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Projeto que aproveita nevoeiro e investe na reflorestação chega à região de Viseu e ao país

CIM Viseu Dão Lafões desenvolveu nos últimos anos o projeto Life Nieblas que foi testado em simultâneo em Portugal e Espanha. Cine Teatro de Vouzela recebeu iniciativa que deu a conhecer resultados do projeto

Micaela Costa
 Projeto que aproveita nevoeiro e investe na reflorestação chega à região de Viseu e ao país
07.11.24
fotografia: MC
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 Projeto que aproveita nevoeiro e investe na reflorestação chega à região de Viseu e ao país
26.12.24
Fotografia: MC
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 Projeto que aproveita nevoeiro e investe na reflorestação chega à região de Viseu e ao país

O projeto que nos últimos três anos testou o uso do nevoeiro na recuperação de áreas florestais afetadas por incêndios e que procurou identificar a forma mais eficaz de plantação vai ser replicado em vários concelhos da Comunidade Intermunicipal (CIM) Viseu Dão Lafões e no país. Uma vontade demonstrada pelos representantes da CIM e Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

As conclusões do projeto foram apresentadas esta quinta-feira (7 de novembro) no Cine-Teatro de Vouzela, um dos concelhos onde foi testado, a par de Carregal do Sal. Além de Portugal, o projeto “Life Nieblas” foi desenvolvido em florestas autóctones de Espanha, nas regiões da Catalunha e Gran Canária.

“O objetivo era testar a captação de água e depois melhorar a forma de plantação para maximizarmos a taxa de sobrevivência das plantas. Podemos dizer que a missão foi superada nas duas vertentes”, explicou o responsável da Unidade de Ambiente e Proteção Civil Intermunicipal da CIM Viseu Dão Lafões.

Segundo André Mota, “na vertente da captação de água, em Carregal do Sal tivemos uma média de 212 litros por coletor, por mês, o que é bastante bom. Em Vouzela tiramos um rendimento de 172 litros por mês, por coletor”.

Para a captação de água, foram usados coletores de nevoeiro e depósitos de água atmosférica instalados em Carregal do Sal e Vouzela, nas áreas integradas na Rede Natura 2000 e integradas no Parque Natural Local Vouga – Caramulo, zonas que foram afetadas pelos incêndios de 2016 e 2017.

Outra vertente do projeto passou pela reflorestação com recurso a espécies autóctones, como sobreiro, carvalho alvarinho e carvalho negral. Para isso, foram testadas três formas de plantação: tradicional, com recurso a coletores individuais e com cocoons. A plantação foi feita em março de 2022 e a primeira monitorização aconteceu seis meses depois, em setembro.

“Em relação à plantação tradicional, em que apenas é aberta a cova, plantada a árvore e feita a rega, a taxa de mortalidade foi superior ao que queríamos. Com os coletores individuais, uma solução manifestamente simples e que qualquer pessoa pode fazer em casa, basta uma rede mosquiteiro por cima para que haja adesão das partículas de água, também tivemos resultados interessantes, comparativamente com a tradicional”, explicou André Mota, acrescentando que nesta metodologia “a taxa de sobrevivência foi de cerca de 60%, enquanto que na tradicional foi praticamente 100%”.

Já em relação aos cocoons, na primeira monitorização, “registou-se uma taxa de 93% em Carregal do Sal e, em Vouzela, de 85%”. O cocoon parece uma forma de pudim com uma tampa e que leva 30 litros de água e que durante dois meses garante a irrigação da planta.

Para André Mota, o uso de cocoons acabou por ser a solução “mais eficiente”, uma conclusão que foi diferente em Espanha onde, nas Canárias, os coletores individuais apresentaram uma taxa de sobrevivência mais elevada.

Quanto a dificuldades, o responsável destacou os incêndios de setembro que vieram destruir parte do trabalho de reflorestação e também as alterações no valor de investimento inicialmente previsto.

“Elaboramos a candidatura em 2018/2019 e depois tivemos pelo meio uma pandemia e uma guerra que fez com que o investimento em termos de bens e equipamentos, que era 18 mil euros, passasse a 40 mil e tivemos que fazer alguns reajustamentos”, explicou.

André Mota disse ainda que agora o objetivo passa por “replicar o projeto em outros concelhos da CIM Viseu Dão Lafões e em outros locais”.

Uma vontade também transmitida pela diretora regional da conservação da natureza e florestas do Centro do ICNF, Fátima Reis. A responsável afirmou que o ICNF “está disponível para levar este projeto, sobretudo para o litoral, numa franja que vai da Marinha Grande a Ovar”.

