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De que é que vale aumentar as vagas se não temos onde viver?

As matrículas para o Ensino Superior começaram esta semana. Preocupações com o alojamento dominam o início do ano letivo dos mais recentes caloiros e dos próprios pais. Estudantes e famílias enfrentam desafios na procura de quartos, com “preços elevados” e condições que não os satisfazem a dificultar o acesso à habitação

Carolina Vicente
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 De que é que vale aumentar as vagas se não temos onde viver?
31.08.24
fotografia: Jornal do Centro
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 De que é que vale aumentar as vagas se não temos onde viver?
26.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
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 De que é que vale aumentar as vagas se não temos onde viver?

Na primeira manhã de matrículas na Escola Superior de Educação de Viseu (ESEV), no dia 26 de agosto, o Jornal do Centro esteve presente e conversou com vários estudantes, acompanhados pelos pais, que procuravam um lugar para morar durante os próximos três anos. As preocupações foram unânimes: encontrar um quarto acessível e com boas condições está a tornar-se uma missão difícil.

Início da procura

Beatriz, caloira de Educação Social, acompanhada pela mãe, começou a procurar um quarto logo após as colocações. Mas a procura não tem sido fácil. “A grande parte dos senhorios não passa recibo e com recibo o preço aumenta muito. Depois, há alojamentos que não têm condições,” desabafa Beatriz. A estudante revela ainda que a qualidade dos quartos não justifica os preços pedidos: “A relação qualidade/preço não está a corresponder. A qualidade de muitos alojamentos não corresponde ao preço que estão a pedir.”

Já a nova estudante do curso de Educação Básica, Maria, também acompanhada pela mãe, partilha uma experiência semelhante, embora com algumas nuances. “Até agora, tudo o que vi foi a partir de contactos que eu tenho, a partir de pessoas que já estiveram cá em Viseu. O preço médio ronda os 200 euros mais despesas, o que é o expectável”, comenta. Apesar de algumas dificuldades, a jovem e a mãe acham que, até ao momento, as condições correspondem ao esperado, embora reconheçam a escassez de publicidade para quartos e a falta de opções.

A mãe de um novo aluno da ESEV, enfrenta um desafio específico. “Tenho imensa dificuldade em encontrar quarto para o meu filho. Só vejo para meninas. Os senhorios só pedem meninas” revela a mãe do estudante, que destaca uma disparidade na oferta de quartos para rapazes em comparação com raparigas.

Sofia, que é caloira de Comunicação Social, iniciou a procura há um mês, mas também se deparou com uma realidade desanimadora. “Os quartos mais acessíveis não tinham as condições necessárias para um estudante viver,” explica. Problemas como a “humidade e a degradação dos apartamentos” são frequentes. Sofia lamenta que, apesar dos preços não serem muito elevados, “não refletem o estado em que as casas se encontram”. A mãe, Carla, que acompanhava esta estudante, conta ao Jornal do Centro que tem mais um filho a estudar no Ensino Superior e nota que “de ano para ano, as dificuldades mantêm-se, os preços aumentam e as condições só pioram”.

Desafios com que se deparam

Inês Santos, presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior de Saúde de Viseu (ESSV), confirmou ao Jornal do Centro que a procura por alojamento este ano é mais intensa, mas também começou mais cedo. “A procura está a ser mais elevada e começou antes de o resultado das próprias candidaturas ter sido lançado,” comenta.

Sérgio Marques, presidente da Associação de Estudantes da ESEV e vogal da direção da Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico (FNAEESP), corrobora esta observação. “Muitos pais têm noção, como as médias dos filhos até são altas, que é quase certo que eles entrem. Eles procuram mais cedo porque sabem que se chegarem cá nos dias das matrículas a probabilidade de arranjar quarto é reduzida”. 

A realidade do mercado de arrendamento para estudantes é dura. “Os preços subiram muito,” afirma Sérgio Marques. “Quando cheguei aqui, há três anos, os preços base eram 170 ou 180 euros. Hoje, pedem 250/300 euros, quase o dobro.” E não é apenas o aumento dos preços que preocupa. “Dobrou e não foi para melhores condições. Dobrou para quartos partilhados, sem privacidade, sem qualquer tipo de condições e levou a uma dinâmica totalmente nova do Ensino Superior. Os jovens procuram quarto e depois é que pensam em ir para a faculdade, porque senão não têm onde morar sequer”, alerta Fábio Lopes, presidente da Associação de Estudantes do Piaget e vogal da direção da Federação Académica de Viseu (FAV).

Além dos preços elevados, outra questão apontada é a informalidade nos arrendamentos. Muitos senhorios não emitem recibos, o que dificulta aos estudantes o acesso a complementos de alojamento, previstos por lei. “Se 50% dos senhorios está legal e outra metade não, é um número muito acima para quem está na ilegalidade, e continua a ser um problema muito grave para quem depois quer pedir este tipo de benefícios”, afirma Fábio Lopes.

