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No coração de uma criança cabe tudo: o respeito, o acolhimento, a magia, o sonho, a empatia. A grande mensagem é que a criança acolhe, não julga. Quando crescemos, tendemos a esquecer-nos disto de nos acolhermos e respeitarmos uns aos outros neste espaço comum que partilhamos.
Ernesto é a personagem principal deste livro. Quem é este menino?
O meu tio chama-se Ernesto. E identifico algumas características do Ernesto no meu tio. Na altura dei este nome como uma homenagem. Acaba por ser um nome invulgar. Na sua profissão, lida com imensas crianças que não têm este coração saudável como tem o Ernesto. Será a sua maior dor… Sem dúvida. Este livro descreve um mundo e uma família ideais. E sabemos que isso não acontece. Eu trabalho diretamente com crianças vítimas de violência doméstica. Já pensei sobre poder escrever sobre o que é uma família desestruturada ou disfuncional. Para já, tento sempre que seja a família mais harmoniosa.
Que principais dramas encontra na vida profissional?
As crianças passaram a ter um estatuto de vítima nos casos de violência doméstica. Quando vivenciam e presenciam são vítimas diretas. Sempre que há uma queixa-crime as crianças ficam sinalizadas e é um direito receberem apoio emocional e psicológico. No meu trabalho tentamos eliminar aquilo que poderá ser a repetição de comportamentos desajustados.
Nos livros há, então, esperança para estas crianças, também?
É exatamente essa a mensagem. Eu gosto que os meus livros sejam leves e que transmitam esperança. Neste livro é contada uma viagem e o Ernesto é um sonhador… O livro aborda precisamente como é o mundo sob o olhar de uma criança. Há o foco numa viagem: seja sonhada ou real. E está também muito presente a importância da educação e do poder transformador da educação nas nossas vidas e os direitos das crianças. Elas dão-nos verdadeiras lições. Em conversa com a minha filha Benedita, falávamos de viagens. Ela disse-me que gostava de conhecer lugares novos, mas confessou-me que a melhor e a maior viagem que podemos fazer na nossa vida é para o coração um dos outros. E acrescentou que poderíamos fazer isso em qualquer lugar. Esta resposta teve muito impacto em mim. São estas lições de vida que as crianças nos dão. Com esta leveza e com esta simplicidade. Nós, adultos, tendemos sempre a complicar. Não nos lembramos de que também nós podemos ser crianças. Quando por vezes fazemos um comentário depreciativo tendemos a dizer que aquela pessoa é uma criança, querendo referir-nos à falta de maturidade. Mas ser criança é o bem mais precioso da vida.
Está na calha escrever um romance?
É um desafio, um grande desafio. Não devo balizar sonhos. O facto de escrever livros para crianças tem-me mostrado outros interesses, alguma potencialidade, aspetos em que posso melhorar. Escrever um romance não é impossível, não vou já dizer que não. É um registo completamente diferente.
Voltando ao que disse há pouco sobre educação. Lembro também que a Adriana afirmava há dias que o maior investimento que se deve fazer é na educação das crianças. É outra mensagem que quer deixar?
A educação é um motor de transformação social. Se as pessoas são educadas, tomam decisões mais informadas. Se assim é, estão mais capacitadas. A educação contribui decisivamente para melhorar a vida de nós todos. Começa em casa, mas estende-se a todos os contextos. Educar é prevenir, prevenir é educar.
Quem é o seu maior crítico nos livros? A quem dá um livro para ler primeiro?
Normalmente não dou a ninguém para ler. Só mesmo à editora. Mas o meu maior crítico, no sentido mais construtivo, é o meu pai. Não na história, mas no projeto. Está sempre preocupado. A minha mãe tem mais esperança, o meu pai tem sempre os pés assentes na terra. O que tento dizer-lhe é que as coisas nem sempre correm bem. E está tudo bem. A adesão dos leitores, a compra de livros pode melhorar, pode piorar… É o que é…
No momento de enviar o livro para a gráfica tem aquela sensação de que o livro deixa de ser seu?
Sim, sinto isso. Há um clique de início de processo. O livro deixa de ser meu e passa a pertencer a alguém. Confias a tua obra a alguém.
No primeiro livro sugeriu a leitura à medida que ia comendo chocolate, o que sugere neste caso?
Ler a beber um chá para acalmar o coração. Estamos todos a precisar. A nossa vida é alucinante e estamos a precisar de parar, respirar, refletir.