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As fugas e desvios históricos da cidade de Viseu

 As fugas e desvios históricos da cidade de Viseu
18.05.24
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 As fugas e desvios históricos da cidade de Viseu

por
Pedro Baila Antunes

A cidade de Viseu, mais do que qualquer outra capital de distrito, está entre o Interior e o Litoral português, a meio caminho de Espanha e do Mar, num cruzamento de vias: norte-sul, este-oeste.
Porém, historicamente, Viseu não beneficiou devidamente desta vantagem comparativa de centralidade, interface e cruzamento.
Por decisões do Estado central, por tráfico de influência de outras cidades/regiões ou por responsabilidade de decisores políticos locais, verificou-se demasiadas vezes a fuga ou desvio para cidades “concorrentes” de infraestruturas, indústrias, equipamentos e serviços públicos. Para além de comprometer estratégica e estruturalmente a Cidade e o seu desenvolvimento, estes desapontamentos reforçaram um sentimento de interioridade de Viseu, que perdurou até ao início do Séc. XXI.
Um sintoma deste sentimento foi o “complexo de inferioridade regional” de Viseu relativamente a Coimbra, que, até ao início do Séc. XXI, gozava de um grande poder de influência em Lisboa.
Entretanto, Coimbra, com “azar” nos autarcas, falência das indústrias e diminuição da relevância da Saúde e, sobretudo, da Universidade, perdeu dinâmica e projeção. Aos dias de hoje, em várias dimensões e indicadores, Viseu ultrapassou Coimbra.
Voltando à história, inexplicavelmente, no final do Séc. XIX, a Linha da Beira Alta foi desviada de Viseu. Esta linha de comboio estruturante foi traçada num eixo paralelo ao rio Mondego de topografia favorável. Porém, em situações relativamente similares, não se verificou a mesma racionalização. E assim Viseu continua a ser uma das maiores cidades da Europa não servida por comboio.
As vantagens estratégicas para Portugal de uma linha ferroviária Aveiro-Viseu-Vilar Formoso em alta velocidade são conhecidas. Contudo, como tantas outras proclamações, apesar de a Linha constar no Plano Ferroviário Nacional, parece não haver vontade política para a concretizar, muito menos decisão europeia para a financiar.
Atendendo ao contexto nacional, com uma rede rodoviária densa e modernizada, arrastando-se no tempo, o desencanto de Viseu pela não construção de uma autoestrada de ligação a Coimbra é grande, com promessas e anúncios políticos recorrentes e atrasos significativos em obras (superficiais) de requalificação do IP3.
Ao nível industrial, nos anos 60 do Séc. XX a grande unidade indústria regional – a fábrica da Citroën – instalou-se em Mangualde, como, posteriormente tantas outras, implantadas em concelhos vizinhos de Viseu.
Com o tempo, incluindo vontade expressa dos seus autarcas dos finais do Séc. XX, Viseu preferiu não apostar na industrialização, ou, tão pouco, na produção de bens e serviços transacionáveis, não havendo qualquer especialização económica.
As últimas tentativas de especialização – em turismo, vinho e tecnológicas/smart cities – foram inconsequentes, não ganhando tração e escala.
Outro “inconseguimento” marcante da cidade de Viseu foi naturalmente a universidade pública. As reivindicações e os estudos foram-se sucedendo, paralelamente à instalação e crescimento de universidades em Aveiro, Covilhã e Vila Real.
Nos finais dos anos 90 do Séc. XX, no processo emaranhado conducente à abertura de uma faculdade de medicina no Interior, surgiu uma nova oportunidade para criar uma universidade pública em Viseu. Mais uma vez, esta luta foi perdida, mormente para a Universidade da Beira Interior, Covilhã.
Nesta linha do tempo de perdas estratégicas da cidade de Viseu, poderia vir à colação o Euro 2024 e a não construção de um grande estádio. Mas aí o tempo veio a comprovar o bom senso de Fernando Ruas – Presidente da Câmara à data – em “não ir a jogo”, numa exaltação ilusória que fez nascer elefantes brancos em Aveiro, Coimbra e Leira.
Ao que foi anunciado, apresta-se a ser concretizada mais uma “fuga” de Viseu e da Região de uma infraestrutura básica (de “primeiríssima necessidade…“), desta vez concertada entre os interesses de uma empresa pública do Norte com os decisores políticos locais e o alheamento da oposição.
Refiro-me à futura “importação” de água do rio Douro. Com uma Barragem de Fagilde meramente redundante (que, há muito, tardam em ampliar…), Viseu abdica de uma efetiva infraestrutura de captação água num recurso hídrico local-regional (vide “Fará sentido Viseu e concelhos vizinhos serem abastecidos por água do rio Douro?”, Jornal do Centro, 12-01-2024).
Mais uma fuga! Mais um erro estrutural e estratégico para décadas!?

 As fugas e desvios históricos da cidade de Viseu

Jornal do Centro

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