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A vida mudou. A pandemia ocupa-nos o pensamento há muitos meses. Há um novo normal, ainda que ninguém tenha explicado bem este conceito, talvez porque não esteja, ainda, suficientemente, clarificado e solidificado. Surgiu uma parafernália de vocábulos que se impregnaram nas nossas rotinas: Covid-19, vírus, contágio, vacina, teste, confinamento, UCI, virologista, quarentena, distanciamento, afastamento, álcool gel, lavagem das mãos, Saúde 24, especialistas, cientistas, comentadores, anti-vacinas, negacionistas, Pfizer, Moderna, AstraZeneca, BioNTech, Certificado Digital, PCR, infetados, recuperados, internados, ventilados, ventilador, DGS, Ómicron, Delta, máscaras…
Asfixiado pela dureza da pandemia, o mundo não parou. Continuamos a assistir à destruição ambiental e às respetivas alterações climáticas com efeitos devastadores em todo o mundo. Aplaudimos a jovem ativista Greta Thunberg e sucumbimos a cada nova Cimeira do Clima, mesmo com discursos fortes como o de António Guterres, Secretário Geral da ONU: “É hora de dizer basta. Basta de brutalizar a biodiversidade, basta de matarmo-nos a nós mesmos com carbono, basta de tratar a natureza como uma latrina (…) e de cavar a nossa própria sepultura”.
Quando prestamos atenção a outras notícias, ficamos com a sensação de vivermos asfixiados num caos financeiro global com fortes implicações nas economias locais. 1% dos humanos acumula mais riqueza do que os restantes 99% de indivíduos que compõem a humanidade. 859 milhões de pessoas passam fome no mundo, das quais 150 milhões são crianças que não acedem a uma refeição digna por dia, não têm condições mínimas de acesso à habitação, à saúde e à educação. É bem evidente o aprofundamento das desigualdades sociais.
A pandemia, a crise climática, o caos financeiro, as desigualdades, a pobreza, as transições demográficas parecem convergir para o eclodir de uma crise sistémica global. As tensões latentes – por exemplo a relação entre a Rússia e a Ucrânia ou a China e Taiwan – e o avanço dos populismos são sinais não negligenciáveis.
Em Portugal, o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2021 sobre rendimentos do ano anterior, indica que 18,4% das pessoas (1,9 milhões de pessoas) estavam em risco de pobreza em 2020 mais 2,2% do que em 2019. A taxa de risco de pobreza correspondia, me 2020, à proporção de habitantes com rendimentos líquidos (por adulto equivalente) inferiores a 6653 euros, ou seja, 554 euros por mês. O crescimento do risco de pobreza foi mais severo no caso das mulheres (mais 2,5%, passando de 16,7% em 2019 para 19,2% em 2020), especialmente no caso das mulheres mais idosas (mais 3%, passando de 19,5% para 2,5%). Portugal tornou-se um país mãos desigual em 2020. O Coeficiente de Gini, que evidencia as diferenças de rendimentos entre todos os grupos populacionais, registou um valor de 33,0%, mais 1,8% do que no ano anterior (31,2%). Ainda que expectáveis, não deixam de impressionar e preocupar os números apresentados porque representam pessoas e famílias.
Num só ano caíram em situação de pobreza 228 mil pessoas, quase um quinto da população portuguesa vive abaixo do limiar da pobreza. Foi invertida a tendência de descida da taxa de pobreza que se verificava desde 2015. Não há nos registos do INE outra subida tão acentuada. Desde 2017 que não havia tantos trabalhadores pobres, 11,2%. Os efeitos da pandemia fazem-se sentir mais nos grupos com rendimentos mais baixos que têm mais dificuldades de adaptação ao teletrabalho e dedicam-se a atividades fortemente afetadas – turismo, restauração, hotelaria – e também ao trabalho informal, logo desprotegido.
Somando às situações de pobreza as de exclusão social, podemos estar a falar de cerca de 2,3 milhões de pessoas, 22,4% da população. Agravou-se a intensidade da pobreza e aumentaram as desigualdades. São os mais pobres, de entre os pobres, os mais afetados.
Com eleições legislativas agendadas para 30 de janeiro de 2022, gostaria de ver como prioridades dos candidatos, e na primeira linha de interesse da comunicação social, a demografia; o combate à solidão e ao isolamento; a estratégia de eliminação da pobreza e de diminuição das desigualdades sociais; as alterações climáticas e o modelo de desenvolvimento do interior.
Os próximos tempos são propícios para parar, pensar, apresentar, auscultar e validar novas ideias que permitam agir e não deixar o país submergir num estado comatoso, absolutamente indesejado e injusto. Faz sentido, numa sociedade altamente conectada, estimular uma mudança da cultura política e da participação cívica ativa. Estamos todos cansados de, na ressaca dos resultados, ouvirmos as carpideiras de serviço na fastidiosa e habitual verborreia, com direito a prime time, sobre a abstenção e o afastamento do cidadão da política.
Voltando ao combate à desigualdade (deve ser um objetivo estratégico de qualquer governo), Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, no livro “Como as Democracias Morrem”, deixam claro que os altos níveis de desigualdade prejudicam a qualidade das democracias. O aumento do fosso entre os cidadãos amplia os ressentimentos da população e aumenta a polarização, criando um terreno fértil para o surgimento de populistas que fazem perigar o nosso modelo de sociedade, alicerçado em valores democráticos que não queremos ver ignorados, ostracizados, ameaçados, amputados, ignorados, arrasados.
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