foi possível com “o apoio da escola e da professora da turma”. “Para fazer um projeto destes não é só uma questão financeira, é uma questão da escola aceitar que uma equipa tão diversa apareça e, depois, ter uma professora que controla esta parte pedagógica do projeto, mas que também assegura que as atividades normais se mantenham e corram bem”, frisou.
A professora, Graça Carvalho, garante que esta iniciativa só veio enriquecer o currículo destes alunos. “Sinto que não prejudiquei o currículo, muito pelo contrário, enriquecemo-lo. Foi uma forma de ensinar diferente, onde o manual ficou de lado, mas onde nada ficou de fora. Escreveram muito, fizeram muitos textos coletivos, textos individuais, o próprio argumento foi feito por eles”, recorda.
Graça Carvalho contou ainda que, numa primeira fase, de setembro a novembro foram analisadas as histórias que serviram de inspiração ao filme.
“Analisámos as histórias e tentei fazê-lo sempre de maneira diferente para não desanimarem, mas tiveram sempre uma caracterização exaustiva das personagens, dos espaços”, explica.
Depois, foi caracterizar todas as personagens, escolher as que gostaram mais e criar uma narrativa com essas personagens. Vieram a seguir a construção das figuras, a escrita do argumento, a animação, as filmagens, a música e a certeza de que “saem desta experiência de coração cheio”.