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2 de novembro de 2024 vai ficar na história de Luís Matos, árbitro natural de Tondela, que integra os quadros da Associação de Futebol de Viseu. Aquele que parecia mais um jogo, tornou-se memorável porque o juiz principal decidiu mostrar um cartão branco a um companheiro de equipa de arbitragem no jogo que opôs as equipas de sub-18 do Oliveira de Frades e da Sampedrense. Tudo aconteceu já perto do final do encontro. Numa disputa de bola, um jogador salta e, na queda, bate com as costas na bola de futebol. “Caiu desamparado”, começa por contar Luís Matos ao Jornal do Centro. “Bateu com as costelas em cima da bola”, concretiza o árbitro.
Foi nesse momento que Leandro Tiago, natural de Carregal do Sal, decidiu que tinha de auxiliar o atleta. “Queixava-se muito e o meu colega foi ver o que se passou. Atravessou o campo de um lado ao outro”, detalha o árbitro tondelense. “Puseram-lhe o tal spray milagroso e, entretanto, o atleta conseguiu deslocar-se para fora do campo. Foi chamada a ambulância e o meu colega continuou a assisti-lo. Foi-lhe fazendo várias perguntas, se sentia as pernas, se tinha formigueiro. Conseguiu pô-lo de lado, enquanto não chegava a ambulância. E quando a equipa de socorro chegou, nunca saiu dali, sempre a apoiar no que fosse preciso até a ambulância abandonar o estádio”, narra Luís Matos.
Nessa tarde, já com o dia a perder a luz do sol, o árbitro de Tondela mostraria cartão branco ao colega de equipa. Este cartão, implementado pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude, tem como objetivo “enaltecer condutas eticamente corretas, praticadas por atletas, treinadores, dirigentes, público e outros agentes desportivos”, como pode ler-se na página no IPDJ. “Teve uma atitude de fairplay. O público também apelou a que isso acontecesse. Eu nunca tinha visto um árbitro auxiliar prestar socorro a um jogador”, atira. “Os árbitros nunca são vistos pelo lado positivo. Então sendo um jovem árbitro – deve ter 22 ou 23 anos – é de louvar. É um gesto pelo futebol. Nunca vi um árbitro auxiliar levar um cartão branco. Nem eu esperava que ele saísse do posto para ir socorrer”, confessa. O árbitro auxiliar, Leandro Tiago, integra o corpo de bombeiros de Carregal do Sal. Quanto ao jogador, Luís Matos diz que lhe foi dito que “estava a melhorar”.
No percurso que fez e faz na arbitragem, Luís Matos recorda que já atribuiu cartão branco a jogadores e diretores. “Uma vez marquei penalti e um jogador de 12 anos veio ter comigo e disse-me que não era penalty, que o adversário não tinha tocado a bola com a mão. Já mostrei cartões também a diretores por prestarem apoio a atletas da equipa adversária já depois de terem sido mal tratados pelos pais durante o jogo. Lembro-me de um diretor ir com um jogador da equipa adversária até ao hospital”, enumera. Naquela tarde, em Oliveira de Frades, escreveu-se uma nova página na história do cartão branco em Portugal. O ‘cartão da ética’ foi aprovado pela Federação Portuguesa de Futebol em 2018.