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Tem 25 anos, é natural do Irão e nas últimas horas é a estudante de Viseu mais falada no país e não só. A jovem, que está há menos de um ano na cidade, JMJ: Aluna iraniana da Católia de Viseu discursou para o Papa Francisco para o Papa durante a Jornada Mundial da Juventude. Um momento que, garante, vai recordar para sempre.
Mahoor Kaffashian saiu do país onde cresceu para poder estudar na esperança de uma vida diferente. Mudou-se para a Ucrânia em 2018, mas estava longe de imaginar que a vida a colocaria, mais uma vez, à prova. Em fevereiro de 2022 rebentou a guerra no país e Mahoor Kaffashian ficou sem nada.
“Estava na Ucrânia, tinha apartamento, trabalhava, tinha universidade e perdi tudo num par de horas. Foi muito difícil recuperar do zero, aliás, estava em negativos. Tive que lutar por tudo o que podem imaginar, não tinha roupa, não tinha nada”, conta ao Jornal do Centro.
Quando a vida lhe passou esta rasteira, a jovem tinha chegado do Irão, depois de dois anos sem ver a família. Além do coração cheio, trazia recordações do país e dos seus, detalha entre recordações de momentos difíceis onde tudo ficou para trás, até o piano. Mahoor Kaffashian toca piano.
Portugal, a Universidade Católica, foi a “casa” que a acolheu e lhe permitiu lutar pelos sonhos. A estudante é uma das contempladas pelo Fundo de Apoio Social Papa Francisco.
“No dia 26 de fevereiro de 2022, já estava há três dias na fronteira com a Polónia, mandei e-mails para todos os lados e ninguém me respondeu. Não tive resposta de nenhuma universidade onde me sentisse segura e onde pudesse estudar. A Universidade Católica foi a única que respondeu e muito educadamente pediram para esperar para ver de que forma poderia vir para o país”, recorda.
Prestes a começar o quarto ano de Medicina Dentária, Mahoor Kaffashian conta que o momento com Francisco vai muito para além da religião e que a presença perante o líder da Igreja Católica a inspirou a querer ser parte da mudança. Mudança num mundo que em pouco mais de duas décadas de vida lhe trocou várias vezes as voltas.
Questionada como se preparou para discursar perante o Papa Francisco, um convite que lhe foi feito pela escola, a jovem é rápida na resposta: “Achei que não precisava de me preparar muito, porque, na realidade, nos últimos dois anos tenho-me preparado muito, ando a lutar pelos meus direitos”, afirma.
Quanto ao momento em que discursou, Mahoor Kaffashian assegura que não há palavras para explicar o que sentiu. “Nos meus 25 anos nunca tive uma experiência destas, a sensação que tive quando ele sorriu para mim foi algo completamente diferente e não consigo descrever”, começa por dizer, reforçando que não é “uma pessoa religiosa”.
“Não sou uma pessoa religiosa, mas acredito que a mensagem do Papa vai além da religião. O que mais me impactou, e que me fez chorar um pouco, foi quando vi aquela gente toda e percebi que não é sobre Jesus nem religião, é sobre como uma pessoa, uma única alma, pode impactar tanta gente. Foi espetacular para mim. Se ele mudar o pensamento de uma pessoa já cumpriu a missão. As minhas lágrimas não foram motivadas pela religião ou porque sou religiosa, mas porque o Papa personifica a bondade e o humanismo”, disse.
Voltando ao início, Mahoor Kaffashian é nos últimos dias a aluna de Viseu mais conhecida porque discursou perante Francisco e porque foi entrevistada por órgãos de comunicação social de vários países. A razão porque tem contado a sua história é para que possa ganhar “visibilidade” para mudar ideias, conceitos e pensamentos sobre uma palavra que lhe é tão próxima e ao mesmo tempo tão distante: refugiado.
“Todas estas entrevistas e pensamentos foi para mudar a ideia do que é ser um refugiado. A palavra refugiado não é suficiente para descrever o sentimento de quando se perde tudo. Desde aquele encontro sou uma refugiado orgulhosa, porque espero que possa fazer com que haja mudanças na vida dos refugiados e mudar esse conceito”, desabafa.
O que mais lhe custa desde que saiu do Irão para estudar é não ver a família de quem diz ter muita saudade. Mahoor Kaffashian é filha única.
“Somos refugiados porque mais nenhum país nos ajudou. Saí do Irão porque não podia estudar, mas isso não quer dizer que não tenha o direito de ver a minha família. Queria que a minha família pudesse um dia ver o meu sucesso. Gostava que eles estivessem aqui e pudessem ter orgulho de mim. Já fiz um longo caminho e preciso deles ao meu lado. Gostava de os poder ver e que isso fosse um direito para qualquer pessoa”, desabafa.
Sobre projetos para o futuro, Mahoor Kaffashian admite que são muitos. Acabar o curso é o mais imediato e depois há a vontade da mudança. “Tenho muitos planos, mas não é só para mim… O meu principal plano é perceber como fazer a mudança para todas as pessoas como eu. Quero ter e conquistar o direito de poder estar aqui, em Portugal”, pede.
E, depois, há a enorme vontade em ajudar os outros e não só enquanto dentista. “Gostava de colaborar ou participar com alguma ONG ou associação para ajudar pessoas como eu. O que eu quero é ser útil, não só uma dentista. Quero fazer a diferença, porque com todos os altos e baixos eu vi a melhor e a pior versão de mim e quero ficar só com a melhor. Mas, no imediato quero terminar o curso, para poder ajudar a mudar a vida das outras pessoas”, finaliza.