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Márcia Passos
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Marco Ramos
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Pedro Escada
Números recentes mostram que o cancro da mama continua a ser o mais prevalente. Neste mês de alerta para a importância da prevenção, como interpreta esta constatação?
Importante é a prevenção primária. Sem dúvida, que os estudos recentes, concluíram que a prevenção primária no cancro da mama é fundamental, tal como em qualquer outro tipo de cancro. É o cancro mais frequente na mulher e a primeira causa de morte por cancro no sexo feminino
A causa do cancro da mama é na maior parte desconhecida. Existem, contudo, uma série de fatores de risco bem estabelecidos que aumentam a probabilidade de desenvolver um tumor maligno da mama. Estima-se que aproximadamente cerca de 50% de novos diagnósticos de cancro da mama se podem explicar por fatores associados.
Há os fatores de risco considerados não modificáveis, como por exemplo, a idade, sexo, raça, densidade do tecido mamário, idade da primeira menstruação e a idade da última menstruação (menopausa), fertilidade, genética e antecedentes pessoais e familiares de patologia mamária. E depois existem os fatores de risco modificáveis, que tal como o nome indica podemos alterar, tais como as hormonas sexuais exógenas, obesidade, alcoolismo, tabagismo, fatores reprodutivos, a atividade física e o estilo de vida.
Qual a prevalência do cancro da mama na região de Viseu e maioritariamente em que faixas etárias? Há uma tendência/explicação? E a nível global? Estamos melhor ou pior que outros países da Europa?
Em Portugal são diagnosticados cerca de 6 mil novos casos de cancro da mama por ano e 1.500 mulheres morrem durante a sua luta contra esta doença, uma realidade que é semelhante nos outros países da Europa.
Relativamente a Viseu, não existem dados estatísticos específicos sobre cancro da mama nesta região, nomeadamente sobre as faixas etárias. Contudo, e de acordo com a minha experiência de mais de 20 anos nesta área, parece-me que está em linha com os dados nacionais. Fui coordenador da Unidade da Mama durante 20 anos no Hospital de São Teotónio, do qual me aposentei em janeiro de 2024, e coordeno desde 2016 a Unidade da Mama e a Ginecologia-Obstetrícia do Hospital CUF Viseu. Ao longo da minha carreira estive sempre dedicado à Ginecologia Oncológica Mamária, na qual destaco a colaboração na área da formação com a Liga Portuguesa contra o Cancro-Núcleo do Centro.
Que avanços tem havido no campo do tratamento e diagnóstico e o que ainda é preciso continuar a fazer?
Os avanços no diagnóstico precoce – através da mamografia 3D, por exemplo, que veio permitir o diagnóstico de tumores milimétricos – e o aparecimento de melhores tratamentos, quer sejam cirúrgicos ou médicos, têm permitido alcançar uma taxa de cura muito favorável com sobrevivência superior a 80%. As técnicas cirúrgicas (cirurgia conservadora e a técnica de gânglio sentinela para a axila) são efetuadas em cerca de 75% das doentes. A sofisticação da cirurgia oncológica é cada vez maior, com técnicas cada vez menos invasivas que permitem uma melhor e mais rápida recuperação.
Há novas terapias a serem utilizadas? É fácil adaptar uma terapia a um conjunto de doentes ou cada caso é um caso?
Cada subtipo de cancro da mama tem atualmente um tratamento específico. Há tratamentos que têm um alvo definido. A evolução dos conhecimentos científicos, nos últimos anos, permite-nos conhecer melhor as características moleculares e os mecanismos imunológicos dos tumores que permitem a aplicação de um plano de tratamentos com novas terapêuticas e mais personalizadas, traduzindo-se numa diminuição da mortalidade. No Hospital CUF Viseu, por exemplo, utilizamos os fármacos mais recentes e mais eficazes, como as terapias-alvo, imunoterapias e outras combinações terapêuticas.
Qual a taxa dos doentes com cancro da mama que dá a volta a este diagnóstico? Consegue-se curar mais?
Como referi anteriormente, o diagnóstico precoce, juntamente com o aparecimento de novas técnicas cirúrgicas e de tratamentos médicos, levam a uma taxa de cura significativa. Quando diagnosticado precocemente, o cancro da mama regista taxas de sobrevivência aos cinco anos próximas dos 85%.
