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O sacerdócio, a vocação e a vontade de querer fazer a diferença na vida dos outros

 O sacerdócio, a vocação e a vontade de querer fazer a diferença na vida dos outros
04.05.24
fotografia: Jornal do Centro
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 O sacerdócio, a vocação e a vontade de querer fazer a diferença na vida dos outros
22.11.24
Fotografia: Jornal do Centro
 O sacerdócio, a vocação e a vontade de querer fazer a diferença na vida dos outros

A Diocese de Viseu tem atualmente 100 padres, 75 párocos diocesanos estão no ativo. Todas as paróquias tem párocos e não há falta no imediato, mas a média de idades ronda os 66/67 anos. Na Diocese, há sete anos que não há ordenações de sacerdotes, uma realidade que em breve vai mudar, isto porque Alexandre Ribeiro e Eduardo Abrantes estão prestes a tornarem-se padres e outros quatro estão a frequentar o seminário. Alexandre Ribeiro e Eduardo Abrantes estão em estágio em paróquias da região e contam que desde muito novos souberam que o caminho era o sacerdócio. Não escondem que a jornada nem sempre foi fácil e que as dúvidas fazem parte do processo. Neste percurso, que começou quando ainda eram crianças e acompanhavam os pais à missa e que terminará em cerca de um ano, as fraquezas tornaram-se forças, as dúvidas certezas, sempre com o grande objetivo de poderem fazer a diferença na vida dos outros. Mas o que os levou a seguir o caminho de Jesus? O os levou a mudar o paradigma da ausência de jovens na vida do sacerdócio? É vocação? É um chamamento? “Com o tempo vamos percebendo que é este o caminho, vamos descartando opções e vão ficando outras, as que realmente nos importam”, afirma Alexandre Ribeiro, de 28 anos. Natural de Destriz, uma pequena paróquia no concelho de Oliveira de Frades, o futuro pároco conta que em pequeno sempre frequentou a missa, participou na catequese e foi a figura do pároco da altura, dos catequistas e dos professores da disciplina de Religião e Moral que serviram de referência para que, anos mais tarde, optasse por ingressar no seminário, depois de concluir o 12º ano em Oliveira de Frades. “Havia um fascínio do encontro de domingo. Vivia numa aldeia onde era o único rapaz e, além da escola, a missa era o momento em que via pessoas da minha idade”, recorda. Alexandre conta ainda que as viagens a Taizé, em Franca, tiveram também um peso importante na decisão. Na altura com 17/18 anos, Taizé “despoletou este interesse pela dimensão espiritual”. Também Eduardo partilha desta certeza: Taizé fez a diferença. “O grande despertar para a vocação foi em 2014. Houve várias coisas. Primeiro fiz a viagem a Taizé, depois fiz o crisma e decidi arriscar”, conta. Mas, foi também a influência dos pais, “que sempre participaram muito nas iniciativas da Igreja”, que deixou a “semente”. Aliás, Eduardo conta que, segundo a mãe, foi na igreja que começou a caminhar, a dar os primeiros passos. E, à semelhança de Alexandre, Eduardo, de 25 anos, conta que foi o padre da paróquia de onde é natural, Cunha Baixa, no concelho de Mangualde, que fez “despertar a vocação”. “Esteve lá um padre durante 46 anos e depois entrou um mais jovem, com outras ideias e toda a paróquia floresceu. Chamava-me a atenção a alegria que ele demonstrava, tanto a celebrar missa como fora das celebrações. Eu teria 11 anos na altura. A partir dai comecei a ajudar à missa, como acólito. Depois participei num encontro de pré-seminário, em 2009, durante três ou quatro dias. E, desde então, sempre que podia comecei a participar nesses encontros”, afirma. Com a certeza que era esse o seu caminho, Eduardo mudou- -se de Mangualde para Viseu onde terminou o secundário na Escola Emídio Navarro. “Fiz dois anos no Seminário Menor de Viseu, acabei o secundário e depois resolvi voltar a Taizé e aqui propus-me a fazer algo diferente, fazer uma semana em silêncio e nessa semana tinha reflexões bíblicas e andava sempre com a bíblia e nesse momento decidi que queria ir para o Seminário Maior”. Alexandre e Eduardo acabaram por ingressar no Seminário Maior de Braga, para frequentar a Faculdade de Teologia. No primeiro ano, contam, o curso foi mais ligado à saúde, no segundo ano fizeram voluntariado, no terceiro e quarto anos estiveram mais ligado à catequese e passaram a integrar paróquias na cidade de Braga, onde tiveram um maior contacto com a população e grupos de crianças e jovens. O quinto e sexto ano foi para desenvolver trabalho fora da cidade de Braga. Atualmente, Alexandre está a estagiar na paróquia de Rio de Loba e Eduardo está em nove paróquias, onde acompanha dois padres, no concelho de Vale de Cambra (Aveiro), em Oliveira de Frades e São Pedro do Sul. E quando questionamos quando surge o verdadeiro chamamento e vocação, ambos afirmam que acontece todos os dias e que para isso muito contribuem as pessoas. “O chamamento? Ninguém ouve vozes, isso já seria do foro psiquiátrico. Vamos é sentido que podemos ajudar os outros, não tanto em termos físicos, mas numa perspetiva mais espiritual e aí sim, os padres podem dar um grande contributo. Às vezes a desbloquear situações ou simplesmente para desabafar”, dizem.

