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O Natal é uma quadra especial para os 2,4 bilhões de cristãos de todo o mundo e mesmo muitas das pessoas que não professam nenhuma religião (um bilhão e duzentos mil) não deixam de o celebrar, a maioria de uns e de outros de uma forma pouco ou nada espiritual, influenciados pela publicidade das nossas sociedades capitalistas, materialistas e consumistas. Como dizia Eduardo Galeano, o Natal “é hoje em dia, o negócio que mais dinheiro dá aos mercadores que Jesus tinha expulsado do templo.”
O Papa Francisco é uma excepção à geral hipocrisia, apesar de algumas contradições e limitações inerentes ao cargo e à instituição anacrónica e anquilosada que dirige. Poucos dias antes do Natal, ao discursar aos membros da Cúria Romana, referiu-se assim ao último ataque, até àquela data, que os israelitas fizeram em Gaza, matando 10 membros da mesma família, incluindo sete crianças: “Isto não é uma guerra, é uma atrocidade”. Foi o suficiente para receber os protestos diplomáticos do governo genocida de Israel. Já em 9 de Dezembro, Francisco tinha inaugurado um presépio no Vaticano com o menino Jesus deitado num Keffiyeh, o lenço tradicional da Palestina, o que levou a pressões israelitas e de judeus sionistas (há muitos outros judeus e israelitas a favor da paz e de um governo democrático, que respeite os palestinianos e pare com a opressão e colonização da Palestina), levando o Papa a ceder às pressões sionistas, retirando o Keffiyeh, apesar de Jesus ter nascido, segundo a Bíblia, em Belém, na actual Cisjordânia ocupada.
A prova de que o Ocidente dito cristão é um conjunto de países governados por hipócritas e cínicos que enchem a boca com os valores cristãos e os direitos humanos que evacuam mais abaixo, está na actual cumplicidade dos EUA e da União Europeia com o genocídio perpetrado pelo governo de extrema-direita de Netanyahu que já matou 45.317 palestinianos, incluindo 14.500 crianças, 196 jornalistas, sem falar nos milhares de crianças órfãs (70% das pessoas assassinadas são mulheres e crianças), nos 107.713 feridos, incluindo crianças amputadas ou estropiadas pelas bombas e a destruição de casas, escolas e hospitais incessantemente bombardeados pelas forças israelitas, que tentam exterminar aquele povo até pela fome.
O OCIDENTE “CRISTÃO” DEIXA ISRAEL MATAR UM MENINO JESUS A CADA HORA
Segundo a agência da ONU para os refugiados palestinianos, UNRWA, morre uma criança em Gaza, a cada hora. Ou seja, a cada hora, Israel e os seus aliados e cúmplices, EUA e UE, matam um menino Jesus, quer se chame Yosef ou Mohamed. “As crianças que sobrevivem ficam marcadas física e emocionalmente. Estão a perder as suas vidas, o seu futuro e, sobretudo, a sua esperança”. E não têm para onde fugir na cercada e invadida Faixa de Gaza.
Uma família de palestinianos refugiados da Cisjordânia, cada vez mais ocupada e massacrada pelos colonos e pelo exército de Israel, um nazareno de nome Yosef, e a sua esposa, Miryam, grávida do seu primogénito de nome Yeshua (nome aramaico latinizado para Jesus), chegaram a Portugal por engano, porque uma polícia fronteiriça, como não tinham visto de trabalho, e confundindo Belém na Cisjordânia ocupada com a Belém de Lisboa, os “repatriou” para Portugal, depois de uns dias de detenção num centro de imigrantes ilegais. Ali, Miryam indignara-se.“Ilegais? Que gente é esta que estigmatisa uma criança inocente como “ilegal”?…Foi então que viu uma pomba pousar no arame farpado e, enquanto acariciava a curvatura do seu ventre, se lembrou do “Espírito Santo”. Já em Lisboa não chegaram a comprar pastéis de Belém porque ao passar na Rua do Benformoso, foram surpreendidos com uma operação policial que os encostou à parede, juntamente com centenas de outras pessoas, a maioria de pele escura como eles. Até Miryam foi apalpada pela polícia em busca de droga ou armas, por mais que protestasse dizendo que por debaixo das saias só trazia no bojo o filho de uma pomba da paz que até estava predestinado a acabar com “o ópio do povo”. Riram-se!
