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A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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José Carreira
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Pedro Escada
O som do portão que dá acesso aos balneários já se ouve. E ainda faltam vinte minutos para o treino. Aqui ninguém se atrasa. Devidamente equipados e com as bolas de futebol e coletes já em campo. Está tudo pronto para mais um treino de walking football no Campo de Futebol de 7, no Fontelo, em Viseu. O professor chega minutos antes da hora marcada. Há o habitual cumprimento, distribuem-se coletes, as equipas formam-se e a bola começa a rolar. É sempre assim às quartas-feiras. Ali ou no Pavilhão Cidade de Viseu, os maiores de 50 anos são chamados a jogar futebol a caminhar. Esta é uma modalidade que vai ganhando espaço nas agendas dos municípios e dos interessados.
Quase 250 pessoas jogaram walking football o ano passado no distrito
Diogo Braz é o responsável pelo walking football no distrito de Viseu. O projeto desenvolvido pela Federação Portuguesa de Futebol tem um ano e meio. Braz, que é futebolista no Mortágua FC, diz que de “época para época as inscrições têm aumentado”. “No ano passado, a Associação de Futebol de Viseu foi a segunda com mais inscrições no walking football a nível nacional e a primeira com maior número de mulheres inscritas”, detalha o responsável. Em todo o distrito, em 2023, houve 244 jogadores de walking football: 142 mulheres e 102 homens. Este ano já são 138 os inscritos.
Aqui o futebol é jogado a andar. O walking football tem cinco jogadores de cada lado e não há guarda-redes. A bola não pode passar acima da cintura, o que permite a participação a quem usa óculos. Não pode haver contacto físico, o que diminui o risco de lesão ou quedas. Só podem ser dados três toques seguidos na bola e o golo só é válido se a bola for rematada a menos de seis metros da baliza. As regras, confiam os mentores da modalidade, querem promover o jogo em equipa e a segurança dos jogadores.
Resultado conta pouco, mas conta. Que o diga o treinador
E a Atividade Sénior de Viseu, um dos grupos que leva avante esta modalidade, comprova-o. Álvaro Ferreira é o professor, mas é mais do que isso. Orienta o treino, dá a tática, corrige movimentos. E incentiva. “Bom jogado! Baliza!”. A baliza é formada com dois pinos que simulam os postes. Enquanto a bola rolava, um dos jogadores alertava outro: “não podes correr!”. “Pode, pode. Pode correr que eu deixo, mas marco falta”, diz, entre gargalhadas, Álvaro. Os jogadores seguem o ritmo e há um riso geral provocado pelo mister, como também é conhecido por aqui. Os golos demoravam a aparecer. “1-1? Qual 1-1? Está 1-0”, dizia um dos jogadores com colete verde. Aqui o resultado é o que menos conta. Menos. Não quer dizer que não conte de todo. Ninguém quer perder. A certa altura, numa jogada rápida, há uma decisão a tomar: a bola entrou ou não entrou na baliza? Até a reportagem do Jornal do Centro ajudou a dar justiça ao resultado. Entrou, dissemos. Logo depois, o professor Álvaro coloca-nos numa missão diferente. “Atenção, temos videoárbitro”. Os vermelhos festejaram, os verdes contestaram. A bola foi ao centro do relvado para recomeçar um jogo que faz da diversão o prato forte.
De um lado, um ‘jogador-embaixador’, do outro, uma atleta que não falta a um treino
Durante o treino, Diogo Braz confessa que esta é “uma aposta ganha” pela Federação Portuguesa de Futebol e Associação de Futebol de Viseu. “Acreditamos que pode crescer ainda mais. O potencial de crescimento é enorme. Os dados estão aí: temos uma população envelhecida no país inteiro e temos de dar hipótese a esta faixa etária de praticar exercício físico. Temos casos de pessoas que deixaram de tomar medicação quando começaram a jogar mais walking football”, revela o responsável.
