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Autarcas dizem que fixação de tarifas da água pela ERSAR “é inaceitável”

As tarifas devem ser ajustadas à realidade económica e social de cada território, numa lógica de coesão territorial, dizem os presidentes de câmara que receiam perda da autonomia do poder local

 Autarcas dizem que fixação de tarifas da água pela ERSAR “é inaceitável”
14.09.24
fotografia: Jornal do Centro
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 Autarcas dizem que fixação de tarifas da água pela ERSAR “é inaceitável”
20.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
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 Autarcas dizem que fixação de tarifas da água pela ERSAR “é inaceitável”

A presidente da Câmara de Tondela espera que haja a “equidade necessária” por parte da ERSAR na fixação de tarifas pela Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR). Em Mangualde, o autarca fala em decisão “inaceitável”. Ambos falam em perda da autonomia local.

A maioria dos autarcas critica a decisão que permite à ERSAR fixar as tarifas da água por “violar a autonomia do poder local”, considerando que “não deve ser uma entidade externa a impor as tarifas que se aplicam” nos municípios. Mas nem todos têm a mesma posição.

Fernando Ruas (PSD), presidente da Câmara de Viseu, admite que o valor da água deve ser uniforme em todo o território, “tal como é o valor da eletricidade”.

“Os municípios que estão mais perto dos centros de produção não têm a eletricidade mais barata. A água deve ter um preço uniforme. Não faz sentido que alguns sistemas de água do interior, muitas vezes onde a água está, tenham valores muito superiores aos do litoral”, sublinhou o autarca que já foi presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses (ANMP).

Já para a autarca de Tondela, Carla Antunes (PSD), esta é uma matéria que precisa de uma “grande reflexão”.

“Para mim há um principio de base que é o respeito e defesa do poder local que é fundamental do que é a coesão territorial e todas as iniciativas legislativas que possam ocorrer têm de ter em conta este pilar. Posto isto, tendo em conta que neste poder autárquico foram delegadas várias competências, nomeadamente a competência da gestão do abastecimento público de água, entendo que essa matéria deverá merecer uma grande reflexão por parte dos autarcas e acima de tudo da ANMP e perceber claramente o nível de intervenção que a ERSAR pretende fazer porque é uma entidade reguladora de sistemas”, realçou a presidente da autarquia.

Ainda de acordo com a autarca, a ERSAR tem de ter a preocupação de olhar para o mapa e perceber que “há territórios com diferentes densidades populacionais, com diferentes capacidades, por exemplo, de represar a água, e que há territórios com diferentes capacidades económicas e sociais para fazer face a um determinado conjunto de compromissos”.

Uma visão que é defendida também pelo autarca de Mangualde. Marco Almeida (PS) fala numa decisão inaceitável e quem vai pagar é o consumidor. “Com isto estamos a aumentar as assimetrias. É um dos piores sinais de coesão. Nós não podemos olhar para os territórios de baixa densidade que tem redes muito maiores e custo muitos mais altos que outras zonas das áreas metropolitanas. Com esta decisão estão a obrigar mais uma vez o consumidor a pagar e o consumidor dos territórios onde ganham menos”, disse o autarca.

Também o socialista Paulo Marques, presidente da Câmara de Vila Nova de Paiva, diz que até se poderia entender a uniformização do preço, mas “a verdade é que o país é constituído por concelhos muito diferentes até dentro da própria região a que pertencem”.

A perda da autonomia do poder local é o fator que mais cria desconfiança nos autarcas. O presidente dos Autarcas Social-Democratas (ASD), Pedro Pimpão, também já disse que a fixação de tarifas “não faz qualquer sentido” e viola a autonomia do poder local. O mesmo foi avançado pela presidente da ANMP, a socialista Luísa Salgueiro, que considera que “não deve ser uma entidade externa a impor as tarifas que se aplicam” nos municípios.

ANMP deu parecer desfavorável

Segundo a ANMP, o gabinete do secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros pediu, em 9 de agosto, a emissão de parecer à associação, até ao dia 20 seguinte, sobre o projeto de decreto-lei que define, para 2024, as tarifas e os rendimentos tarifários e demais valores cobrados nos termos dos contratos de concessão de sistemas multimunicipais.

A ANMP nota, contudo, que, no dia 8 de agosto, o Governo, liderado por Luís Montenegro (PSD), já tinha aprovado, em Conselho de Ministros, um decreto-lei que define as tarifas, “aplicando os valores de 2023 ajustados à taxa de inflação”, sendo que o diploma devolve à ERSAR “as competências para a fixação das tarifas, revogando a alteração introduzida na Lei do Orçamento do Estado para 2021 e regressando ao modelo em que os poderes tarifários são exercidos por entidade administrativa independente”.

“As tarifas devem ser ajustadas à realidade económica e social de cada território, numa lógica de serviço público e não numa lógica puramente económico-financeira, sob pena de conduzir à elevação das tarifas para níveis socialmente incomportáveis, sobretudo e em particular, nas regiões do país economicamente mais desfavorecidas, mais dispersas e menos densamente povoadas”, defende a ANMP no seu parecer desfavorável ao projeto.

No documento, a ANMP preconiza que “a solução passará por assegurar a sustentabilidade económica e financeira dos sistemas, e isso não se pode fazer apenas pela via tarifária, sendo fundamental refletir seriamente sobre a introdução de mecanismos de perequação, baseados na solidariedade entre sistemas”.

Para Pedro Pimpão, também presidente da Câmara de Pombal, no distrito de Leiria, a posição da ANMP corresponde àquela que é a visão dos ASD, “de os municípios poderem ter autonomia, de acordo com a lei, para poderem estabelecer aquilo que são os valores aplicados nos serviços que prestam”.

O presidente do município de Pombal e igualmente vogal do Conselho Diretivo da ANMP acrescentou que espera que “o Governo seja sensível aos argumentos dos autarcas que querem ver salvaguardadas as realidades económico-sociais de cada território sobre os quais têm responsabilidade”.

Para o governo, que anunciou manter os preços de 2023 para as tarifas da água com um ajuste à inflação, a decisão de a partir de 2026 entregar o ciclo tarifário à ERSAR é a reposição de um erro.

“Não deveria ter saído dali em 2021, foi um erro”, disse o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, pelo que o governo altera e regressa à “situação pré-existente: o poder de fixação de tarifas para os vários tipos de sistemas volta para o regulador, que o fará com independência, racionalidade e imparcialidade”.

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