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De ano para ano, acentuam-se as evidências e os indicadores negativos das Alterações Climáticas. O relatório anual da Organização Mundial de Meteorologia sobre o Estado do Clima, recentemente publicado, revela que, em 2021, 4 dos 7 indicadores críticos das alterações climáticas globais bateram novos recordes. Aí também se salienta que os últimos sete anos (2015 a 2021) foram os sete anos mais quentes jamais registados.
Em 2022, Portugal está a “sentir na pele” a combinação de uma seca severa, que se vem agravando, com a onda de calor que emergiu subitamente em julho.
Como é sabido, o crescimento das emissões de dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa – em grande medida, decorrentes da queima de combustíveis fósseis – provocam paralelamente uma subida da temperatura média que desencadeia uma série de efeitos, como, entre outros, o degelo das calotas polares, a elevação do nível médio da água do mar e fenómenos meteorológicos extremos. Refiram-se o surgimento de mais furacões (como no Oceano Atlântico a latitudes superiores, próximas de nós) ou as ondas de calor e secas, de que Portugal padece em 2022. Estas condições climáticas adversas, com impactos muito negativos (alguns até trágicos) no ambiente, na saúde humana, na economia e no território, são cada vez mais frequentes, prolongados e intensos!
Em Portugal Continental, um clima temperado mediterrânico de transição, com uma temperatura característica já bem mais elevada que a média europeia, um regime de precipitação muito variável no tempo e no espaço, uma ocupação florestal desajustada (incluindo a maior taxa de ocupação relativa de eucaliptos do mundo), outros problemas estruturais no ordenamento do território e a desertificação do Interior, incluindo o abandono dos terrenos agrícolas, a par de uma linha de costa extensa, compõem um enquadramento especialmente vulnerável à emergência climática que nos assola.
Sublinhando esta grande sensibilidade de Portugal, um estudo científico americano, publicado este mês na revista Nature Geoscience, comprova que o Anticiclone dos Açores, através da sua posição e da sua expansão recentes (induzidas pelas Alterações Climáticas), contribui muito para o atual período de seca. O seu contributo é também evidente para a elevação das temperaturas máximas da onda de calor que nos “sufocou”.
Assinale-se que o record absoluto de temperatura máxima registada no mês de junho 47oC – “sim, estamos no dealbar de temperaturas à volta dos 50oC” – foi registado agora na Estação Meteorológica do Pinhão-Santa Bárbara, localizada no distrito de Viseu.
Especificamente a região de Viseu, em 2017-2018, foi muito afetada pelos efeitos gravosos de três fenómenos meteorológicos extremos. Coincidência que não aconteceu em nenhuma outra região do território nacional.
Em 2017, a seca extrema prolongada foi um fenómeno disseminado por todo o território, mas em Viseu atingiu um dimensão dramática, ao nível do abastecimento de água para consumo humano. Tal deveu-se por, à data, como ainda hoje, Viseu ter esta carência infraestrutural básica de primeira geração por resolver. A Barragem de Fagilde, contrariamente a outras reservas de água portuguesas destinadas ao consumo humano (incluindo a região sul bem mais seca), tem um resiliência extremamente reduzida, não tendo capacidade para garantir o abastecimento de água em períodos de seca prolongada.
O “mega incêndio florestal” de 15 de outubro de 2017, no centro de Portugal, vindo da Lousã para norte, propagado “num ápice” por uma invulgar vaga de calor intenso, em sinergia com ventos fortes provocados pela passagem paralela do Furacão Ophelia no oceano (que normalmente não alcançaria estas latitudes), atingiu forte o sul do Distrito, antes de se dissipar no concelho de Viseu.
Já em 2018, derivada de outro furacão, a Tempestade Leslie entrou no continente pela zona da Figueira da Foz. Na sua deslocação de oeste para este alcançou a região de Viseu. No centro de Portugal a Leslie afetou gravemente infraestruturas de telecomunicações e de distribuição elétrica, equipamentos municipais, habitações, associações, instituições do setor social, viveiros e uma vasta área de terrenos agrícolas e florestais. Na cidade de Viseu o seu impacto foi bem evidente na Mata do Fontelo.
Por outro lado, a ocupação florestal, incluindo eucaliptos, é, na região de Viseu, uma das maiores no território nacional, a par da forte depressão demográfica, com abandono de terrenos agroflorestais.
Pese a coincidência das circunstâncias referidas – algumas por inépcia dos decisores políticos, como a não resolução do abastecimento de água a Viseu – e de problemas graves de ocupação e ordenamento do território, que se reproduzem noutras regiões do país, não há estudos que perspetivem uma intensificação específica das alterações climáticas na região de Viseu.
