arqueologia tabuaço
banner-sns24-06-1
471511487_911909467786403_6650047568217060701_n
som das memorias logo
261121082345cbd31e4f08cbc237fdbda2b5563900947b148885
261121083019a9f55af575cc44675655afd52fd8ee0b7e8852f2

A magia do Natal já chegou a Viseu e a Criaverde tem…

26.12.24

No terceiro episódio do programa “Bem-Vindo a”, tivemos o prazer de conversar…

25.12.24

São mais de 100 presépios, de diferentes tamanhos e construídos ao longo…

24.12.24

por
Teresa Machado

 Morreste Celeste

por
Joaquim Alexandre Rodrigues

 Ócios e entreténs
Home » Notícias » Colunistas » Fragmentos de um diário – 22 Agosto de 1985 (continuação III)

Fragmentos de um diário – 22 Agosto de 1985 (continuação III)

 Fragmentos de um diário - 22 Agosto de 1985 (continuação III)
18.11.23
partilhar
 Fragmentos de um diário - 22 Agosto de 1985 (continuação III)

Há dez anos que trabalhamos esta obra de arte que é o nosso amor. Moldámos a pedra dos sentimentos numa escultura de vida. O nosso ofício tem sido um exercício quase monástico de aperfeiçoamento mútuo. Crescemos juntos intelectualmente. Amadurecemos afetos. Metamorfoseámo-nos um no outro. Já não sabemos onde começa e acaba o eu de cada um. Só a morte nos pode separar, rematei.
Ela bateu palmas, riu-se, disse que escutara a melhor definição de amor. Que sim, também ela acreditava que a nossa espera não terá sido vã. Apesar do medo, acreditava. E que o medo não a desarmava, antes a reforçava na fé.
Desviei-lhe uma alça da blusa para lhe beijar os seios. E por ali me demorei num arroubo de enamoramento. Aos poucos, ela conduziu-nos para dentro. Em breve, subíamos o rio de febre que nos consumia de desejo.
A notícia da sua vinda definitiva para Portugal contagiou-nos de alegria o resto do tempo. Nas conversas, nos projetos, nos passeios, na sexualidade, uma outra dimensão se projetava sob o signo de uma epifania. O entusiasmo ardia-nos no olhar, em cada gesto. Num dos últimos concertos, o arrebatamento que nos possuía obrigou-nos a sair num dos intervalos, incapacitados de conter a intensidade de emoções que nos devorava. Viemos para a rua como impelidos por um vento mitológico. A cidade antiga, adormecida de gente àquela hora, e desvelando-se num sonho medieval, harmonizava-se com o nosso espírito impregnado de romantismo. E caminhámos, caminhámos. Até que o nosso amor, incapaz de se conter nos limites do casario, numa manta de relva o deitámos sôfrego do infinito do céu. E foi, deslumbrados com a luz do firmamento, que voltámos para casa, no desejo de também através do corpo transfigurar o humano no transcendente.
Eramos um casal em lua de mel. A última tarde foi a coroação desta alegria com a ópera, numa adaptação para jovens, Flauta Mágica de Mozart. À noite, fomos sentar-nos no caramanchão. Começava a sentir saudade deste lugar. A esse propósito, prometemos que um dia também construiríamos um para abrigar das intempéries o nosso amor. A Fátima defendia que teria de ser na serra da Lousã. Eu dizia que sim, mas que o mais importante é que o edificássemos dentro de nós, em qualquer sítio em que decidamos viver.

 Fragmentos de um diário - 22 Agosto de 1985 (continuação III)

Jornal do Centro

pub
 Fragmentos de um diário - 22 Agosto de 1985 (continuação III)

Colunistas

Procurar