A escassez de alojamento próximo das faculdades

A falta de quartos perto das instituições de ensino é outro desafio significativo. Inês Santos recorda que muitos estudantes da Escola Superior de Saúde têm que percorrer longas distâncias a pé diariamente, dado que os quartos próximos da faculdade estão quase todos ocupados por estudantes de anos anteriores. Sérgio Marques menciona casos semelhantes na ESEV, onde alguns alunos moram na zona de Jugueiros, tendo que enfrentar uma caminhada longa ou custos adicionais de transporte.

No Piaget, a situação é ligeiramente diferente. Fábio Lopes explica que muitos estudantes inicialmente optam por residir nas instalações da instituição em Lordosa, mas acabam por procurar alojamento no centro da cidade após algum tempo.

Mentoria e apoio na procura de alojamento

Gonçalo Salema, mentor na ESEV, partilha a sua experiência ao ajudar novos estudantes a encontrar alojamento. Este ano, com as matrículas ainda no início, muitos estudantes parecem já ter encaminhado a situação do alojamento, mas os desafios continuam a ser os mesmos: distância, preços elevados e a falta de recibos.

No ano anterior, Gonçalo encontrou colegas que ponderaram desistir do curso por não conseguirem encontrar um lugar para morar. “É infeliz terem de desistir do ensino superior por falta de alojamento”, lamenta. No entanto, o jovem mantém a esperança de que, a longo prazo, a situação melhore, seja pelo aumento de residências ou por novas medidas de apoio ao alojamento estudantil.

Alternativas que os jovens encontram

É cada vez mais comum os jovens “unirem-se em grupo” e alugarem um apartamento “a dividir entre eles”. Quem nos conta é a imobiliária Habifactus, uma das alternativas a que pais e estudantes recorrem a nível habitacional. A imobiliária refere que alguns jovens optam por “fazer um contrato em nome de todos” para poderem assegurar as “condições que querem”. Há casos de pais que compram os apartamentos, “colocam lá os filhos e arrendam os restantes quartos”. 

Segundo a imobiliária, os quartos “mais antigos” costumam rondar o valor de 180 euros, enquanto os mais recentes rondam os “200, 250, ou 300 euros”. Como zonas mais procuradas estão a Quinta do Galo “pela proximidade à ESTGV [Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu] e à Universidade Católica”. Perto da ESEV, os mais procurados encontram-se na zona histórica e na Rua Serpa Pinto, “porque por hábito a maioria dos estudantes não traz carro e quer evitar os transportes”, acrescenta um dos funcionários da imobiliária.

O jovem da Mentoria ESEV, Gonçalo Salema, acredita que, em Viseu, poderia ser aplicado um programa (Viseu já teve) “em que muitas pessoas idosas recebessem estudantes nas suas casas”. Uma solução que, para o jovem, “simultaneamente ia ajudar a contribuir para a resolução do problema do isolamento das pessoas idosas e para o alojamento dos estudantes”. Gonçalo acrescenta que “em Viseu há muitas pessoas idosas sozinhas, isoladas nas suas casas, e acho que este programa seria ótimo”.

Iniciativas e sugestões para contrariar a situação

As associações de estudantes têm tentado mitigar as dificuldades na procura de quartos. Sérgio Marques explica que na ESEV há um quadro onde os senhorios podem colocar anúncios de quartos disponíveis. No entanto, reconhece que estas iniciativas são limitadas, dado que apenas estabelecem uma ponte entre senhorios e novos estudantes. “Nós não conhecemos a casa, não sabemos se está em condições,” admite.

O vogal da direção da FAV, Fábio Lopes, sugere uma maior regulação no mercado de arrendamento para estudantes, incluindo a criação de uma plataforma que agregue informações sobre quartos disponíveis, reservada especificamente para estudantes do ensino superior. Sérgio Marques acrescenta que, se as instituições querem aumentar o número de vagas, precisam de garantir condições básicas de alojamento. “Se querem aumentar as vagas, têm que arranjar solução,” afirma.

Inês Santos sublinha o impacto negativo que a falta de alojamento adequado pode ter na experiência académica dos estudantes, afetando até a sua saúde mental, levando a maiores taxas de desistência. “Deviam ser os melhores anos da vida deles, mas acabam por não ser”, lamenta.

A necessidade de mudança 

As histórias partilhadas pelos caloiros e pelos representantes estudantis pintam um quadro onde “a oferta de alojamento não acompanha o crescimento do número de estudantes”. 

Sérgio Marques, que é vogal na direção do FNAEESP, refere que “cada vez mais as instituições estão a focar-se em aumentar as vagas, ter mais estudantes, ter mais dinheiro a entrar em propinas, mas não se preocupam com as necessidades básicas”, e questiona “de que é que vale aumentarem as vagas, se não temos onde viver?”.

“Somos nós, jovens, que conseguimos mudar o país, e eles têm que investir em nós”, declara o também presidente da Associação de Estudantes da ESEV, apelando a uma intervenção urgente por parte das instituições e do governo.

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