O projeto foi Liderado pela GESPLAN – Gestão e Planeamento Territorial e Ambiental, do Governo de Gran Canária e na apresentação de resultados estiveram elementos da comitiva espanhola.

Na sua intervenção, o coordenador GESPLAN, da Gustavo Ruiz, deixou uma mensagem aos jovens da Escola Profissional de Vouzela e da Escola Superior Agrária de Viseu que marcaram presença no encontro.

“O futuro é vosso e estes projetos são para isso, para melhorar o futuro das nossas explorações, dos nossos territórios e regiões. Agora é melhorar e continuar a investir em novas técnicas de reflorestação”, disse.

O responsável frisou ainda a os projetos de cooperação como este e que demonstram “a importância da colaboração das regiões europeias”.

Gustavo Ruiz destacou ainda a problemática da água que, durante a sessão, chegou a ser apelidada como “o petróleo do futuro”.

“A procura da água é um problema que não é só da Europa, é do mundo e os projetos que trabalham para melhorar a procura de água são um desafio para todos”, disse.

Já Reinero Brandon Fernandez, do departamento de Meio Ambiente do Cabildo de Gran Canária, sublinhou que Espanha e Portugal partilham os problemas ambientais, nomeadamente em relação à floresta.

“Temos problemas ambientais muito parecidos, apesar da distância e do clima diferente. Este projeto é uma tentativa de pararmos estes problemas ambientais e pormos alguma ordem na floresta. Apesar de levarmos já 70 ou 80 anos de reflorestação, nunca tínhamos feito um estudo cientifico sobre as melhores formas de reflorestar e quais as melhores espécies”, disse.

Na sessão marcou presença o secretário executivo da CIM Viseu Dão Lafões que destacou o compromisso da região com “a proteção e a preservação do património natural”. “Neste contexto, o Life Nieblas é um projeto que permite à CIM testar uma solução inovadora que, conforme esta apresentação de resultados indica, tem promovido diversos benefícios tanto ao nível da proteção da biodiversidade como do combate às alterações climáticas em Viseu Dão Lafões, tudo isto a um custo controlado”, destacou Nuno Martinho.

Também o presidente da Câmara Municipal de Vouzela destacou a importância do projeto implementado “numa área que é muito importante e estratégica para o desenvolvimento integrado do nosso território, como são a preservação do meio ambiente e dos recursos naturais”.

“Este é mais do que um projeto de investigação e pesquisa, representa um esforço conjunto de todos os parceiros, numa visão de preservação ambiental e compromisso com o desenvolvimento sustentável, através de novas técnicas de recuperação e preservação da floresta e contributo para a mitigação de todas as alterações climáticas”, acrescentou.

Já José Batista, vereador com o pelouro do Ambiente da Câmara Municipal de Carregal do Sal, destacou frisou a necessidade de “trazer a inovação e a ciência, para ajudar a colmatar a falta de pessoas, de maneira que o território e a nossa não esteja abandonada”.

“Não precisamos de muitas pessoas. Às vezes, há a tentação de acharmos que tendo mais gente, vamos ter a floresta mais cuidada, o que pode não acontecer. O que precisamos efetivamente é de gente que cuide da floresta e esse é o grande desafio. Por isso, da parte do município de Carregal do Sal estaremos sempre de braços abertos para tudo o que possa trazer inovação e saber científico, para podermos agir de forma diferente para o futuro”, disse.

O encerramento da sessão foi feito presidente da CIM, Fernando Ruas, que afirmou que este projeto “é um êxito.

“Felicito quem o implementou, é um projeto demonstrativo de que quando as coisas são bem organizadas podem ser excelentes exemplos de como tratar de recursos naturais que são excessos. Agrada-me que o tenham posto nas extremidades da comunidade a que pertencemos”, disse.

A iniciativa contou ainda com um numa mesa-redonda com o tema “Recuperação da floresta autóctone: o seu contributo para mitigação das alterações climáticas, incêndios florestais e biodiversidade”, moderada por Hélder Viana, presidente da Escola Superior Agrária de Viseu. Como oradores foram convidados a diretora Regional da Conservação da Natureza e Florestas do Centro do ICNF,  Fátima Reis, o Comandante Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil de Viseu Dão Lafões, Miguel David, o coordenador da GESPLAN, Gustavo Ruiz, o técnico do Gabinete Técnico Florestal da Câmara Municipal de Vouzela, Nuno Rocha, e a técnica do Gabinete Técnico Florestal Intermunicipal da CIM Viseu Dão Lafões, Paula Pereira. 

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