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por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
José Carreira
Na introdução de “Amor de Perdição”, o escritor Camilo Castelo Branco descreveu numa linha a sua mais importante obra, assim como o destino do seu protagonista: “Amou, perdeu-se e morreu amando.”
Se o livro fez furor aquando do seu lançamento, em 1862, esta obra mantém-se, ainda nos dias de hoje, como o magnum opus de Camilo Castelo Branco. Exemplo disso são as diversas peças de teatro e filmes que se criaram através da obra.
No dia 31 de outubro, a cidade do Porto acolheu mais uma adaptação teatral de Amor de Perdição, que se mantém em cena até domingo, dia 10 de novembro. Com encenação de Maria João Vicente, a peça conta com adaptação e dramaturgia de Constança Carvalho Homem. Outra adaptação teatral, contudo, está já a ser preparada.
O Grupo Off, conhecido pelas suas peças de teatro amador, encontra-se a preparar uma adaptação de Amor de Perdição com estreia prevista para 2025 em Viseu. Isto porque, no próximo ano, celebra-se os 200 anos do nascimento de Camilo Castelo Branco. Esta peça insere-se num projeto do Grupo Off intitulado “Passeios pela Literatura”, cujo objetivo é aproximar granes obras literárias do público em geral, numa tentativa de “democratizar a literatura através do teatro”, segundo explicou ao Jornal do Centro a responsável pelo grupo dramatúrgico de Viseu. “Além disso, é uma obra que faz parte do programa escolar do 11º ano, pelo que procurámos tornar a história mais apelativa para os jovens”, explicou Florbela Cunha.
Esta adaptação vai enveredar pelo teatro do absurdo, que, segundo a encenadora, “explora a irracionalidade e a falta de sentido da condição humana”. A peça do Grupo Off pretende levar o público a refletir sobre a morte, a alienação, o amor e as interações humanas. “Queríamos explorar esta questão do amor e da tragédia que são tão intemporais em símbolos como Romeu e Julieta ou Pedro e Inês”, assumiu Florbela. “O Camilo Castelo Branco trouxe-nos Simão e Teresa, que tinham um amor por cartas, um amor à distância, e hoje em dia temos a questão do digital e do amor online muito presentes”, disse ainda.
Mas qual é, afinal, a relação de Amor de Perdição com Viseu e por que razão é tão importante a celebração, nesta cidade, dos 200 anos do nascimento de Camilo?
O autor e expoente máximo do romantismo português do século XIX nasceu numa casa da Rua Rosa, em Lisboa. O seu pai, contudo, viveu durante vários anos em Viseu, assim como o seu tio. Foi precisamente com base na história que uma tia lhe contara quando era criança, acerca do seu tio Simão Botelho, que Camilo criou Amor de Perdição. A confirmação do aprisionamento do tio na Cadeia da Relação do Porto no início do século XIX serviu ainda de mote para a escrita desta obra. É natural, portanto, que alguns locais em Viseu sejam mencionados em Amor de Perdição. Outros, como veremos mais adiante, foram na verdade nomeados em honra da obra de Camilo.
Fonte de São Francisco
Construída em estilo barroco, esta fonte datada do século XVIII é dedicada ao santo que lhe deu o nome. Na parte superior, virado para a Avenida Emídio Navarro, está um painel de azulejo construído mais tarde, no início do século XX. Em Amor e Perdição, Camilo Castelo Branco descreve uma cena de luta que acontece perto deste chafariz entre Simão e Baltasar.
Porta dos Cavaleiros
Localizada entre a fonte de São Francisco e o Solar dos Albuquerque, esta porta é uma das sete que pertenciam à muralha de Viseu. Atualmente, apenas esta entrada e a Porta do Soa (ou Porta de São Francisco) estão preservadas. Em Amor de Perdição, é junto deste local que ocorre grande parte da história.
Solar dos Albuquerque
Este solar, também designado “Casa do Arco”, está localizado na Avenida Emídio Navarro e faz parte, nos dias de hoje, da Escola Secundária Emídio Navarro. Construído no final do século XVII por D. João do Amaral Coelho, capitão-mor de Viseu, este solar esteve na família dos Albuquerque até ao final do século XIX. Em Agosto de 1882, hospedou o rei D. Luís e a rainha D. Maria Pia. A família Albuquerque, contudo, nunca esteve envolvida numa quezília com os Botelho, nomeadamente com o avô e o tio de Camilo Castelo Branco.
“Camilo escreveu o Amor de Perdição em 15 dias enquanto esteve preso na Cadeia da Relação do Porto por adultério, com base na história do seu tio Simão Botelho”, afirmou Florbela Cunha. “Contudo, só o lado do Simão é que corresponde a dados concretos e reais da história. O que vem depois do outro lado terá sido ficcionado pelo escritor”, disse ainda a encenadora do Grupo Off.
Mosteiro de Bom Jesus
Este mosteiro feminino, pertencente à Ordem de São Bento, foi fundado em 1569. Em 1834, contudo, a reforma geral eclesiástica empreendida no país dita o fim de todos os conventos e mosteiros. Em 1896, o mosteiro de Bom Jesus foi encerrado aquando da morte da última freira. Atualmente, é neste mosteiro restaurado que se encontra o lar-escola de Santo António, que abriga crianças e jovens do género masculino. Em Amor de Perdição, Tadeu de Albuquerque envia a sua filha Teresa para este mosteiro enquanto aguarda a sua transferência para um convento no Porto.
Rua do Ferrador, Praça do Ferrador e Rua Amor de Perdição
No bairro do Viso Sul, em Viseu, encontram-se localizadas estas duas ruas assim como a praça. Isto porque, em Amor de Perdição, é nesta zona que se situaria a casa do ferrador João da Cruz. Amigo de Simão Botelho, o ferrador acabaria por abrigar o jovem depois deste ter sido ferido numa luta. Na obra de Camilo, João da Cruz foi ainda aliciado por Baltasar, o primo e pretendente à mão de Teresa, para matar Simão. O ferrador, contudo, recusou o serviço, tendo contado as intenções de Baltasar a Simão Botelho. Além disso, Mariana, filha de João da Cruz, acabaria por apaixonar-se por Simão, amor este que não foi correspondido. A jovem tornar-se-ia, portanto, na última peça do triangulo amoroso composto por Simão Botelho e Teresa Albuquerque.