Ser acompanhada num centro com equipas especializadas e experientes e com acesso a terapias inovadoras é também uma mais-valia.
Como se gerem as expectativas dos doentes? Tem uma carreira longa e é um dos mais conceituados especialistas nesta área. O que mudou na última década e, já agora, como o próprio médico gere quando tem de dizer a um doente que tem cancro?
As expectativas das doentes têm de ser geridas conforme o subtipo histológico do cancro da mama. A evolução científica é enorme. Há tratamentos cirúrgicos e médicos que se fazem agora, que não eram realizados há cerca de 8-10 anos, por exemplo. A nossa atuação implica formação contínua para acompanhar esta evolução, e sempre em articulação com uma equipa multidisciplinar que engloba a Imagiologia, Cirurgia Geral, Oncologia Médica, Anatomia Patológica e Radioterapia.
Há relação entre cancro da mama e menopausa?
Relação direta não há. Aparecem nas doentes pós-menopausas, isto é, nos últimos 30-35 anos de vida da mulher.
Fala-se que o cancro da mama em mulheres jovens está a aumentar. Qual a explicação?
De facto, há um aumento de cancro da mama, nas gerações mais novas.
Um artigo científico de 2023, da Sociedade Norte Americana do Cancro (ACS) e da Universidade de Calgary, no Canadá, se cingir aos EUA, os resultados que obteve batem completamente certos com os de uma pesquisa anterior, coordenada pela Universidade chinesa de Zhejiang e publicada em Setembro de 2023, na revista científica BMJ Oncology.
Com a colaboração de investigadores dos EUA, Reino Unido e da Suécia, o estudo dirigido por aquela universidade chinesa teve uma dimensão bem mais ampla: baseou-se em dados do Global Burden of Disease Study 2019 sobre 29 tipos de cancro em 204 países. Como principal resultado, concluiu que os novos casos de cancro entre pessoas com menos de 50 anos aumentaram 79,1% em todo o mundo, de 1990 a 2019, enquanto o número de mortes subiu 27,7%, com particular incidência no cancro da mama.
Mas, a que se devem os casos de cancros em idades precoces?
Os investigadores sugerem, como possíveis causas, a exposição a poluentes e a outras toxinas ambientais, a obesidade, as dietas pouco saudáveis, ricas em gorduras saturadas e alimentos ultraprocessados e os maus hábitos de sono.
Quais são os alarmes a considerar para que a prevenção seja o primeiro passo?
Ações de sensibilização para a comunidade sobre prevenção primária e sensibilizar as mulheres para o diagnóstico o mais precoce possível da doença. É importante estarem alerta para a vigilância da sua saúde, fazerem todos os meses o autoexame da mama e caso notem alguma alteração, procurem o médico. O autoexame não dispensa a consulta de um médico, mas pode ajudar num diagnóstico precoce do cancro da mama.
O rastreio deveria começar mais cedo?
O rastreio de cancro da mama atualmente é efetuado às mulheres entre os 50-69 anos. Recentemente foi anunciado pelo Governo que o rastreio será alargado a mulheres a partir dos 45 anos.
Consegue-se fazer investigação nesta área oncológica ou há necessidade de se criarem mais condições, até porque tudo está a evoluir?
A investigação deverá ser efetuada em centros diferenciados. O cancro é uma das áreas da saúde em que mais se faz investigação. As equipas clínicas da CUF Oncologia têm desenvolvido projetos de investigação e participado em ensaios clínicos nacionais e internacionais.
Falamos agora no cancro da mama nos homens. É raro, mas existe. A mulher deve ter cuidados diários como a apalpação para perceber alertas. O que deve fazer o homem?
É raro, mas existe. Em termos percentuais, numa Unidade de Mama, em cada 100 cancros da mama na mulher aparece um cancro do homem. Se o homem notar um nódulo da mama deverá dirigir-se ao médico assistente.
Há igualdade, em termos de acessibilidade, no tratamento do cancro da mama?
Sim, o homem tem os mesmos meios de acessibilidade.