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Quando em criança, por causa dos olhos rasgados, lhe atribuíram o nome China, Marco Santos não imaginaria que hoje, com 43 anos, poucos o conhecessem por outro nome. Os pais, confessa, não acharam muita piada, mas a verdade é que é por China que o conhecem e reconhecem. Natural do distrito da Guarda começou no desporto pelo futebol, no entanto o futsal havia de o apaixonar de uma forma diferente. Hoje treina o ABC de Nelas na Terceira Divisão nacional de futsal.
Com algum campeonato pela frente, tem ainda a manutenção para garantir e o assumido sonho de poder lutar pela subida à Segunda Divisão nacional, tendo, para isso, de atingir ou o primeiro ou o segundo lugares. “A época está a correr dentro da normalidade. O objetivo era a manutenção. Embora todos os anos haja o foco de melhorar a classificação anterior e no ano passado ficámos em terceiro”, refere. O sonho comanda a vida, mesmo que esta esteja a ser uma época atípica. Já são dois os jogos que os nelenses se vêm obrigados a adiar. O mais recente diante do Beira Ria. O primeiro foi logo na jornada de arranque do campeonato. A época para o ABC começou literalmente atrasada. Mas o clube galgou terreno no campeonato.
A importância de Daniel Ramos e André Batalha
“Perdemos o Couceiro, que foi jogar para o Viseu 2001. Foi um contratempo. Reforçamo-nos com três ou quatro jogadores que, na nossa opinião, poderiam vir a acrescentar a longo prazo, mas que o fizeram logo no curto prazo”, enaltece o técnico. China refere que a construção do plantel dos nelenses foi feita “dentro de um modelo financeiro bastante apertado”. “Eu acho que, acima de tudo, o mais importante tem sido o plano e o compromisso que os atletas têm tido”, ressalva.
Na época passada, o ABC chamou para o plantel Daniel Ramos. O ala de 36 anos, que já passou por clubes como o Viseu 2001, Modicus ou o Burinhosa, continua a alinhar com as cores do ABC nesta época. “Foi sem dúvida, uma lufada de ar fresco. Veio acrescentar muita qualidade ao plantel que o ABC de Nelas tinha. E isso viu-se na classificação”, refere o treinador. “O Daniel é um jogador que tem o histórico que tem. É jogador de Primeira Liga que joga na Terceira Divisão e, por isso, logicamente, acrescenta sempre qualidade. Os miúdos olham para ele como um exemplo porque o é, de facto. Trabalha muito, é profissional a 200%. Se há pessoa que cumpre, o Daniel é um deles. E isso transmite compromisso e entrega aos mais novos”, enfatiza.
Mas as palavras de elogio do treinador aos atletas estendem-se, também, ao capitão da equipa. “O Batalha é um verdadeiro líder. Eu já o conhecia enquanto jogador quando o defrontei algumas vezes. Pessoalmente conheci-o aqui. É, sem dúvida, um líder, uma pessoa fantástica, com um compromisso brutal. Acima de tudo tem uma capacidade de liderança muito acima da média. Considero-o o meu braço direito, a minha extensão dentro do campo”, descreve. Sobre o plantel, lamenta a saída de Couceiro que foi reforçar o ‘rival’ Viseu 2001. “Ficámos com um plantel muito idêntico ao do ano passado. O importante é ter um balneário equilibrado e isso conseguimos. Não é um plantel candidato a ganhar a Terceira Divisão, mas acredito que tem qualidade para andar na parte de cima da tabela”, ressalva.
Em 2024, o ABC de Nelas fez 20 jogos. Ganhou 15
Contas feitas, China acredita que com mais sete pontos, fica fechado o dossiê manutenção. Numa época em que há em Viseu uma equipa “muito forte que marca mais diferença do que os melhores colocados do ano passado”. O técnico do ABC de Nelas refere-se ao Viseu 2001 que, em nove jogos, tem oito vitórias e uma derrota, consentida na última jornada do campeonato. “Para se perceber, na mesma jornada do ano passado, com os pontos que temos hoje, no campeonato da época passada estaríamos a liderar. Este ano há uma equipa que lidera com uma derrota e isso obriga os perseguidores a ganhar se o quiserem acompanhar na classificação. Acredito que na segunda volta, a luta pelos primeiros lugares ficará restrita a dois ou três clubes”, antevê o técnico.
Assinalando que nunca lhe foi pedida a subida de Divisão, o treinador garante que no balneário do ABC de Nelas tem existido sempre vontade de jogar “olhos nos olhos seja contra quem for”. “O melhor exemplo disso foi que em todo o ano de 2024 fizemos 20 jogos, ganhámos 15 e só perdemos cinco. O objetivo é sermos competitivos e termos consciência de que podemos ganhar sempre”, assinala.