A certeza de um caminho que nem sempre foi fácil
Apesar de desde cedo saberem o caminho que queriam trilhar, Alexandre e Eduardo admitem que nem sempre foi fácil, sobretudo pela nova realidade e pelo desconhecido. Ainda assim, afirmam, “isso também faz parte do percurso”. “Quando fui para o seminário não tinha ideia do que seria, não conhecia ninguém. A própria caminhada do seminário é exigente e permite-nos perceber se é, ou não, isso que queremos. Não é um caminho fácil, pelo desconhecido, é tudo novo. Nos primeiros anos é complicado, só vimos a casa quando está estipulado. Houve alguma dificuldade de adaptação, porque até então tinha passado, no máximo, uma semana longe dos meus pais.

Segundo o futuro pároco, apesar das dificuldades, nunca teve “aquela sensação de que já não queria ser padre”, mas, sustenta, “durante a minha caminhada pensei algumas vezes que aquilo não era o que eu imaginava. No entanto, acabamos sempre por nos focar naquilo que realmente nos chama e nos faz estar naquele caminho, de seguir Jesus. E se vamos desistir quando as coisas não correm como nós idealizamos desistíamos muitas vezes na vida e a vida deixava de ser aliciante”, afirma. Já Eduardo, questionado se houve momentos em que pensou em desistir admite que sim, que houve, “e até várias vezes”. “Há uma coisa na Igreja que se chama discernimento, não na decisão entre o bem e o mal porque isso é o bom senso, mas em escolher entre duas coisas boas e aí percebemos entre elas qual a que nos faz melhor. A dúvida faz sempre parte do processo e em momentos de maior fragilidade essas dúvidas podem surgir, mas é sempre algo momentâneo”, frisa. Eduardo aproveita ainda para deixar uma mensagem a todos os jovens que possam estar agora a ganhar vontade de seguir os mesmos passos. “A mensagem que lhes posso deixar é que não tenham medo. Na vida nem sempre estamos certos, mas não devemos ter medo de arriscar. Se sentem que o caminho pode passar pelo sacerdócio devem arriscar. Ir para o seminário não quer dizer que vão ser padres, participar num encontro de pré-seminário não quer dizer que sejam padres, apenas ajuda a perceber se estão no caminho certo”, diz. E quando lhes perguntamos que padres gostariam de ser, são unânimes: padres próximos das pessoas e que acrescentem. “As paróquias fazem o padre e o padre faz as paróquias. As realidades não são todas iguais, as necessidades não são todas iguais. Mas não se pode chegar e achar que nós é que mandamos e nós é que sabemos. Quando isso acontece é muito mau, porque estamos a deitar o trabalho dos anteriores fora, a dizer que o que fizeram não valeu nada e que nós é que somos os salvadores da pátria. E isso não é correto, porque as paróquias, as comunidades continuam depois de nós passarmos. O padre tem que ser um agregador e acho que o segredo está aqui: as pessoas trabalharem em conjunto e todos sentirem-se parte da comunidade”, afirmam.