A CAÇA AOS IMIGRANTES JÁ CHEGOU A VISEU?…
Yosef decidiu fugir mais uma vez. Ouviu falar de uma cidade com o nome da sua terra, Nazaré, onde havia armadores a precisar de pescadores e a contratar imigrantes. Mas era carpinteiro e “não pescava nada” daquela faina. Foi lá que um marroquino lhe disse que em breve iriam começar as obras da nova barragem de Fagilde, e que a ministra do Ambiente tinha dito há dias em Viseu que o único problema com as obras não era o dinheiro, mas a falta de mão-de-obra. Yosef era bom no seu mister e poderia ser contratado como carpinteiro de toscos. Deu um salto a Viseu para ver se seria fácil arranjar alojamento para a família, farta de viver em currais devido ao preconceito contra estrangeiros e às rendas exageradas em Portugal. Ao sair do autocarro, no Terminal Rodoviário de Viseu, deparou-se com outra rusga de policias que pediam a identificação aos passageiros. Uma jovem são-tomense que fora acompanhar uma prima que a tinha vindo visitar e que ia regressar a Lisboa, perguntou aos agentes qual o motivo de tão inusitada operação, e recebeu como resposta que era “só para os africanos”. A prima acabaria por perder o autocarro.
Esta cena não é nenhuma parábola, aconteceu mesmo em Viseu no dia 28 de Outubro passado e foi-me relatada pela jovem de São Tomé e Príncipe. Só Yosef, Miryam e Yeshua migraram da Bíblia, essa incrível colectânea de relatos mitológicos, como o do “massacres dos inocentes” ordenado pelo rei Herodes. No entanto, a maioria parece ignorar a matança de crianças de Gaza e os massacres que sucessivos governos de Israel têm perpetrado na Palestina, há mais de 76 anos. E convivem alegremente com os governos europeus que transformam o Mediterrâneo num “mar de extermínio” e pagam a países terceiros para fazerem o trabalho sujo de conter imigrantes, em fuga da guerra e da miséria, em “campos de concentração”.
Acabei de ouvir, hoje, dia de Natal,na Antena 1, o presidente da ASPP/PSP – Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, Paulo Santos, lamentar a instrumentalização, por parte do governo, das operações policiais no Martim Moniz e na Rua do Benformoso, Lisboa (onde vivem e trabalham muitos cidadãos do subcontinente indiano, encostando-os à parede e revistando-os, de que só resultou a detenção de um português e um imigrante em situação irregular), e a acusar o primeiro-ministro de substituir-se ao director da polícia para fins políticos.
Como tenho um filho a morar em Lisboa perto daquela zona, passo muitas vezes naquelas artérias e compro frutas e legumes a comerciantes chineses, indianos, nepaleses ou do Bangladesh, gente simpática e pacífica. Nunca presenciei rusgas como aquelas, nem qualquer altercação. Aliás, existe uma esquadra da polícia ali ao lado, na Rua da Palma. O governo da direita (PSD/CDS), ao incentivar a percepção de insegurança e a sua ligação ao aumento da imigração, contra todos os dados que indicam que Portugal continua a ser o 7°. país mais seguro do mundo, cede à narrativa xenófoba e racista da extrema-direita e acabará “comido de cebolada” por ela. Já está a acontecer em França e na Alemanha (nos EUA já foi).
No próximo dia 11 de Janeiro haverá uma grande manifestação em Lisboa contra o racismo, a xenofobia e o preconceito. Não deixaremos que nos encostem à parede!