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Há mais de 20 anos, criminosos da Córsega escolheram a cidade errada para assaltar bancos

Trio assaltou dependências bancárias com recurso a metralhadoras. Tiroteio durante fuga. Bancários reféns. Elementos naturais da Córsega chegaram a ser suspeitos de pertencerem a movimento independentista, mas eram só ladrões de bancos. Depois de vários assaltos acabaram presos em Viseu. Escolheram a cidade errada, conta quem, há 22 anos, liderava a PSP

 Há mais de 20 anos, criminosos da Córsega escolheram a cidade errada para assaltar bancos
08.03.25
fotografia: Jornal do Centro
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 Há mais de 20 anos, criminosos da Córsega escolheram a cidade errada para assaltar bancos
08.03.25
Fotografia: Jornal do Centro
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 Há mais de 20 anos, criminosos da Córsega escolheram a cidade errada para assaltar bancos

Em julho de 2003, três indivíduos de nacionalidade francesa, oriundos da Córsega, foram detidos em Viseu após uma série de assaltos a bancos na região centro de Portugal. Os detidos, com idades entre 25 e 34 anos, chegaram a ser apontados como membros da Frente de Libertação Nacional da Córsega (FLNC) e estariam envolvidos em atividades terroristas. A verdade é que a “sorte não lhes bateu à porta” quando assaltaram uma dependência do Banco Santander, na Avenida António José de Almeida, em Viseu. 

Depois de saírem da dependência com o “lucro” do roubo, tudo lhes correu mal até serem apanhados já perto de S. Pedro do Sul. Pelo meio carros queimados, troca de tiros, agentes feridos e perseguição em alta velocidade e contra a mão. No final, os assaltantes foram traídos por um caminho sem saída, na localidade de Paraíso. Acabaram detidos, mas antes houve troca de tiros. Dois deles ficaram feridos, assim como um polícia. 

A detenção foi o ponto de partida para uma investigação que envolveu as autoridades portuguesas e outras polícias internacionais e colocação no terreno de uma operação de segurança na eventualidade de haver retaliação pela prisão dos assaltantes. 

Mas a história é melhor contada por quem, na altura, era o comandante da PSP de Viseu. Simões de Almeida recorda o plano de contingência que estava preparado para assaltos a agências bancárias e como esse plano pensado anos antes deu resultado. Fala ainda de como a articulação com as forças policiais foi essencial para o desfecho final e as preocupações com a possibilidade do comando da polícia ser tomado de assalto. 

“Recordo-me bem do dia porque foi a uma terça-feira, dia de feira na cidade. Na véspera, tinha sido reportado um assalto semelhante que havia sido realizado por um grupo a uma instituição bancária na Rua Serpa Pinto. O incidente foi discutido numa reunião interna da PSP, onde os agentes foram alertados para a possibilidade de novas ocorrências. E a previsão revelou-se acertada, pois, no dia seguinte, os mesmos assaltantes atacaram um banco Santander localizado junto à antiga estação, ali na zona da fonte luminosa”, começa por contar Simões de Almeida.

O agora advogado recorda que a intervenção policial foi rápida. “Agentes em patrulha responderam prontamente ao alerta (alarme ligado à PSP), mas ao chegarem ao local foram recebidos com disparos, resultando no ferimento de um dos agentes na perna. Os criminosos conseguiram fugir, dirigindo-se para a zona do Hotel Durão, onde incendiaram o veículo utilizado e trocaram de automóvel para dificultar a perseguição”, recorda.

E porque foi tão rápida a chegada dos agentes ao local? A resposta está no plano que quando Simões de Almeida era ainda comandante de esquadra começou a desenhar. “Graças ao plano foram acionadas medidas de interdição rodoviária e reforço policial. A colaboração entre PSP e GNR permitiu montar um cerco eficaz”, relata.

Mas mesmo a chegada rápida, não impediu que os criminosos se colocassem em fuga ainda durante alguns quilómetros. “O grupo acabou por ser encurralado na localidade de Paraíso, onde abandonaram o veículo e tentaram fugir pela mata. Na sequência, registou-se uma troca de tiros que resultou no ferimento de dois suspeitos, um atingido por um agente da PSP e outro por um elemento da GNR. Um terceiro criminoso acabou por se entregar. A detenção foi um sucesso e levou à recuperação do dinheiro roubado e das armas utilizadas”, conta.

Detidos, dois dos criminosos tiveram de receber tratamento hospitalar, enquanto que o terceiro ficou no quarto de detenção da PSP. 

“Eles não deram explicações para nada, nem lhes interessava. Não esperavam ser apanhados. As coisas tinham decorrido bem até ali. Aqui correu-lhes mal”, sublinha Simões de Almeida.

Já no rescaldo das detenções, a polícia recuperou o dinheiro e as armas. “Descobri numa das mochilas um pequeno sabonete, daqueles sabonetes dos hotéis e das residenciais, que tinha a indicação de ter sido trazido de Espanha. A partir daí foi uma colaboração a nível internacional”, acrescenta. 

