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A Associação de Basquetebol de Viseu vive bons dias?
Diria que vive dias desafiadores. Estamos num mundo com domínio extraordinário do futebol. Uma modalidade de pavilhão que é diferente, tem muitas dificuldades. O segredo de tudo isto é dar a conhecer a modalidade e levar a experimentar. Quem o faz, normalmente, fica. A Associação de Basquetebol de Viseu teve a ousadia de gastar recursos para ter um gabinete técnico muito robusto com dois técnicos qualificados.
Um ano volvido desde a tomada de posse, o que é que já conseguiu alterar?
Há coisas que não se mudam facilmente. Entre elas as mentalidades. Uma das coisas que importava mudar era quebrar a tática do eucalipto que seca tudo à volta. Ou seja, acabar com a ideia de ter grandes clubes que não tinham ninguém para competir. A primeira coisa que fizemos foi fazer com que todos comunicassem e participassem nas atividades dos outros. Não queremos ser uma Associação de pequena dimensão. Vamos ser de média dimensão no final deste primeiro ano.
Neste momento há quantos atletas a jogar basquetebol em Viseu?
Temos exatamente 349 atletas.
Já disse que queria chegar aos 500…
Eu não queria, eu vou. O crescimento só se faz com novos clubes, novos polos e, sobretudo, com o minibasquet. Podemos começar logo desde os mais pequenos a ensinar-lhes o que é o jogo e, com técnicos qualificados, a evoluírem. A nossa aposta no miniquet também tem o propósito de ocupar os miúdos. Eles estão muito formatados para aquilo que a televisão lhes oferece. E o basquetebol é uma modalidade diferente. Vejam o tamanho da bola de futebol, de andebol… No basket há uma bola monstruosa em relação ao tamanho da baliza, que é o cesto, que fica a três metros e cinco centímetros. É muito mais difícil. Mas é por ser mais difícil e desafiador, que os skills que as pessoas desenvolvem são diferentes.
Como é que era a situação há um ano?
Tínhamos menos 15% de atletas. Sofremos o fator da interioridade. Há muitos atletas que chegam a uma determinada altura que saem de Viseu para estudar fora. E a opção deles não é vir todas as semanas. Há sempre alguns que não revalidam com os clubes de origem.
Quando tomou posse disse à comunicação da Federação Portuguesa de Basquetebol que há uma persistência de mentalidades centralistas ultrapassadas. Já sentiu mudanças para melhor ou piorou?
Senti mudanças positivas. Eu sou muito chato. Reconheço que tenho mau feitio, sou muito emotivo, mas batalho com paixão por aquilo em que acredito.
Terá sido por isso que foi eleito?
Não. Foi porque, provavelmente, não havia mais ninguém. (risos). Sabe que o interior tem destas coisas. As associações foram sempre presididas por excelentes pessoas desde a fundação. Eu estive na comissão instaladora da Associação. Era árbitro na altura e presidente da arbitragem. Eu não queria ser presidente e sou um autêntico erro de casting. Mas claramente. O que aconteceu foi que saiu uma direção e não apareciam listas. Vieram então convencer-me. Tenho uma característica que é única: o meu percurso não tem a ver com nenhum clube. Eu fui árbitro nacional de 1ª divisão. Penso que os clubes acharam que eu era uma garantia de isenção de tratamento.
Voltando à interioridade… Já começou a alterar-se?
Sim, mas só se começou. Falar e defender projetos é tudo muito bonito… O desenvolvimento da modalidade é maior nos grandes centros, porque o nosso país está completamente inclinado. Estou farto de dizer que qualquer dia caem todos dentro de água. A grande questão é que os treinadores e os dirigentes nacionais são de lá. É mais fácil irem ver os jogos dos miúdos que ali jogam. O que mudou pela positiva foram alguns programas criados pela Federação. Um deles, o programa VALORIZAR, permite que os clubes que trabalhem bem recebam algum dinheiro por isso. E outro foi o Programa de Apoio a Projetos Associativos em que todas as associações estão em pé de igualdade.
Vamos ao capítulo das instalações. Volta meia volta fazem-nos chegar alertas de que há falta de condições nos pavilhões. Sente isso? É uma questão de falta de qualidade?
Não. A questão das instalações não está ligada com a qualidade, mas com a crise de crescimento. Temos o Pavilhão do Fontelo, que é excelente e que foi muito melhorado. O Gumirães Basket teve dificuldades porque as tabelas estiveram com uma avaria no elevador que demorou algum tempo a ser resolvida. Temos o Pavilhão Cidade de Viseu que, vá lá saber-se porquê, está dedicado ao Viseu 2001. Não se percebe: devia haver horários para outros. Temos os pavilhões do IPV. E ainda os das escolas que a Câmara agora distribui pelos interessados. Eu tenho uma grande estima pelo vereador do Desporto, mas precisamos de perceber o número de praticantes que os clubes a quem são cedidas as instalações têm. Se um clube tem 150 praticantes, deve ter x número de instalações. O que não faz sentido é em alguns pavilhões próximos do centro da cidade termos modalidades com 10 ou 12 pessoas a treinar naquele horário quando no Colégio da Via-Sacra, que é pago, temos o Gumirães com as equipas. A Câmara tenta ser o mais inclusivo possível e tratar todas as modalidades por igual.
