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Há medalhas que os atletas ganham quando triunfam nas provas. E depois há as medalhas que a memória constrói e entrega. Estas últimas ajudam a eternizar os heróis populares, a tal capa que os atletas vestem quando ficam na história. A última que Carlos Lopes conquistou foi atribuída em Viseu, durante a gala do Clube Nacional da Imprensa Desportiva (CNID). A sessão, organizada pela Associação dos Jornalistas de Desporto, que decorreu no Solar do Vinho do Dão, levou todos a brindar ao mérito de atletas, mas também de jornalistas.
Carlos Lopes, que ganhou a primeira medalha de ouro olímpica, nos Jogos de 1984, em Los Angeles, defendeu, no fim de subir ao palco, que a melhor medalha que lhe podem atribuir é lembrar os feitos desportivos que alcançou com a camisola de Portugal. “Eu nunca pedi nada a ninguém. E continuo a não pedir”, começou por dizer. Quando lhe perguntamos sobre a homenagem que ainda gostava de receber, aquele que nasceu em Vildemoinhos em 1947, diz que tudo partirá da “boa vontade de cada um”. “Cada um deve sentir o que os outros fazem e não guardar si, por uma questão de ego. É tão simples. Pelos portugueses fui sempre reconhecido, pela minha cidade natal foi aquilo que foi possível”, frisa.
O tempo corre e o calendário avança. Estão a passar quarenta anos desde que a Maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles foi conquistada por Carlos Lopes, naquele agosto de 1984. “Quem é que, até àquele dia, tinha visto a bandeira portuguesa no pódio mais alto, nuns Jogos Olímpicos? Isso marcou o desporto. E deu origem a que todos acreditassem cada vez mais que era possível”, vincou.
E sobre aquele dia, 12 de agosto de 1984, em que demorou duas horas, 9 minutos e 41 segundos a percorrer 42 quilómetros e 195 metros, o ouro olímpico garante ainda ter “memória para descrever o que me agradecem por tudo o que fiz pelo desporto”. “Isso há-de morrer comigo e fica escrito a letras de ouro”, atira. Carlos Lopes lembra que, enquanto atleta, recebeu bastantes prémios e que este último entregue em Viseu “vale pela dimensão, pelo que representa ao fim de quarenta anos”. “A Maratona faz parte da minha memória e deu outro valor ao desporto português”, defende.
Puxando a fita atrás, Carlos Lopes garante que quando praticou desporto, o fez por livre vontade. “Foi uma dedicação tremenda. Às vezes a chorar, com amargos de boca muito grandes, quase a deitar sangue, mas nunca desisti. É isso que peço aos portugueses: nunca desistam”, acrescenta. Já a olhar para o futuro, Carlos Lopes lembra as dificuldades que os jovens atletas atravessam no presente e pede que, no amanhã, o cenário se altere. “Há espaços que podem ser mais bem definidos para dar aos jovens a oportunidade de fazerem o que gostam. Sabemos que alguns espaços estão fechados e há dificuldade para aceder a eles. Os jovens merecem. Eles são o futuro do desporto”, assinala.
“Maior prémio é reconhecimento dos alunos”, reconhece João Cavaleiro
As homenagens foram-se sucedendo. João Cavaleiro foi outro dos distinguidos. O professor, que também treinou clubes como Académico de Viseu, Tondela ou Sporting da Covilhã, foi um dos quatro homenageados com ligações ao distrito de Viseu. Além de Cavaleiro, foram atribuídos galardões a Fernando Seara, Paulo Sousa e Carlos Marta. “A distinção concretiza as memórias e os sonhos. Desde muito novos pensamos que no futuro podemos ser isto ou aquilo. No meu caso faltou fazer muita coisa, mas não podemos ter tudo aquilo que sonhamos. De qualquer forma, o meu trajeto honra-me e faz com que tenha orgulho nele e isso é o mais importante”, explica Cavaleiro.
O técnico lembra um encontro que teve com alunos a quem deu aulas há quarenta anos. “Esse é, provavelmente, o meu maior prémio”, indica. Sobre o desporto, considera que é “determinante na vida das pessoas”. “Hoje há muitas divergências e em determinados momentos podemos ir por caminhos que podem não ser os melhores, mas o desporto ajuda-nos a fazer escolhas”, vinca.
Vítor Santos aplaude trabalho da imprensa regional
O CNID evidenciou, também, o papel dos jornalistas, na Gala. O cronista do Jornal do Centro, Vítor Santos, foi um dos nomes reconhecidos. O colunista venceu o primeiro prémio Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED) na Imprensa Regional. “A imprensa tem um papel importantíssimo. É um parceiro fundamental. É através da imprensa que conseguimos chegar a todos os agentes desportivos e promover as boas práticas. E denunciar casos. O desporto precisa muito de imprensa regional. São mesmo parceiros. E têm muito a ganhar um com o outro. Estarei sempre disponível para colaborar com a imprensa. Acho que o desporto precisa da visibilidade”, afirma Vítor Santos. A maioria dos trabalhos premiados denunciou casos de racismo e também agressões no desporto, nomeadamente a árbitros. “Magoa-me ainda haver a necessidade de abordar estes casos. É preciso ter sensibilidade. É preciso quase trabalhar com pinças. E só podem ser abordados com essa sensibilidade na imprensa. Não é através das redes sociais”, frisa.
A Gala lembrou e premiou o nadador Diogo Ribeiro e o atleta paralímpico Miguel Monteiro. Foram, ambos, considerados atletas do ano. Diogo Ribeiro tem raízes no distrito de Viseu com os avós a viverem em Mortágua. Já Miguel Monteiro é natural de Mangualde. Os jornalistas de desporto portugueses decidiram também lembrar o legado do jornalista Silvino Cardoso, que conquistou o galardão de jornalista correspondente em Viseu e o trabalho de dois jornalistas regionais: Carlos Bergeron e José Alberto Marques. Os premiados com ligações à região não se ficaram por aqui e na sessão foi distinguido e lembrado o projeto zerozero.pt fundado por Luís Rocha Rodrigues, natural de São Pedro do Sul.
O presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas defendeu que “Viseu só tem de testar grata por receber um evento como este”. O autarca garante que a cidade e o concelho tudo farão para que “ninguém se arrependa de nos ter atribuído o título de cidade europeia do desporto”. “Que cheguemos ao fim devidamente equipados e mais responsabilizados para que a cidade continue pujante a nível desportivo”, apela o presidente da autarquia viseense.