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É muito bom ter uma família e é um enorme privilégio quando somos acarinhados. Este ano, na habitual ida à Alemanha, para passar a quadra natalícia em família, fui convidado para visitar Copenhaga (Dinamarca) e Malmo (Suécia). Tínhamos pouco tempo, pelo que a aposta foi em conhecer a cidade a pé, passar nos principais pontos de referência e, se ainda houvesse tempo, visitar um Museu. Fruto da organização e método do meu cunhado, conseguimos, mantendo um bom ritmo na caminhada, visitar dois museus: Museu de Arte moderna e Contemporânea (Malmö) e o Centro de Arquitetura Dinamarquesa. O que mais me marcou foi a exposição temporária “Water is Coming”.
As alterações climáticas, exceto para alguns negacionistas “encartados”, são uma evidência. Não é raro vermos, no mesmo noticiário, o combate às chamas num determinado país, em resultado do calor extremo, e, noutro ponto do mundo, inundações que fazem colapsar bairros, aldeias, cidades e provocam, cada vez mais, mortes. As estimativas do relatório da Oliver Wymane do Fórum Económico Mundial apontam para mais de 14 milhões de mortes até 2050, provocadas pelas alterações climáticas. As inundações representam o maior risco de mortalidade, com 8,5 milhões de mortes até 2050, seguidas pelas secas e ondas de calor. Não precisamos de um grande esforço de memória para rever as imagens trágicas das cheias catastróficas que causaram a morte de mais de duas centenas de pessoas no sul de Espanha. Por estes dias, temos assistido aos estragos provocados pela chuva e pelo vento, no nosso país. De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Portugal apresenta 63 áreas com risco potencial significativo de inundações, podendo afetar mais de 102.905 habitantes em território continental. O vil metal fala sempre mais alto.
As construções, em zonas de risco, continuam a ser disseminadas sem preocupação com os alertas dados pelos especialistas, tendo por base a ciência. A título de exemplo, o que acontecerá ao Centro Champalimaud, ao Hospital CUF Tejo e ao Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), edificados em cima do rio Tejo, num futuro, mais ou menos longínquo, se as águas do Tejo subirem de repente?
“Os pólos estão a derreter, as águas subterrâneas estão a subir e as chuvas torrenciais estão a inundar estradas e casas. Não é mais uma questão de se, mas de quando a água chegará – e como nos adaptaremos” pode ler-se no desdobrável informativo da exposição “Water is Coming” (A Água está a Chegar). A exposição explora a relação entre a água, as pessoas e a natureza, num mundo em rápida mudança, onde, apesar do panorama aparentemente sombrio, também há esperança e oportunidades. À medida que visitámos o universo expositivo, numa interessante simbiose entre conteúdos visuais e acústicos, ficou ainda mais claro que a água é um dos maiores desafios do nosso tempo. A subida do nível do mar e as chuvas torrenciais mais frequentes exigem mudanças radicais no desenho e na organização urbana. Para que a esperança e as oportunidades se sobreponham aos sinais ameaçadores, os territórios têm que estudar estratégias e implementar mecanismos de adaptação à água, em vez de tentarem, será infrutífero, combatê-la. Há cidades como Copenhaga, Veneza, Hamburgo e Jacarta que já enfrentam esta questão inevitável. Foi com prazer que mergulhei nos conteúdos expositivos e conheci visões ousadas, projetos concluídos, investigações, perspetivas históricas, propostas para um futuro com níveis crescentes de água em todas as direções.
É inspirador perceber a forma como algumas comunidades se estão a adaptar a uma nova vida quotidiana com a água e como os cientistas, arquitetos, urbanistas, municípios e outras organizações estão a trabalhar em conjunto para criar soluções para o nosso futuro comum, partilhado com a água. Destaco três projetos: Climate Neighborhood (Copenhaga,Dinamarca) – um laboratório de experimentação em proteção de águas pluviais e adaptação climática. O primeiro espaço urbano adaptado ao clima de Copenhaga. A praça é um oásis verde capaz de gerir grandes volumes de água da chuva e ao mesmo tempo servir como um novo ponto de encontro para os moradores do bairro. A praça permite a drenagem das águas pluviais dos telhados e praças locais, desviando-as dos sistemas de esgotos e aumentando a capacidade de Copenhaga de resistir às chuvas torrenciais do futuro. Fortalece a infraestrutura da cidade, ao mesmo tempo que serve como parque. Niederhafen River Promenade (Hamburgo, Alemanha) – O passeio marítimo do porto de Hamburgo foi elevado a 7 metros, acima do nível do mar, após a tempestade de 1962 para proteger contra inundações.
O novo passeio, projetado por Zaha Hadid Architects, concluído em 2019, foi elevado em mais um metro. Combina segurança com espaços recreativos, cafés e vistas panorâmicas, demonstrando como o planeamento urbano pode criar áreas públicas atraentes e seguras. A remodelação da barreira de proteção contra inundações reconecta o seu passeio fluvial com o tecido urbano circundante da cidade; servindo como um passeio ribeirinho, ao mesmo tempo que cria ligações com bairros adjacentes e protege a cidade das tempestades de inverno e das marés altas extremas. Mose system (Veneza, Itália) – Construção de barreiras móveis que consistem em comportas de aba, instaladas no fundo das enseadas, que permitem separar temporariamente a lagoa do mar durante uma maré alta. Estamos em contagem decrescente para evitar os piores impactos das mudanças climáticas, restam-nos quatro anos e 195 dias para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius, segundo o climate clock (relógio climático). Enquanto os compromissos assumidos no Acordo de Paris continuam a ser ignorados, continuamos a assistir às consequências devastadoras, como ondas de calor extremas, secas, chuvas diluvianas, aceleração do degelo e consequentemente subida do nível do mar e aquecimento do oceano.
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