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Não é verdade que aprender seja um ato difícil. O Ser Humano é a espécie que aprende mais, melhor e com prazer. Por isso não se peça ao cérebro para não aprender, porque isso ele não sabe fazer. Começamos a aprender ainda na barriga da mãe, nas 24 horas do dia e até a dormir! Na neurociência costuma-se dizer que não se aprende para a Escola, mas para a Vida e que na Vida aprende-se para a Escola. Por isso, insiste-se sempre na integração entre a Escola e a Sociedade. Pode até dizer-se que não há separação, nem fronteira entre estes dois ambientes e que a Sociedade é a nova Escola onde se continuará a aprender até ao fim da vida. Outro detalhe a reter é que não se aprende apenas o certo, aprende-se também o errado e nem um, nem outro são responsáveis pelo resultado final do nosso comportamento, mas ambos. Os planos para a educação da OCDE (PISA) mostraram que os resultados têm mais a ver com as formas de relacionamento nas sociedades dos países ou cidades, do que com os modelos.
Neste enquadramento, haverá talvez que distinguir as competências nos domínios do saber e que tem uma duração mais ou menos limitada, das outras ao nível do comportamento e atitude que vão servir para a vida. Numa cidade onde os cidadãos não se respeitam entre si, onde se estacionam carros nos passeios, onde se para sobre as passadeiras na frente de uma escola, onde a mobilidade é indisciplinada, não se espere que isso não seja aprendido pelos mais jovens, nem que a escola o modifique! Mas este é apenas um pequeno exemplo. É bom que os poderes públicos percebam que as suas cidades são também escolas de formação de cidadãos. Mas também porque na vida ativa e profissional há dois tipos de competências: “Soft Skills” e “Hard Skills” (competências sócio-emocionais e competências técnicas) e as primeiras são as mais valorizadas.
É por isso que os pedagogos defendem, sobretudo para os alunos mais velhos, que devem fazer coisas fora da escola. Nos EUA, pude verificar que os currículos dos candidatos a emprego são vistos a partir dessas idades e analisa-se o que fizeram durante as férias (bombas de gasolina, Macdonald, restaurantes, prestação de serviços à comunidade). Entre nós falha esta relação com a vida e a sociedade, o que leva os professores de várias universidades a dizerem que os alunos chegam lá infantilizados pelos pais.
Mas também há quem insista que o aprender é difícil! Isso terá a ver com uma outra questão que é conhecida por Paradoxo da Aprendizagem. Paradoxo, porque é difícil de perceber, que se por um lado o cérebro gosta de aprender, por outro tenha medo de aprender. De que se trata afinal? É que o nosso cérebro, que é o órgão da aprendizagem, gosta de aprender novidades e coisas que tenham significado. Talvez por isso, uma das missões mais importantes das escolas é capacitar os alunos para aprenderem a aprender, porque isso vai ser uma necessidade para a vida inteira. Numa primeira fase é o aprender para saber e na segunda o aprender para mudar. Por fim, talvez o mais importante seja aprender a fazer, porque isso é o resultado das nossas experiências e fica registado no nosso património biológico. Desta forma a novidade fica registada e o significado deixa marcas.
Mas se somos feitos para aprender, porque é que temos medo? Porque no nosso sistema biológico quem aprende muda. Ao confrontarmo-nos com coisas diferentes daquilo que pensamos, isso provoca-nos um mal-estar. É o que se passa, por exemplo, na discussão política ou na dificuldade de mudar de opinião ou de partido. O que pensariam os nossos amigos? Provavelmente deixariam de o ser, porque muitas vezes é o partido que os une e socializa? Em comunidades mais pequenas isto é ainda mais acentuado. De alguma forma, quando o Homem aprende transforma-se, arrisca a sua identidade e a forma em como é visto pelos outros. Isto só não acontece com as crianças que absorvem tudo! Mas acontece, vai acontecendo, aumentando com a idade e agrava-se perigosamente naqueles que julgam saber tudo ou quase tudo. Nesses casos, o ter que mudar alguma coisa é uma ameaça. Nós precisamos de conhecimento novo durante toda a nossa vida e ele levanta a necessidade de desaprender o antigo quando ambos se confrontam nas mesmas matérias. Desaprender, apagar alguns erros, aliviar o copo que está cheio de informação e ter menos certezas são os remédios para aprender toda a vida. Mas não tenham dúvidas, desaprender é bem mais difícil do que aprender.
Para além da novidade e do significado, o cérebro também gosta de histórias que prendam a atenção, porque os factos podem ser pouco interessantes. É aqui que entra o livro de ficção! Esse tipo de literatura, para além de conduzir a algumas reflexões, leva-nos á empatia, ao Eros no sentido de sentir e descobrir o outro. Isso dá-lhe a tal novidade e o sentido! Sentir as histórias e as personagens dos livros dá-nos também a perceção de que tudo é possível e pode acontecer a qualquer momento. Há sempre um ritmo de mudança nos acontecimentos e nas pessoas. Ensinam-nos que o propósito do desejo é a ação, uma ação que vem de dentro para fora e se chama emoção (e-mover), que quer dizer isso mesmo, mover de dentro para fora! Esta é a Natureza Humana e não a Artificial que nos pode ser imposta e vem de fora para dentro…
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