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A vida de Armando Batista convive há 18 anos com uma missão: em dezembro vestir um fato vermelho e branco, cuidar da barba branca, colocar um gorro vermelho e aguardar pela chegada das crianças. É hoje Pai Natal no Palácio do Gelo Shopping, mas já andou por vários pontos do país. Em Viseu espalha magia há oito anos consecutivos.
O objetivo, confessa, é sempre o mesmo: levar esperança aos mais novos, aos pais e até a quem não liga muito ao Natal. Com oitenta anos, desde os 62 que é o Pai Natal na vida de centenas de pessoas. “Este tempo é muito especial para mim. O Pai Natal já não simboliza só alguém que dá presentes, mas mais do que isso, dá afeto e esperança. Ao ouvir esses pedidos pelas crianças, só confirmo e reforço esta ideia”, conta. “Este ano houve uma criança aqui em Viseu que disse que me amava. Lembro essas palavras e comovo-me. A expressão da criança, a inocência daquela criança…”, afirma, enquanto a voz embarga.
Armando é a alegria e o afeto. Nalguns casos, talvez, o único conforto e abraço que as crianças recebem naquele dia. “Quando saio daqui já estou à espera de dezembro. No último dia já sinto nostalgia”, confessa. A emoção não o deixa continuar a falar por instantes. Mas a conversa prossegue. E a partilha de memórias, também.
“Já tive uma criança que me pediu um irmão. Disse-me que apelasse aos pais para ter um irmão. Recordo-me outro desabafo que me deixou sem palavras. Uma criança veio à minha beira e disse-me: ‘a minha mãe e o meu pai não se falam’. Isto entristece-me muito”, conta, enquanto seca as lágrimas. Os casos de pais divorciados, acrescenta, são os que mais o tocam. “Sinto um enorme murro no estômago quando ouço casos de pais de costas voltadas contados na voz dos próprios filhos. Tento numa primeira fase apaziguar e digo às crianças que vou falar com os pais para que fiquem unidos. É uma situação mesmo difícil”, vinca.
E tudo começou com um convite de um amigo
Mas os pedidos, tal como os sonhos, ganham dimensão imensa na visão das crianças. De tal forma que a este Pai Natal já lhe foi feito um pedido de paz mundial. “A vida está muito difícil, não sabemos a vida de amanhã. Os homens não se entendem. As crianças apercebem-se das guerras, apercebem-se de tudo. Sinto-me triste porque não consigo evitar estas coisas. Houve uma criança que este ano, aqui em Viseu me pediu ‘Pai Natal, acaba com a guerra’. É nestas situações que se vê a dificuldade que tenho em lhes responder. Digo-lhes que vou tentar fazer com que isso aconteça”, explica.
Armando conta que vestir-se de Pai Natal foi um desafio proposto por um amigo. Na altura era monitor de uma colónia de férias e lidou vários anos com crianças. Até que o amigo o convidou para trabalhar para uma empresa, desempenhando o papel de Pai Natal. Numa primeira fase disse ao amigo que não tinha experiência, mas já com 62 anos sentiu que, afinal, “tinha já a experiência da vida”. “Hoje eu sou um jovem de 80 anos. Sinto-me jovem. Estou bem de saúde. E estou sempre desejoso que chegue dezembro para vestir esta roupa. Eu quando visto este figurino já não sou o Armando, sou o Pai Natal”, frisa.
E daí para cá, todos os dezembros é o Pai Natal. Há neste fato um pormenor que salta à vista. No pescoço, presa com um cordão, surge uma chave dourada. A magia entra a partir de agora. “Digo-lhes que com esta chave vou abrir a porta das casas para lá deixar os presentes. Elas ficam fascinadas. Pedem-me tudo: smartphones, tablets. Pergunto-lhes se se portaram bem e conto-lhes que vou ver como se comportam em casa, abrindo a porta com esta chave mágica”, acrescenta.
