No terceiro episódio do programa “Bem-Vindo a”, tivemos o prazer de conversar…
São mais de 100 presépios, de diferentes tamanhos e construídos ao longo…
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Teresa Machado
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A criação artística exige um tempo próprio, de incubação e desenvolvimento de ideias e projetos, embora o resultado final seja por vezes “consumido” de forma apressada e até desatenta.
Vem esta reflexão a propósito de uma exposição que tem estado na ACERT, em Tondela: “instrumentos de lentidão”, de José Paiva, conhecido professor, artista e pedagogo ligado à faculdade de belas-artes do Porto. A exposição, muito bem montada, é composta por séries de desenhos de árvores, executados com o mesmo tipo de técnica e material (canetas de ponta fina sobre papel), quase todos monocromáticos (sépia). Nos textos do catálogo que a acompanham, impõe-se o tema da lentidão (no sentido do uso justo do tempo para a realização de uma tarefa).
Os desenhos não pretendem apresentar uma perspetiva naturalista e mesmo tridimensional. Assim, sobressai a sua cuidada tentativa de compreensão quase arquitetónica, das estruturas e linhas que compõem cada árvore desenhada. Recordamos o título de um livro do arquiteto Siza Vieira: “Desenhar a Evidência”. E o tempo (sem pressas) que podemos imaginar terá demorado a efetuar cada um daqueles desenhos. Além do prazer, que só quem desenha conhece, do deslizar da mão sobre o papel, com um material riscante, enquanto o olhar se fixa e conversa com o objeto desenhado.
Depois de ver esta exposição, vi em Serralves, no Porto, uma outra – “entrelaçar”, do conhecido artista e ativista Ai Weiwei – onde as árvores também constituem, por assim dizer, o objeto de criação. Neste caso o artista partiu de árvores e raízes, para fazer moldes, e depois fundir metal e produzir esculturas em dimensão real. Pelo catálogo ficamos a saber que uma das peças expostas (“Pequi Tree”) se refere a uma árvore originária do Brasil, e que este exemplar encontrado estava oco e morto. O projeto ganha então o estatuto de intervenção sobre o tema da Amazónia. A exposição é acompanhada por um vídeo onde se pode conhecer o processo utilizado, as pessoas envolvidas, o tempo consumido. No caso da obra “Pequi Tree” foram três anos, uma equipa de cerca de 100 pessoas e três continentes (árvore no Brasil, moldes feitos por técnicos ingleses, fundida na China, exposta em Portugal, cerca de 60 toneladas de peso). Cá está de novo a lentidão. Curiosamente as esculturas de Ai Weiwei são da mesma côr sépia dos desenhos de José Paiva.
A velocidade a que passamos frente a estas obras de arte, mesmo que devagar e até com paragens, nunca farão justiça ao tempo real que elas incorporam. Estou a falar de obras de arte, mas por vezes acontece o mesmo com as pessoas. Talvez esta metáfora seja mesmo a melhor forma de compreender o tempo próprio da criação.
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Teresa Machado
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