No terceiro episódio do programa “Bem-Vindo a”, tivemos o prazer de conversar…
São mais de 100 presépios, de diferentes tamanhos e construídos ao longo…
A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
Jorge Marques
por
Vitor Santos
Em breve, depois de passar uns dias com os meus pais, parto para Berna. Mas antes de tudo, disponho as minhas coisas por ordem no apartamento. Mas quero-o despido, sem muitas mobílias, arejado, limpo, aberto ao mar, ao vento, ao perfume marítimo que me inebria. Fui visitar os pais da Fátima, que vivem num prédio próximo. Regozijaram-se por esta vizinhança. Fá-los acreditar que será menos demorada a vinda da filha. Convidaram-me para fazer as refeições com eles. Não só pela companhia como para me pouparem preocupações com a alimentação. Prometi-lhes que jantaria sempre com eles. Mas que almoçaria na cantina da escola, assim que o ano letivo se iniciasse. Portanto, tinha uma parte da logística diária organizada. Para além das aulas, dispunha de tempo para as leituras, a música, os museus em Lisboa, e a areia do mar a uns metros de casa. Estava feliz. E de tal modo o estava que prolonguei por uns dias a partida para Tondela.
Todas as manhãs, cedo, ia correr para o paredão da praia. Corria devagar, a respirar a brisa matinal, o branco da espuma das ondas que se desenhavam na areia. Por vezes, descia até à linha de água e continuava o percurso por entre as algas e as conchas esquecidas pelas marés. O nevoeiro em certos dias era uma manta escura que tudo embrulhava num fumo cego. Gostava muito desta atmosfera densa e de nela me ocultar do mundo e de outros madrugadores. Corria devagar, sem objetivos, sem pensamentos, concentrado nos passos na areia e inebriado de tanta solidão. Porque nada se via, era surpreendido, por vezes, por uma mão fria do mar que depressa se desvanecia. Sempre devagar, nesses dias de nevoeiro corria, avançando até outras praias adiante. Se me cansava, caminhava, para depois retomar a marcha lenta do regresso. Acontecia então começar a pensar; não sei porquê, mas só na vinda as ideias rompiam o silêncio mental e se apresentavam. Não me importava. Nunca me importei de pensar. Acho piada ao esforço dos yogas para parar o fluxo dos pensamentos. Como se só nesse despojamento espiritual pudessem serenar a alma. Eu não. Para mim, a serenidade depende do tipo de pensamentos, não da sua morte. Há os que propiciam a tranquilidade de alma, e outros que não. Mas são raros. Se a ideia é afastar a melancolia, então para mim não serve. A melancolia é uma doce companheira.
Depois, parti para o norte. Passei algum tempo a observar o meu pai no seu exercício estético de pintura. Sempre que pode, senta-se em frente a uma tela, os pinceis e as tintas à mão, concentrado no desenho das paisagens, que, aos poucos, vão ocupando o branco do quadro. É a natureza a reencontrar-se através da pureza da arte.
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
Jorge Marques
por
Vitor Santos
por
José Carreira
por
Alfredo Simões