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A um século dos 1000 anos, Sernancelhe celebra a Festa da Castanha

A Festa da Castanha é o certame mais antigo do concelho de Sernancelhe e assinala a 32ª edição este fim de semana (25 a 27 de outubro). Um evento em que todos os stands em exposição estão associados à castanha de alguma forma e os expositores ultrapassam uma centena. Nesta entrevista, o vereador da Cultura, Armando Mateus, conta-nos quem são os maiores inimigos do fruto e dá-nos 1000 razões para ir à Festa da Castanha

Carolina Vicente
 A um século dos 1000 anos, Sernancelhe celebra a Festa da Castanha
26.10.24
Jornal do Centro
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 A um século dos 1000 anos, Sernancelhe celebra a Festa da Castanha
18.12.24
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 A um século dos 1000 anos, Sernancelhe celebra a Festa da Castanha

O que é que podemos esperar desta edição da Festa da Castanha?

Esta edição, acima de tudo, quer manter uma identidade que a Festa da Castanha conquistou ao longo de mais de três décadas, uma identidade que as pessoas que nos visitam querem encontrar. E essa identidade tem a ver muito com a temática que é a castanha e tudo o que envolve a castanha. 

Os visitantes vão em busca de quê?

Nomeadamente gostam de encontrar vários produtos à base de castanha, e é esse o nosso princípio – que todos os stands que estão em exposição mantenham essa característica de estarem associados ou diretamente à produção da castanha, ou à transformação da mesma. Procuram também uma parte cultural e musical de cariz popular, mantendo sempre o Fado, o fado à desgarrada, o fado mais popular, e uma gastronomia que também está associada aos pratos de outono, na qual também está incluída a castanha. A Festa da Castanha tem que ser um evento onde se sinta de todas as formas a presença da castanha. Seja no cheiro, seja visualmente, no paladar, ou até no tocar no ouriço, seja no sentir este momento que é o outono e que nos traz este fruto maravilhoso que, no caso de Sernancelhe, a Martaínha é a rainha das castanhas.

Já são 32 edições, como é que tem sido a evolução desta feira?

Esta evolução veio a resposta daquilo que os visitantes procuravam. Com o aumento exponencial de visitantes os desafios cada vez foram sendo maiores. Inicialmente o maior desafio foi aumentar a área da própria feira, a área de exposição, porque o Exposalão em si já era pequeno para as visitas, e também para os expositores que nos procuravam ou que pretendiam pertencer à Festa da Castanha. Como tal, nós tivemos que criar novas áreas. 

Que áreas foram essas?

Iniciamos com a tenda gastronómica onde temos exclusivamente restaurantes específicos da região, com uma gastronomia típica e onde a castanha está incluída em todos os pratos. Depois houve também a necessidade de, na entrada do Exposalão, criarmos uma tenda de boas-vindas onde incluímos as instituições, parceiros ou patrocinadores da própria feira. Também aumentamos a partir do Douro Cidade Europeia do Vinho uma nova tenda mais dedicada ao vinho, uma vez que também somos grandes produtores de uva, e como tal é uma forma de ter representados os nossos viticultores e a nossa uva. No exterior também temos uma área de reforço de alimentação, uma alimentação mais rápida para quem não quer ter uma refeição tão demorada ou de forma mais cómoda, mas queira comer alguma coisa, ou comidas mais tradicionais, e também algumas associações com as suas barracas. Temos também uma área mais alargada no exterior onde recebemos, nos últimos anos, um programa de televisão.

Quantos expositores estarão presentes?

É mais de uma centena de expositores e desta mais de uma centena de expositores, aproximadamente metade são produtores diretos, indiretos ou transformadores de Castanha, não contando aqui a restauração e tudo o que envolve. Quando falamos em expositores é mais propriamente no Exposalão. Ultrapassam uma centena e metade são diretamente produtores ou indiretamente transformadores de Castanha.

Quantos quilos de castanha são normalmente vendidos?

É difícil responder a essa questão. Garantidamente são algumas toneladas de castanha que são vendidas porque estamos perante uma feira que tem dos maiores produtores e dos produtores que mais selecionam o produto. Também existem empresas agroalimentares que são ‘intermediárias’ e transformadoras de castanha, as maiores empresas agroalimentares do concelho que fazem a comercialização da castanha, mas ao longo destes três dias não sei precisar. Vendem-se algumas toneladas de castanha durante a feira, mas é difícil precisar porque nós nunca tivemos essa contabilização por parte dos produtores. 