Jacinto Lopes está neste projeto desde a primeira edição. Com mais de setenta anos de vida, aquele que um dia foi guarda-redes do Atlético Clube de Travanca mata aqui as saudades de jogar futebol. “Não posso passar sem isto. Desde que aqui estou já fraturei as costelas duas vezes. E já disse para mim mesmo que até fraturar a terceira vez, não desisto”, conta. “Isto dá-me condição física e psicologicamente é do melhor”, garante. Jacinto lembra que trata o futebol por tu há muito tempo. De tal forma que, conta-nos, chegou a lançar um desafio a Fernando Ruas, presidente da Câmara de Viseu. “A minha ligação ao futebol é antiga. Joguei em Luanda, no ASA. Vim de Angola e fui guarda-redes do Atlético Clube de Travanca. Ia começar a jogar futebol profissional tive um acidente de viação e fui amputado. A partir daí não larguei o futebol. Fui bilheteiro, desde os tempos do Académico de Viseu na Primeira Divisão. Tenho agora um neto e ando sempre a acompanhar a formação dele no futebol. Uma vez até disse ao presidente da Câmara de Viseu, ‘ó Dr. Ruas, eu merecia ter um outdoor agora por causa da cidade europeia do desporto’. Ele respondeu-me que não era ele a tratar disso”, confessa.
Se Jacinto vestia de vermelho, Olívia jogou na equipa verde. Com 73 anos, Olívia Machado não falha uma atividade sénior. “Faço ginástica, pilates, atletismo, walking football e dança”, enumera. “Nunca joguei futebol quando era mais nova. Então inscrevi-me depois de ver as outras jogadoras. Entusiasmei-me e quis experimentar”, acrescenta. Em campo, fica à defesa e forma uma dupla quase intransponível com Maria do Carmo. “Gosto muito de jogar com a Maria do Carmo na defesa. É impecável. Entendemo-nos bem. Apesar de falharmos algumas vezes (risos), já nos conhecemos”, justifica. Sobre o resultado, que nesta altura era favorável à equipa verde, Olívia deixa claro que ninguém gosta de perder. “Não há competição, mas gostamos de ganhar. Aumenta-nos o ego, melhoramos a nossa autoestima e depois encaramos as coisas de outra maneira”, explica. A atleta sénior afirma que “o mister, como agora se diz, vai-nos dando dicas e põe-nos em vários lugares”. “Gosto muito disto. É animado e faz com que esteja concentrada para ver para onde vai a bola e a pensar como a hei-de enviar para o meu colega de equipa”, explica.
‘Sociedade diz-lhes que não têm de fazer tanto exercício físico, eles recusam e mostram o contrário’, diz treinador
A Jacinto e Olívia juntam-se Maria do Carmo, Manuela, Fernanda, Joaquim, Aniceto, Anacleto, Rosa, Ilda, Virgínia, Lurdes, Daniel e Dulce. É Álvaro Ferreira, o treinador, quem os vai nomeando. Confessa ter receio de se esquecer de alguém. São muitos e todos lhe mostram que não há limites, assim haja vontade. Há dois anos que treina estes jovens de mais idade. Estes e outros. E coloca-os a jogar futebol. “São pessoas que trazem muita animação ao meu dia. Mostram-me que a idade é apenas um número e são a imagem da força da vontade. A sociedade diz-lhes que são séniores e que não têm de fazer tanto exercício físico e eles mostram o contrário”, garante. De todos os grupos de atividade sénior, o walking football, conta-nos, é aquele em que menos faltas marca. “90% dos participantes vai a todos os treinos. É muito bom vê-los comprometidos”, elogia. Dentro de campo, Álvaro assinala que o fundamental desta atividade é “o convívio”, mesmo que todos queiram ganhar. “Agora, temos alguns participantes que já jogaram futebol e existe um espírito competitivo que é impossível tirar-lhes”, sustenta.
Os treinos decorrem ao ritmo do tempo que falta para o próximo encontro distrital. Desta vez será em Lamego, a 25 de novembro. Já houve dois encontros: um em setembro, em Viseu, outro em outubro, em Moimenta da Beira.
Entretanto, o walking football também foi abraçado pelo município de Viseu. O vereador do desporto na autarquia, Pedro Ribeiro, confia que o walking football possa atrair os seniores a praticar exercício físico. “Não ficam em casa, continuam a praticar atividade física e beneficiam também da socialização”, resume. O responsável pelo pelouro do desporto acredita que o título dado a Viseu em 2024 de ‘Cidade Europeia do Desporto’ resulta num “estímulo para consolidarmos e reforçarmos algumas das práticas que já tínhamos e abraçar outras”. Quarenta e cinco minutos depois, o treino acaba. Os verdes venceram o jogo por 4-2, num jogo em que todos golearam o isolamento e o sedentarismo.