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A cidade de Lamego acolhe anualmente o ZigurFest, um evento que celebra a cultura e as artes. Este ano, o festival ganha uma nova dimensão com a presença da bailarina e performer Maria R. Soares, cuja residência artística promete dar um olhar fresco e contemporâneo ao folclore local.
Maria R. Soares explicou ao Jornal do Centro como surgiu o convite para a criação da sua performance no ZigurFest. “Eu fui convidada para apresentar uma performance no ZigurFest em diálogo com o território de Lamego. Ou seja, uma performance que seria criada para o ZigurFest e que, de alguma forma, teria sempre que ter uma conexão com o território, propondo-me uma residência artística cá, e depois a apresentação nos dias 26 e 27 de julho”, explica Maria, destacando o seu entusiasmo pelo desafio.
Com um background sólido na dança e na performance, Maria sempre teve um interesse particular pelo folclore. “Interessou-me trabalhar com o repertório folclórico de Lamego, que também é algo que sempre me interessou. O folclore tem estado, de alguma forma, presente no meu trabalho e interessava-me voltar um bocadinho a isso”, contou.
A residência e a pesquisa
A residência artística de Maria em Lamego é curta, mas intensa. “Foi-me proposto duas semanas de residência no ZigurFest. Já tinha vindo cá algumas vezes para ver, para falar com os grupos, mas estou cá duas semanas, então é um processo mesmo rápido”, descreveu. Durante esse período, a coreógrafa colabora estreitamente com elementos femininos de grupos folclóricos locais, nomeadamente o grupo folclórico de Ferreirim e o Rancho Regional de Fafel.
A decisão de trabalhar exclusivamente com elementos femininos destes grupos foi uma escolha deliberada. “Eu propus, neste projeto em específico, trabalhar apenas com elementos femininos dos grupos folclóricos. Trabalhar apenas com mulheres. Eu queria mesmo dar visibilidade ao folclore cantado e dançado pelas mulheres, ser um projeto maioritariamente feminino”, assumiu.
A construção da performance
A performance de Maria é uma fusão entre o tradicional e o contemporâneo, uma dança entre duas práticas artísticas. “É um espetáculo maioritariamente coreográfico onde estarei a performar. Estarei no palco e sou acompanhada por estas mulheres. Toda a base sonora são as cantigas do folclore de Lamego e são cantadas por elas. A maior parte das cantigas vão ser à capela, ou seja, sem instrumentalização, porque muito do repertório que escolhi são cantigas de trabalho que eram feitas, de alguma forma, para aliviar o que era o esforço do trabalho”.
A performer descreve a sua abordagem como um diálogo entre a tradição e as suas práticas performativas contemporâneas. “O objetivo é sempre como é que o folclore e aquilo que estas mulheres me passam, porque também me ensinam o repertório delas, pode dialogar com as minhas práticas performativas contemporâneas. Ou seja, como é que a minha prática de movimento pode, de alguma forma, desconstruir o repertório delas”, sublinhou.
Expectativas e impacto
Para Maria, a experiência no ZigurFest é enriquecedora tanto pessoal como artisticamente. “Acho que o mais importante para mim é que estas pessoas que aceitaram o desafio, sintam sempre que estão no espaço certo e que sintam vontade de fazer aquilo que estamos a fazer em conjunto, e que seja algo novo, onde se sintam representados. A partir daí, para mim é sempre incrível”.
A bailarina destacou a importância do processo criativo em si, mais do que o resultado final. “Eu sou bailarina e existe uma lacuna naquilo que é o conhecimento sobre danças tradicionais portuguesas. É um enriquecimento para mim enquanto artista. Independentemente do resultado, para mim é muito mais o processo e espero que para elas também”, frisou.
Inclusão e representação
Embora a performance seja construída e produzida por mulheres, Maria ressalvou que o público alvo é abrangente. “Acho que é mais para toda a gente. É uma perspetiva super pessoal, mas sinto sempre que a presença masculina no folclore acaba por levar um bocadinho à invisibilidade das mulheres neste meio, que também cantam, que também tocam, que também dançam”. Para a residente, o projeto é uma forma de trazer à luz a contribuição feminina no folclore. “Para mim, como esses eram os elementos que mais me interessavam, do que propriamente os elementos associados ao masculino, eu decidi que só queria trabalhar, se possível, com mulheres”.
Apesar das dificuldades encontradas na pesquisa, Maria R. Soares encontrou músicas que ressoam com a representação feminina. “Ainda existe muito a questão de género nas letras do folclore, que são letras antigas, então a pesquisa foi na tentativa de procurar músicas que representassem as mulheres. E isso também foi a questão mais difícil, porque algumas músicas não faziam sentido”.
Maria não tem intenção de reproduzir o folclore “puro”. “Esse folclore será reproduzido por elas [elementos femininos dos dois grupos folclóricos de Lamego] e tudo o que eu fizer é muito mais que uma desconstrução”, concluiu.
(Por Carolina Vicente, aluna de Comunicação Social da Escola Superior de Educação de Viseu)