No terceiro episódio do programa “Bem-Vindo a”, tivemos o prazer de conversar…
São mais de 100 presépios, de diferentes tamanhos e construídos ao longo…
por
Teresa Machado
por
Isalita Pereira
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
Há algum tempo, a CMTV propôs-se fazer uma peça sobre o aniversário de uma importante banda musical portuguesa: os Ena Pá 2000. Tanto se propôs que avançou mesmo com o trabalho jornalístico que seria exibido nos seus noticiários da hora de almoço, apresentando uma entrevista a Manuel João Vieira e um excerto dos ensaios da banda. Até aqui tudo muito bem. O problema que motiva estas linhas prende-se com o facto de terem optado por censurar a letra com os famosos “pis” americanos que agora têm inundado as nossas televisões. Para o raciocínio que apresento, relembre-se que a censura em Portugal é estritamente proibida!
O canal de televisão que entende como aceitável transmitir todos os detalhes dos horrores dos crimes que acontecem em Portugal, sem qualquer pejo, a qualquer hora, transmitindo imagens de decapitações, amputações, violações e aquilo que for necessário, achou que uma palavra sobre testículos numa música humorística devia ser censurada. E se fosse sobre orelhas?
Vivemos hoje um mundo de mescla paradoxal, importando as práticas americanas dos “pis” censuradores que são proibidos em Portugal, travando o desenvolvimento da nossa cultura que é regularmente bem mais livre e informada do que a desse país com práticas legais puritanistas quase medievais, bem distantes daquelas que a nossa moderna Constituição preconiza.
A mescla cultural é inevitável, como resultado de filmes, séries, jogos e outros produtos culturais produzidos num local do globo e difundidos mundialmente. O hip-hop, o rock’n’roll, os jeans, os liceus dos populares são disso evidência. Há 40 anos não havia pedidos de casamento com anel obrigatório, nem com joelhos no chão. Isso é uma importação de uma cultura patriarcal de uns “USA” brancos, anglo-saxónicos protestantes em que o homem aceita ajoelhar-se só nesse momento da vida para oferecer à esposa um resto de vida atrás das panelas…
Obviamente que esta mescla também revela lados maravilhosos e não apenas os desajustes de que falo. A música e o cinema, a arte do mundo inunda-nos graças a este processo. Ainda assim, a importação de práticas jornalísticas mutiladoras da verdade não deveria passar de ânimo leve. Em Portugal, a Constituição é clara; também a lei de imprensa e o Código Deontológico dos Jornalistas Portugueses. Não há nenhum lugar para a censura e o sensacionalismo tem de ser travado. O entendimento das notícias como produto de enriquecimento de consórcios gigantescos, retira-lhes o lugar social de garante das democracias e coloca-os no lugar do entretenimento esvaziado e de produção barata. A cada “crónica criminal” nos programas da manhã, a cada “alerta” e “está a acontecer” das televisões nacionais, rouba-se um pedaço do Dia Claro que se fez em Abril. Escurece-se a vontade de vivermos felizes num chão que é de todos e alimenta-se o escuro de quem odeia e vive cego e mudo pelos “pis”.
Os meus alunos perguntavam-me esta semana se eu faria greve. Expliquei o que é uma greve, que não temos de informar previamente, que a greve é uma forma de sermos uma democracia mais forte e que é um sinal de um país que funciona. Os media comerciais importaram práticas que destroem a confiança no Estado Social. Os media comerciais esqueceram-se de importar os exemplos jornalísticos do caso Watergate e embarcaram na legitimação das invasões do Iraque ou no abraçar das narrativas pró-americanas de todos os conflitos mundiais. Os media comerciais disseram aos meus alunos que a greve é culpa do António Costa ou do Passos Coelho. Os media comerciais falham em lembrar que as economias mudam e que as sociedades têm de se mover em todos os segmentos. Os media comerciais falham em lembrar que a democracia são eleições, greves, manifestações e ação política diária. Falham em lembrar que a greve é um maravilhoso direito conquistado e que permite que o mundo mude. Os media comerciais falham em lembrar que foi assim que deixámos para trás um Portugal miserável de barracas e lixeiras a arder… Os media comerciais preferem garantir votos à extrema-direita e condenarem-se à censura, se isso garantir a sua margem de lucro.
Os meus alunos são brilhantes, mas vivem num mundo que lhes complica o crescimento. Crescer rodeado de estupidez é um desafio gigantesco. As mensagens que veem nas redes sociais são escritas por um robô e as dos media noticiosos mainstream não ajudam ninguém: só assustam. O conhecimento devia robustecer e não amedrontar; devia formar e não calar. Os media comerciais serão os primeiros a ser substituídos por máquinas cujo único propósito será manternos ligados.
Sugiro ligarmo-nos aos media adequados e tirar as audiências a quem põe “pis” na arte nacional. Eu já o faço e tenho sido bastante feliz com essa decisão. Sugiro escolhermos os nossos media como quem escolhe o carro que compra ou a comida que come: com muito cuidado, pois nós somos o que lemos, muito mais do que o que comemos.
por
Teresa Machado
por
Isalita Pereira
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
Jorge Marques
por
Vitor Santos