O que a investigação descobriu é que o grupo escolhia Portugal para fazer assaltos, regressava a Espanha onde ficava alguns dias sem dar nas vistas e regressava a Portugal para mais assaltos. 

Mas outra dor de cabeça acudiu ao comandante da PSP. Havia a indicação de que o grupo poderia pertencer a uma organização terrorista. “A nossa preocupação foi a segurança. Os dois elementos que precisavam de cuidados médicos foram depois reencaminhados para o hospital-prisão de Caxias. O terceiro ficou rapidamente em prisão preventiva para o retirar do comando da PSP, porque perante a possibilidade de ser uma organização bem preparada e armada dizia-se que podiam haver uma retaliação para salvar o companheiro”, recorda o ex-comandante. 

“Eu próprio fui, recordo-me, com o carro patrulha ao hospital com a senhora procuradora e a senhora juíza da instrução e os indivíduos foram lá inquiridos e foram-lhes aplicadas as medidas de prisão preventiva”.

Não houve tomada de assalto do comando, nem se veio a confirmar que os assaltantes tivessem ligações à Frente Nacional de Libertação da Córsega. 

O que se confirmou, segundo Simões de Almeida, foi o sucesso do plano de contingência e a certeza de que os criminosos escolheram a cidade errada para as suas atividades. 

“O nosso plano de contingência funcionou a 100 por cento, especialmente pela mensagem que depois passou. Ou seja, nós estamos preparados para este tipo de eventos. Não venham aqui arranjar problemas”, reforça o antigo comandante da PSP que lembra que mal se iniciou a perseguição já os comandos de Aveiro e Coimbra estavam a caminho caso fosse necessária colaboração.

Para Simões de Almeida, este foi, aliás, outro dos segredos do sucesso. “O nosso relacionamento com a PJ era muito bom. Eu acho que só poderia eventualmente ser ultrapassado, e foi, pela articulação que tínhamos com a GNR, graças também aos comandantes que existiam. Havia, de facto, um relacionamento muito sólido e que foi utilizado, obviamente, em vantagem para o cidadão”.

Em 2004, o Tribunal de Viseu condenou os três homens a penas entre 24 e 25 anos de prisão pelos assaltos cometidos. Mas este não é o fim da história.

Em 2018, o Tribunal de Guimarães condenou um dos indivíduos do assalto a Viseu – Sebastien Mattei – por pertencer a um grupo que assaltou um banco naquela cidade, em 16 de janeiro de 2014. 

É que a pena deste criminoso, após recurso no Supremo Tribunal de Justiça, foi reduzida para 16 anos. Em 2008 foi transferido para França, a fim de cumprir o resto da pena, mas em 2012 saiu em liberdade condicional.
Em 2012 e 2013, quando ainda cumpria a liberdade condicional, Mattei voltou a Portugal e, em conjunto com outro companheiro, assaltou dois bancos em Évora e outro em Setúbal.

Outros factos

Os assaltantes seguiam um modo de operação meticulosamente planeado, repetindo o mesmo esquema nos diversos assaltos às dependências bancárias.

Munidos de armas de fogo (metralhadoras e pistolas), coletes à prova de bala, óculos escuros e cabeleiras postiças para dificultar a identificação, entravam nas agências bancárias e anunciavam o assalto em inglês rudimentar.

Enquanto um dos indivíduos ameaçava os funcionários e forçava a abertura do cofre o outro controlava os clientes e funcionários. O terceiro membro do grupo aguardava no exterior, ao volante de um carro estacionado nas proximidades, pronto para a fuga.

Antes de abandonarem o local, trancavam as vítimas para impedir o alerta imediato. Quando havia tempo suficiente, removiam as cassetes de vídeo do sistema de vigilância para eliminar provas. Uma dessas gravações acabou por ser recuperada pelas autoridades no quarto de um hotel, em Espanha, que era uma espécie de quartel general do grupo. 

“GNR e a PSP são forças muito idênticas, muito convergentes”

“Eu saí da Polícia há alguns anos, mas vou acompanhando a evolução da segurança pública. E o que me parece é que há uma crescente consciencialização de que a GNR e a PSP são forças muito idênticas, muito convergentes. No fundo, o que as separa são apenas estruturas diferentes que, a meu ver, já há muito tempo deveriam ter sido revistas.
Não faz sentido manter esta divisão. Sai mais caro para as finanças públicas e não traz qualquer vantagem para o cidadão. Ter estas forças organizadas separadamente acaba por dificultar, mesmo com todos os esforços, o trabalho que pode e deve ser feito na área da segurança pública.
Não tenho dúvidas quanto a isso. Já o afirmei várias vezes, inclusive em intervenções públicas, creio que uma delas terá sido por volta de 2002 ou 2003, e continuo a manter a mesma posição. Num país como o nosso, que não é tão grande — ainda que seja grande em problemas — faz pouco sentido existirem tantas polícias. Isso acaba por resultar numa menor qualidade na prestação do serviço policial, na minha opinião”

Simões de Almeida 

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