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Ruy de Carvalho assume amor por Viseu e lembra Teatro Avenida

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 Ruy de Carvalho assume amor por Viseu e lembra Teatro Avenida
07.04.24
fotografia: Jornal do Centro
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 Ruy de Carvalho assume amor por Viseu e lembra Teatro Avenida
18.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
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 Ruy de Carvalho assume amor por Viseu e lembra Teatro Avenida

Um amor a Viseu com lembranças vivas do antigo Teatro Avenida. O ator Ruy de Carvalho, de 97 anos, confessou na Casa da Ribeira, em Viseu, o amor à cidade e ao público viseense. “Quero agradecer a vossa presença. Muito obrigado por estarem apaixonados por teatro. Adoro estar na vossa terra. Conheço há muitos anos. Vim cá trabalhar muitas vezes. Lembram-se do Teatro Avenida? Quem nos dera ter outra vez o Teatro Avenida”, lamentou o ator que está a celebrar 82 anos de palcos. Palcos, muitos palcos foram pisados por Ruy de Carvalho. Ao Jornal do Centro o ator confessou adorar o cheiro palcos e garantiu que cada palco tem um aroma próprio. “Os que têm muita vida são aqueles em que eu mais gosto de estar”, sustentou.

O Teatro Nacional D. Maria II foi onde atuou pela primeira vez no ano de 1947. E é a emblemática sala de espetáculos a rainha da exposição “Retratos Contados de Ruy de Carvalho”, que está patente na Casa da Ribeira até 27 de abril. De norte a sul, quilómetros e quilómetros de estrada percorridos, vários dias longe da família pelo amor ao teatro, Ruy de Carvalho lembra uma vinda ao Teatro Avenida, que fechou portas em Viseu na década de 60 e foi demolido no início dos anos 70. Cabiam ali cerca de duas mil pessoas. E o número foi lembrado por Ruy de Carvalho.

Mas nem só de números se faz a memória de um ator imenso. “Fiz uma peça no Teatro Avenida num dia de inverno. Mas a peça passava-se no verão. E eu estava só de camisinha e calcinhas. E há um bombeiro voluntário de Viseu que estava cheio de pena de mim. Eu tremia todo de frio. Então ele foi buscar uma garrafa de jeropiga. Eu bebi a garrafa toda, mas fiquei cheio de frio na mesma. Aquela jeropiga aqueceu-me um bocadinho, mas não chegou”, contou, gerando gargalhada geral na plateia.

Tempos de hoje são perigosos por causa da demagogia, alerta ator
Na sessão, que contou com a filha, Paula, o curador da exposição, Nélson Mateus e a vereadora da Cultura na Câmara de Viseu, Leonor Barata, houve tempo para partilhar lembranças, numa plateia que incluía muitas pessoas para quem abril é apenas uma data para guardar. Nascidos depois de 1974, foram vários os que ouviram com atenção redobrada as palavras daquele que Nélson Mateus intitulou de “avó de Portugal”.

“Claro que hoje vivemos uma vida mais livre, somos capazes de fazer tudo, mas é perigoso porque tem havido muita demagogia. Há muita coisa que não deve ser dita, muita corrupção. E nós temos de começar a pensar que a arca de tesouro dos povos é a sua cultura. Um povo que tem a capacidade de encher a arca com poemas, música, teatro, é um povo feliz. Quando tivermos a arca bem cheia, já somos um povo rico”, reforçou Ruy de Carvalho. O ator reconheceu que “era muito difícil trabalhar antes do 25 de abril”.

Após a conferência, Ruy de Carvalho confessou, ao Jornal do Centro, sentir-se triste por assistir a “muitas censuras”. “Há censuras ideológicas. E há uma coisa que eu não concordo: a arte não tem cor política. O que é bom é para ser exibido. E a palavra tem de ser servida, seja quem escreveu de direita, de esquerda ou do meio. O que é bom é para ser conhecido”, sublinhou. Na sessão, o curador da exposição deixou o repto à autarquia de Viseu. No futuro Centro de Artes e Espetáculos uma das salas ser ‘batizada’ com o nome Ruy de Carvalho.

Não pensem na morte, vivam é intensamente, pede Ruy de Carvalho
Ao longo de oito décadas de teatro e após várias personagens encarnadas, há algo que Ruy de Carvalho sempre levou a sério: o texto. O poder da palavra. “A palavra é arma dos atores. E depois há um corpo para fisicamente representar e acompanhar com a palavra. Quando a palavra serve, quando é para construir, é sempre útil. Quando é destrutiva, é preciso pensar três vezes antes de a usar. A arte precisa sempre de construção e nunca de desconstrução”, explicou.

97 anos de vida, e depois de várias outras vidas sentidas, decoradas, interpretadas e levadas a cena, o ator tem, nos últimos tempos, deixado mensagens de otimismo. Ao Jornal do Centro, não fugiu à regra. “Não vale a pena pensar na morte. A morte é certa. Para que é vamos andar a pensar em algo que é certo. Temos é de viver a vida intensamente”, sustentou. Nesta exposição aparece retratado ao lado de Carmen Dolores, Lourdes Norberto, Armando Cortez ou Diogo Infante. Ruy de Carvalho surge nos nas várias fotografias, enquanto estava em cena, num longo e intenso abraço ao teatro, a arte que trata por tu ainda hoje, com duas peças em exibição.

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