“Considero-me um líder bastante democrático”
O treinador do ABC de Nelas entende que para que o sucesso seja atingido é preciso que a equipa técnica faça um esforço de ouvir os jogadores no início de época. Considerando-se “um líder bastante democrático”, ressalva que tem ideias próprias sobre como quer ver a equipa a jogar. No entanto, há espaço e, sobretudo, há abertura para encaixar novas perspetivas. “Acima de tudo, tenho de reformular o que penso em função dos jogadores que tenho e do que os jogadores esperam. O objetivo, no fundo, é tirar o máximo rendimento de todos os atletas. E por isso o atleta tem de ter uma palavra a dizer e de me transmitir sempre a parte do jogo onde sente mais conforto. Tenho essa capacidade e abertura para desenvolver isso em cada um deles”, frisa.
“Super apaixonado pelo futsal”, China vinca que gosta de ver as equipas que treina a dominar o jogo e a ter bola. “Sempre olhei para o futsal como uma modalidade muito mais atrativa do que o futebol. É muito mais emocionante, muito mais intenso. O lado emocional de um jogo de futsal foi o que me fez apaixonar mais pela modalidade. Há uma incerteza constante no resultado”, justifica. A carreira do técnico começou por ser num relvado, mas é no pavilhão que hoje se realiza a treinar os nelenses. De tal forma que o tempo é conciliado entre treinos e estudos para tirar o nível 3 do curso de treinador.
Para andar salvaguardado de azar e sobretudo protegido pela sorte e por um Deus em que diz confiar, China assume benzer-se três vezes antes de o jogo começar. “É um gesto que tenho. Já o fazia sempre enquanto jogador e faço-o agora a treinar”, acrescenta. Nos tempos mais recentes, China está mais habituado a ganhar. Nos momentos da derrota há que o deixar sozinho e em silêncio. “Demoro bastante a conseguir falar com alguém quando perco. Tenho digamos uma fase de recobro um bocadinho má e demorada. Preciso de uns dez, quinze, vinte minutos. É regra mesmo”, confessa. Os treinos do ABC de Nelas são três vezes por semana: às segundas, quartas e quintas.
Um capitão ‘quarentão’ que vai cedendo às escolhas musicais dos mais novos
Batalha é um dos jogadores que não falta aos treinos. Quase a deixar a modalidade, hoje com 40 anos, André, ou o Batalha como é resumidamente conhecido, ganhou motivação para continuar a jogar futsal em Nelas. “O grupo de trabalho do ABC de Nelas é de malta jovem. Eu estrago um pouco a média de idades. Há uma dinâmica muito engraçada. Conseguimos ter um espírito de balneário que facilita as coisas. Apoiamo-nos muito. E depois há brincadeira, mas quando é trabalho, é trabalho”, sublinha.
Batalha recorda que “há casos em que eu tenho mais de metade da idade dos meus colegas” e que essa experiência dá “calo”. “Já passei por muitos balneários. E a forma como lido com as coisas, pode servir de exemplo. Eu tento sempre ser um bom exemplo, sobretudo comprometido com a equipa e com o clube”, explica, mesmo quando haja diferenças quase inconciliáveis. A começar na música. “Normalmente ninguém põe música. Não me identifico muito com a música que eles ouvem, mas quando acabamos por ouvir numa coluna que um deles traz, normalmente ouvimos as músicas que os miúdos hoje em dia gostam. Acabo por ceder”, assume, entre gargalhadas.
A praxe e a gratidão ao ABC
E quando é chegado o momento de receber jogadores no plantel, há praxe para cumprir. “Quem vem treinar connosco a primeira vez todos já sabemos que só o novato é que acaba por gritar. É combinado entre nós fazermos silêncio nessa altura para que apenas ele grite. São brincadeiras que permitem integração”, afirma. Se no fim da época o clube nelense atingir o segundo lugar do campeonato, Batalha iria enfrentar uma nova subida de divisão. “Iria ser a última da minha carreira. Ficaria muito satisfeito. Era o sentimento de dever cumprido”, atira. Sobre o clube nelense, apenas elogios. “O ABC de Nelas tem trazido à minha vida pessoas sérias e nas quais posso confiar.
No mundo da bola, nem sempre é fácil encontrar clubes que cumprem com o pagamento de salários. O ABC deu-me alguma tranquilidade. A estrutura é competente, séria e dá confiança aos jogadores de que vão receber no fim do mês”, enfatiza.