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Alfredo Simões
Sendo eu um mero utilizador curioso da Inteligência Artificial (IA) generativa (criação de textos, imagens, etc.), a atribuição recente dos Prémio Nobel da Química e da Física – ambos relacionados com resultados de investigação relevantes para o desenvolvimento desta tecnologia – tinha-me entusiasmado a escrever um artigo que falasse na experiência de um utilizador comum e principiante de uma tecnologia cuja notoriedade tem acelerado nos últimos tempos e que está aí disponível, ao virar da esquina. Não é algo para as calendas, é mesmo para hoje e para os dias seguintes.
Mas, entretanto, foi atribuído o Prémio Nobel da Economia que, não tendo a ver com IA, acabei por fazer essa ligação.
O designado Prémio Nobel da Economia foi atribuído a Daron Acemoglu e Simon Johnson, do MIT, e a James Robinson, da Universidade de Chicago pelos “estudos sobre o modo como as instituições são formadas e afetam a prosperidade” (https://www.nobelprize.org/prizes/economic-sciences/2024/press-release). Os laureados demonstraram a importância das instituições sociais para a prosperidade de um país. Sociedades com um estado de direito deficiente e instituições que exploram a população e os recursos existentes – organizações de natureza ‘extrativa’ -, para benefício de alguns, não geram crescimento ou mudança para melhor. Ao contrário, sociedades com sistemas politico e económico ‘inclusivos’ geram crescimento e bem-estar para a generalidade da população. Este trabalho de investigação está amplamente documentado na obra publicada em 2013, “Porque falham as nações” (Temas & Debates), da autoria de dois dos agora laureados, Daron e James.
Esta investigação, com resultados conhecidos há mais de uma década, prosseguiu, entretanto, e os laureados Daron e Simon publicaram, já este ano, a obra “Poder e Progresso – a nossa luta milenar pela tecnologia e prosperidade” (Temas & Debates). Nesta obra, os dois autores fazem uma análise da evolução tecnológica – das técnicas agrícolas primordiais, à Revolução Industrial até à inteligência artificial – considerando-a como o “principal motor da prosperidade”. Porém, os ganhos de produtividade alcançados a partir dos avanços tecnológicos que a sociedade foi conhecendo tendem a concentrar-se num pequeno grupo e não a estenderem-se de forma automática para a generalidade da sociedade. Como referem estes autores “Ricardo e Keynes podem não ter acertado em cada pormenor, mas entenderam corretamente que o crescimento da produtividade não garante, de forma automática, uma prosperidade geral. Isto só terá lugar quando as novas tecnologias aumentam a produtividade marginal do trabalhador (acréscimo da produção gerado pelo aumento de uma unidade de trabalho), com os lucros a serem partilhados entre empresas e funcionários”. As técnicas e as máquinas novas “podem gerar prosperidade partilhada ou uma desigualdade profunda, dependendo de como forem usadas e da direção imposta ao novo esforço inovador”. “O que está em causa” – referem os autores – “não é simplesmente que as alterações tecnológicas beneficiem mais uns do que outros. A um nível mais fundamental, as diferentes formas de organizar a produção enriquecem e empoderam algumas pessoas e enfraquecem outras”, acrescentam exemplificando com o sistema de crédito social chinês ou o poder de Zuckerberg em alterar o algoritmo do facebook em seu benefício próprio.
Não haverá um remédio contra as visões mais ruinosas impostas aos indivíduos sem o seu consentimento? Os autores dão uma resposta positiva, embora cautelosa, a esta interrogação e a “prosperidade partilhada” torna-se mais provável – como, aliás, tem acontecido ao longo da história – havendo forças na sociedade que exerçam um contrabalanço. Porém, dizem, “se não nos quisermos ver encurralados pelas visões das elites poderosas temos de encontrar maneiras de contrariar o poder com fontes alternativas de poder e de resistir ao egoísmo com uma visão mais inclusiva. Infelizmente, na era da inteligência artificial, isso torna-se cada vez mais difícil”.
…
Estávamos todos ainda a digerir a apresentação dos Prémio Nobel e a viver o entusiasmo que as novidades como a da inteligência artificial nos trazem, quando surge a notícia do encerramento de serviços, a serem substituídos por máquinas, em algumas agências da CGD. O que chama particularmente a atenção é o facto de muitas delas se localizarem no interior e, em especial, em pequenas localidades.
Em regra, e admitindo que se trata de uma boa medida de gestão, o objetivo é tornar mais eficiente o uso dos recursos, isto é, que a contenção das despesas em pessoal conduza a uma poupança sem pôr em causa a produção de cada um dos que ficaram. Aparentemente, todos ganham, nomeadamente a organização que liberta recursos que podem ser utilizados noutras atividades uteis à sociedade.
Mas, os recursos humanos dispensados, mesmo estando garantidos todos os seus direitos legais, perdem alguma estabilidade na sua vida e da sua família, podem perder alguns rendimentos, etc. Os destinatários dos serviços automatizados poderão perder, pela dificuldade em lidarem com a nova situação. Reduzindo a oferta de emprego na agência bancária, a economia local perde uma fonte de rendimento e consequente diminuição do consumo responsável pela dinamização de outras atividades económicas. Aquela localidade vai esvaziar-se. Até porque esta medida da CGD junta-se ao encerramento anterior da escola primária, do serviço de saúde, dos correios, etc. – tudo isto em nome de melhor oferta de serviços de educação, saúde, comunicações para todos. Se acrescentarmos a substituição do aprovisionamento dos mercados urbanos por produtores locais em virtude da maior eficiência dos grandes circuitos de distribuição; se formos somando os resultados de todas estas medidas de eficiência percebemos por que o interior continua a esvaziar-se. Se é verdade que a sociedade, no seu global, ganhou, não se pode esquecer aqueles que perderam e os que virão a perder com as tecnologias novas que vão surgindo, nomeadamente com a inteligência artificial.
Nesta perspetiva, o interior vai continuar a perder. E a esvaziar-se.
A não ser que, como dizem os laureados com o prémio Nobel da Economia atribuído em 2024, haja forças na sociedade com uma visão mais inclusiva e que “exerçam um contrabalanço”.
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Vítor Santos
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