Pai Natal não encanta só as crianças
Mas não se julgue que apenas as crianças se deixam cativar por esta figura que se inspirou em São Nicolau, um bispo do século III que distribuía moedas de ouro e prata pelos mais pobres, na Turquia. “Já tive este ano aqui em Viseu um grupo de 18 homens com mais de 50 anos. Qualquer um deles quis tirar fotos comigo. Esta magia é para todos”, sublinha.
Foi em Lisboa que viveu a história mais curiosa. “Há uma senhora que me viu na rua e em conversa com a amiga que ia ao lado comentou que eu parecia o Pai Natal. A outra que me conhecia disse-lhe que eu era mesmo o Pai Natal. A admiração foi tal que a senhora veio ter comigo, agarrou-se a mim a chorar e pediu para tirar uma fotografia comigo. Vesti-me de Pai Natal e fui ao escritório onde ela trabalha para tirarmos a fotografia. Acabei na oficina a tirar fotos com todos os funcionários. E ela só me dizia que acreditava em mim, que acreditava no Pai Natal”, diz.
Armando Batista conta até que já houve uma criança a perguntar-lhe pelo clube. A resposta foi curiosa e original. “Respondi-lhe que na Lapónia temos todos o mesmo clube”, lembra.
Para cumprir a missão de ser Pai Natal, Armando não corta a barba desde fevereiro do ano passado
Quando terminar a missão de vestir a pele de Pai Natal, a 24 de dezembro, Armando promete que cortará a barba e diz até que já deixou de abraçar outros projetos por ter barba. “Trabalho como figurante, trabalho em novelas, faço publicidades e perco projetos por ter barba. Corto-a e vai crescendo. Ponho cremes, óleos, para que se mantenha vistosa”, explica. E afinal há quanto tempo Armando Batista não corta a barba? “Desde fevereiro do ano passado. Passa o verão, calor… Só para abraçar esta missão. Caso contrário não usava barba. Todos os dias de manhã me rio para o espelho a dizer que não sou eu”, conta, entre sorrisos.
Distribuidor de prendas nato, figura maior da entrega de presentes, o Pai Natal do Palácio do Gelo Shopping confessa ao Jornal do Centro que se a humanidade lhe desse um presente, gostava de receber a paz no mundo. “Era uma prenda que desceria da chaminé e seria bom para todos”, frisa. Até 24 de dezembro a magia continua. Os pedidos, também. E a imaginação para lhes responder, também terá de permanecer.
“Há irmãos que me contam os erros que cada um cometeu na esperança de que quem tiver feito menos asneiras receba mais presentes”
O Forum Viseu também tem um Pai Natal. O homem que durante vários dias desempenha o papel do ‘homem das barbas brancas’ confessa ao Jornal do Centro que os mais novos lhe revelam o que fizeram de bom e de menos bom. Aproveita ainda para indicar qual o presente que gostava de receber neste Natal
O que o motiva a desempenhar esta função durante vários dias?
Gosto muito desta função. Há mais de 15 anos que o faço com muita satisfação, especialmente no contacto com as crianças que me dão tantas alegrias.
O que lhe pedem as crianças habitualmente quando vão até à casinha do Pai Natal?
Elas costumam pedir prendas e querem saber o que precisam fazer para que eu possa ir às suas casas. Na verdade, esta é a pergunta que mais me fazem!
O que lhe é que lhe contam? O que partilham consigo?
Costumam dizer que se portam bem em casa e na escola. É engraçado notar que, quando são irmãos que me visitam, comunicam-me os erros que cada um cometeu, na esperança de que o que cometeu menos erros receba mais presentes.
Ao longo dos anos a ligação das crianças com o Pai Natal alterou-se?
Felizmente, a inocência das crianças é linda e o registo no comportamento com o Pai Natal tem-se mantido sempre o mesmo ao longo dos anos, mesmo com as vivências menos boas que temos tido, como por exemplo a pandemia que nos alterou completamente a forma de viver.
Que prenda gostava de receber?
Saúde e paz para o mundo é o que eu desejo. Como presente, se possível, uma nova cadeira com massagens incluídas, seria muito bem-vinda!