Como foi a produção este ano? O mau tempo prejudicou a campanha da castanha? Há duas questões diferenciadas: um verão prolongado, sem pluviosidade, com falta de chuva, que se temia por uma menor produção de castanha, e posteriormente foi a questão dos últimos ventos fortes que fizeram alguma destruição, não só do fruto, mas destruíram na totalidade a árvore. Os castanheiros de porte maior foram aqueles que sofreram mais porque são aqueles que tinham troncos mais pesados, e com os fortes ventos que se sentiram nesta zona de mais altitude – estamos a 800 metros de altitude – houve a perda total de alguns castanheiros que fez com que a produção tenha diminuído. No entanto, estamos perante um ano de produção menor mas de uma excelente qualidade. É um fruto que, contrariamente aos últimos dois anos, não tem problemas, sejam eles o fungo que atacou no ano passado ou algum bichado de há dois anos. Estamos perante um fruto completamente são e com muita qualidade, mas sim com uma menor quantidade.

A castanha do concelho é maioritariamente para mercado interno ou externo?

A castanha que se produz no concelho de Sernancelhe, num ano de melhor produção, atinge os 3.5 mil a 4 mil toneladas e esta produção de castanha é maioritariamente para exportação. Como tem uma qualidade extrema, a variedade Martaínha, tendo ela um calibre, tendo ela um sabor adocicado e uma facilidade para descascar, é uma castanha que é muito procurada para a exportação. Essencialmente, é exportada para o Brasil, Estados Unidos, Canadá e também, em menor percentagem, mas significativamente para os mercados da saudade e mercados europeus onde nós temos as grandes comunidades e os nossos emigrantes.

O que é que a produção da castanha representa a nível económico?

Este é, dos produtos agrícolas, aquele que traz o maior retorno financeiro ao agricultor, ainda que produzamos em maior quantidade uva, maçã e azeitona. A castanha está em quarto lugar. Em questões de retorno financeiro, a castanha avança para o primeiro lugar. É ela que traz o maior retorno, porque também tem o maior preço em quilo. Como tal, é a castanha aquela que traz mais retorno financeiro para o concelho, na ordem dos 3.5 milhões de euros.

Qual é o maior inimigo das castanhas?

O castanheiro tem sido muito afetado com as alterações climáticas. Estamos a falar de uma árvore milenar, que resiste ao longo dos séculos ao frio, mas as temperaturas têm aumentado. Este aumento de temperatura tem trazido bastantes danos para o castanheiro. Existem ainda as pragas ou as doenças que, em conjunto com as alterações climáticas, têm-se tornado mais agressivas, nomeadamente a questão da tinta e a questão do cancro do castanheiro. Na última década surgiu uma nova praga que é a vespa da galha do castanheiro. Esta vespa deposita os seus ovos na altura da criação do gomo do castanheiro, e cada fêmea tem a capacidade de depositar em média 100 ovos. Estes 100 ovos vão reproduzir novamente 100 insetos, 100 fêmeas, porque nesta espécie só existem fêmeas. Neste depósito de ovos e nesta multiplicação tão acelerada faz uma diminuição da frutificação do castanheiro. Não mata o castanheiro na totalidade, conforme acontece com a tinta ou com o cancro, mas reduz drasticamente a sua produção. 

Que medidas estão a ser tomadas?

Neste momento estamos a trabalhar juntamente com politécnicos e universidades no combate a estas doenças, e estamos a avançar também com o gabinete florestal no estudo e na sensibilização de novas técnicas para os agricultores combaterem estas duas doenças, que são essencialmente combatidas com boas práticas e com produtos químicos e fito farmacêuticos, que fazem a minimização da doença. No caso da vespa da galha do castanheiro, o combate desta doença biológica é feito também com outro inseto que se alimenta deste, e teremos que aguardar três, quatro ou cinco anos para que se encontre o equilíbrio entre o inseto que é prejudicial e aquele que é benéfico. São medidas a que o município está atento, e com o gabinete florestal estamos no terreno para minimizar estes fatores.

Para terminar, mil razões para ir à Festa da Castanha

As razões são mesmo essas. São imensas e convidativas a que ninguém falhe durante os dias 25, 26 e 27. Este ano com um marco a que a Festa da Castanha está associada, que é aos 900 anos do foral da concessão de vila a Sernancelhe. Temos uma festa cheia de musicalidade, de gastronomia, com um bom cartaz e animação, mas para além disso temos o marco dos 900 anos do Foral que traz todo um outro cartaz para marcarmos esta data tão importante. Temos ainda as caminhadas, que são feitas pelos trilhos da castanha e do castanheiro, temos a prova de BTT, que é o mais longo de Portugal e que tem sempre uma adesão que ultrapassa os 2000 participantes, os showcooking que vamos ter ao longo de todo o evento, e também o facto de que quem visita Sernancelhe neste fim de semana poder aproveitar o outro património cultural e de natureza. Isto faz um combinado perfeito para um fim de semana em família e com uma previsão de tempo boa. Nada melhor que vir até à Terra da Castanha provar as nossas castanhas Martaínha e beber um vinho nosso. 

 A um século dos 1000 anos, Sernancelhe celebra a Festa da Castanha

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