E estão a ser?
Tanto quanto me é dado a perceber, sim. Um passo muito interessante era priorizar pelo número de atletas. O Gumirães em simultâneo chega a ter atletas em três ou quatro instalações diferentes. Mas porque é que certos pavilhões só são dedicados àquela modalidade? Isso não faz sentido.
Já fez essa pergunta?
Não, ainda não tive oportunidade. Se calhar, ser-me-á dada a resposta. O futsal deve ser tratado em total paridade com outras modalidades. Se por exemplo eu tivesse um passado nalgum clube eu iria beneficiá-lo na cedência de instalações? Não me parece. E fico por aqui.
Relativamente ao ano em que Viseu foi Cidade Europeia do Desporto. Cumpriu-se no caso do basquetebol?
Sim, sim. Sem dúvida. O programa era muito ambicioso, mas creio que teve visibilidade extraordinária. Abrangeu muitas modalidades que o público não conhecia.
Para o basquetebol foi positivo em quê?
Para já, organizámos em julho as duas finais da Taça nacional de seniores. Em termos de basquetebol houve várias atividades promovidas pelo Gumirães Basket, integradas no Viseu Cidade Europeia do Desporto. Tivemos um técnico sérvio para falar a todos os técnicos de minibasquetebol e isso teve apoio do programa.
Financeiramente como está a Associação?
Quando fomos eleitos, a gestão anterior já tinha uma gestão equilibrada financeiramente. Nós somos um bocado diferentes. Não somos de ter dinheiro no banco. Investimos nos clubes. Cada ano investimos uma média de 13, 14 mil euros. Consideramos que o dinheiro é para os clubes investirem na formação. Vamos ainda investir para divulgar a modalidade junto dos idosos e das pessoas com deficiência. Um terço dos nossos atletas estão no minibasquete e pagamos integralmente aos clubes a inscrição e os seguros dos atletas. É uma forma de ajudar os clubes. Temos o programa ‘Todos com Bola’. Entregamos uma bola a todos os miúdos que se inscrevem com o objetivo de que cada um deles vá mostrar a bola aos amigos e venham jogar basquetebol.
O que é que o basquetebol ensina para a vida?
A primeira coisa que ensina é que podemos ser o Neemias Queta, mas não fazemos nada sozinhos. Só trabalhando junto dos que estão à nossa volta: em equipa, em harmonia e em articulação. Por exemplo, imaginando que temos um jogador que faz muitos pontos, jogamos sempre para ele. Com isto, passam despercebidos todos os que constroem o jogo até à bola lhe ser colocada. As pessoas que estão a ver o jogo vibram com o cesto, mas esqueceram o trabalho de formiga que começou na defesa, na distribuição do jogo…
E essa mentalidade corrige-se como?
É preciso várias coisas. Temos de ouvir mais, partilhar mais, dar o benefício da dúvida a quem pensa diferente e ter mente aberta para percebermos as outras realidades. Os pais têm de perceber que não podem cobrar aos miúdos a vitória. Devem sim cobrar-lhes que se divirtam, que continuem a estudar e a ter boas notas. É incrível ver as crianças a jogarem basquetebol e perceber o rosto deles quando conseguem encestar depois de verem o cesto tão inalcançável. O êxito é difícil, mas eles lutam por isso.
Quais são os objetivos para o que resta do seu mandato?
Sou presidente de mandato único. Quando acabar o mandato, acabou. É uma decisão minha.
Porque é que só fará quatro anos?
Entendo que há uma coisa a que nos devemos habituar aos lugares. Temos de dar oportunidade a outras pessoas que pensam diferente de implementarem as ideias.
Para si quatro anos é suficiente para mostrar o que vale?
É suficiente para deixar feito qualquer coisa que não herdei.
Que marca quer deixar?
Primeiro, é pôr a carne no assador e os clubes sentirem-se apoiados. Mas a marca mais importante que quero que fique desta gestão é deixarmos de ser uma associação de pequena dimensão. Estamos neste momento muito perto de sermos uma associação de média dimensão. Estamos quase a par de Coimbra. Queremos subir de patamar e deixarmos de ser os parolitos que são equiparados a associações de dimensão menor. E sobretudo termos a esmagadora maioria no escalão de minis com o objetivo da sustentabilidade. Assim garantimos atletas vários anos.