A Igreja, as críticas e os julgamentos
Numa altura em que a Igreja está debaixo dos holofotes, sujeita a criticas e julgamentos, os futuros padres acreditam que esta é uma instituição em constante evolução e que se tem vindo a adaptar aos tempos. Sabem que as criticas existem e que é preciso saber ouvi-las. “O facto de vivermos numa comunidade faz com que estejamos habituados a ouvir criticas. Mas ao longo dos anos também vamos evoluindo e as criticas vão-nos fazendo pensar e refletir. Podemos desistir ou continuar a nossa caminhada. Mas, procuramos estar envolvidos com as pessoas e no mundo há cada vez menos paciência para escutar. Quase todos os setores estão em crise, não há nada onde se possa dizer que não há um escândalo. A Igreja é constituída por pessoas e o importante é termos um crivo. Não podemos ignorar, mas podemos fazer uma triagem daquilo que é dito, o que podemos reter e o que é que podemos fazer de diferente”, afirma Alexandre. Já Eduardo frisa que lida “com tranquilidade” com as críticas, mesmo quando se falou dos abusos sexuais. “Ao longo da história, a Igreja foi sendo atacada e manteve-se. Claro que por vezes é preciso uma limpeza, uma renovação. Quanto a esta questão dos abusos, não é só na igreja que acontece. Mas a Igreja teve a coragem de pôr a limpo o que aconteceu, não se escondeu. Claro que se pode discutir se foi por pressão da sociedade, se por iniciativa própria, mas está a lidar-se com a situação, com as consequências, e quem tem a responsabilidade de tomar decisões está a fazê-lo. A Igreja é feita por homens, mas é divina. Temos a certeza que o Espírito Santo ajuda a mantê-la. Tinha um professor que dizia: quando se fecha uma porta, o Espírito Santo abre uma janela”, diz.

Os jovens e a Igreja
Já quanto à ligação dos jovens com a Igreja, tanto Alexandre e Eduardo acreditam que tem que ser um trabalho vindo das duas partes. “Os jovens procuram respostas e muitas vezes não sabem onde procurar. E se na igreja não dermos propostas e desafios de caminhada não podemos querer que os jovens olhem para Igreja como um caminho ou uma opção. E depois há o outro lado, a sociedade atualmente vive o dia a dia, sem grande responsabilidade, mas a Igreja quer responsabilidade e compromisso, que sejamos cristãos responsáveis e comprometidos com a comunidade e pelo bem dos outros. Se vivemos numa sociedade que é o inverso, com egocentrismo e individualismo, a Igreja é vista como algo que vai remar contra a maré”, afirma Alexandre. Ambos acreditam que a Jornada Mundial da Juventude, que se realizou em Portugal há quase um ano, pode vir a ajudar a mudar o paradigma do “desvinculamento” dos jovens à Igreja. “A Jornada veio mostrar que os jovens estão ligados à igreja e isso notou-se. Para mim, foi impressionante aquela vigília onde estava um milhão e meio de pessoas, maioritariamente jovens. Não podemos dizer que a Jornada é a solução para tudo, mas foi um sinal de esperança e uma excelente oportunidade para voltar a despertar a atenção dos jovens”, frisa Eduardo.

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