Está bem evidente aos nossos olhos, a Pandemia e a Guerra são mais dois sinais, o “Nosso Mundo” está a sofrer alterações globais, abruptas e disruptivas em múltiplas dimensões, p.e. ao nível ambiental, geopolítico, tecnológico, económico-financeiro, demográfico e social! De entre todas as ameaças, as Alterações Climáticas são as mais matriciais, podendo até, no limite, comprometer a nossa sobrevivência.
De facto, do individual (cabe a cada um de nós um papel fundamental ao nível da energia que consumimos direta e indiretamente) ao global (através dos grandes decisores do mundo), passando pelo local (municípios) e nacional (governo) muito há a fazer! Rápido! O “relógio climático” está a contar, só se conseguirmos reduzir fortemente as emissões de dióxido de carno, conseguiremos travar o reforço de eventos climáticos adversos como os que estamos a viver.
Ao nível global, os principais países contribuintes para o efeito de estufa – principalmente a China, os Estados Unidos e a Rússia -, porventura mais preocupados com o crescimento económico de curto prazo e a qualquer preço, muito atrasados na evolução do seu “mix energético”, estão efetivamente muito distantes de um modelo de desenvolvimento sustentável, fundamental para a garantir Futuro às gerações futuras.
As Cimeiras da Terra são demasiado estratégicas e proclamatórias, não se estabelecendo ações concretas, monitorizáveis e vinculativas para a redução do consumo de combustíveis fósseis e a respetiva redução da emissão dos gases com efeito de estufa. No curto prazo, a Guerra na Ucrânia, vem atrasar a resolução do problema. A médio-longo prazo, aguarda-se que esta questão geopolítica e económica, que evidenciou a suscetibilidade da dependência energética de fontes externas (no caso combustíveis fosseis oriundos da Rússia), impulsione uma aposta mais clara nas energias renováveis na Europa.
O nosso país dispõe de condições ímpares, desde as energias fotovoltaicas, à energia da marés e das ondas, à energia eólica ou às hidroelétricas. Portugal, é hoje um modelo europeu a seguir, na sua menor dependência do exterior e dos combustíveis fósseis na produção de energia elétrica, 60% baseada em renováveis. Portugal é mesmo o país da União Europeia mais bem posicionado para atingir a neutralidade carbónica em 2050.
Curiosamente, numa mais-valia pouco divulgada, o distrito de Viseu, considerando metade do cordão de barragens do rio Douro partilhadas com os distritos de Trás-os-Montes, a Barragem da Aguieira, as centrais de biomassa e a potência elétrica instalada nos parque eólicos, foi o primeiro distrito do país – porventura, uma das primeiras regiões da Europa – autossustentável em energia elétrica produzida a partir de fontes renováveis. O concelho de Viseu, por si só, com as eólicas instaladas, as mini-hídricas e a Central de Biomassa, é ele mesmo um bom exemplo de autossustentabilidade em energia elétrica.
Para além do combate às Alterações Climáticas, é essencial assumir igualmente que os efeitos que já se manifestaram “vieram para ficar”. Há que apostar forte nas políticas e estratégias de adaptação às alterações climáticas. Os incêndios florestais são disso um exemplo claro.
É certo, na região de Viseu, como em Portugal, após 2017, verificou-se uma melhoria significativa ao nível da proteção individual, prevenção, comunicação, deteção e combate a incêndios florestais. Ainda assim, muito há fazer nesses planos.
Mas é sobretudo, a montante, a um nível mais estrutural, no ordenamento, cadastro, gestão, e reflorestação que muito tem de ser realizado.
Como os anos de 2017 e de 2022 atestam, os incêndios, para além de mais repentinos, intensos e menos controláveis, estão a mudar de cariz. Aparecem fora da época (Pedrogão Grande a 20 de junho e Região Centro a 15 de outubro) e saem das áreas tradicionais de incêndios florestais. Este ano, inesperadamente, os incêndios florestais atingiram cidades do litoral, áreas densamente povoadas como Palmela, Leiria, Ourém e Quinta do Lago, atingindo habitações em áreas já pouco florestadas.
Para esta nova realidade é imprescindível repensar a forma como reordenamos o território, planeamos as florestas, mas também os espaços urbanos.
Para a questão portuguesa “de sempre” nos verões, há conhecimento científico, há evidências e há recursos. Por exemplo, o Plano de Recuperação e Resiliência que contempla uma verba avultada para aplicar na transição energética e no combate às alterações climáticas.
Será que, “como sempre”, vamos continuar a ser essencialmente reativos, com “ai ai ai” no verão e falta de proatividade estrutural no inverno, face às consequências nefastas deste tempo imensamente quente e seco que, crescentemente, nos vai assolar?
Pedro Baila Antunes
Professor no Instituto Politécnico de Viseu
(Diretor do curso de Engenharia do Ambiente)
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