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por
Filipe André
Confesso-me um adepto dos tempos idos em muitos contextos. Talvez até romanceie um pouco vidas de algumas personalidades da história. Assumo “mea culpa”, mas em minha defesa, acho que o leitor no final deste artigo, face ao que aqui exponho me entenderá.
Ouço muita vez uma frase, que ao que parece terá origem no Oriente, “homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes.” Os dias que correm, com tão penosa informação, obrigam-me a ter esta frase em constante sobressalto nos meus pensamentos, basta observar o desvario Americano, que deveria ser um embaraço para qualquer cidadão deste mundo. Mas também, porque vivemos a um ritmo alucinante de faz de conta, com personalidades que se emancipam através de redes sociais, sejam eles, influencers que têm uma mão cheia de nada para oferecer, quanto muito, e é mesmo muito, provarem por a+b que a imbecibilidade não tem limite.
Escrevo para um jornal, porque me apercebo que os jornais podem ser um meio para o combate a esta peste dos tempos modernos. Pelo menos há lugar ao escrutínio, e os conteúdos são autênticos com tarimba que deva contribuir para uma sociedade que sempre se quis de debate que se deve vangloriar de valores e princípios.
Mas para lá desta combina abominável que prolifera nas diversas plataformas digitais, há ainda um fenómeno, que não sendo novo, é digno de anotação, pela forma como se revestiu e simplificou.
Sempre houve e haverá umas personagens que se especializam em ser bajuladores natos, com uma capacidade de adulação formidável. Ora, as redes sociais simplificaram esta atividade, e de que maneira.
Hoje é muito fácil chegar a determinadas figuras, seja da política, dos media, desporto ou outro. Contudo é na política e nos políticos que mais me evidencia a pertinência.
Sempre vi na política, o ato de uma causa nobre, de altruísmo e responsabilidade. Saber que se é eleito por cidadãos que confiam em outros para esse tipo de funções, deveria ser um carrego no sentido de não se defraudar quem depositou esse tipo de confiança e missão através da legitimidade do voto. Parecerá que estou a falar de tempos idos. Hoje a política descredibilizou-se de uma forma, que penso já ter passado para lá do ponto de retorno.
Hoje as redes sociais, proporcionaram a propaganda política barata, onde o pseudopolítico adora ser bajulado por um sem-número de bajuladores intrínsecos ao grupo, que procuram a todo o custo a sua atenção, seja para lobby ou para um obsequio. A quantidade de “gostos” e “adoros” colocados por esses aduladores fingidos é exatamente a imagem tenebrosa de quem também hoje em dia sustenta a política, e denota-se em especial nos burgos onde residem ou têm ligação.
Para alguém que lhe sobre algum tempo, e tenha curiosidade, basta pesquisarmos alguns políticos das nossas praças, e temos á descarada a identidade dos “boys” e “girls” das palmadinhas nas costas digitais que se esforçam para ser notados e valorizados por tamanhas ações, com interações quase ao minuto, que vão desde a partilha de publicações, aos comentários do “muito bem”, ao botão do “gosto” e do “adoro”.
Se se pesquisar com mais afinco, políticos de meios mais pequenos, então a evidência ainda é maior, e irá perceber que afinal, algumas destas personagens pertencem aos aparelhos políticos dos partidos e outros, que através da sua bajulação conseguiram o seu poiso e que agora têm que se mostrar e agradecer a oportunidade como servos. O que não invalida por parte destes, o escárnio e mal dizer a quem os lá meteu, abanando a bandeira na frente, e tirando o tapete por trás.
Desafortunadamente, a política, veste-se muito desta maleita, talvez também por isso mais de 50% do eleitorado, que já foi estudado, não vai às urnas que no fundo é harmónico também como a diminuição dos militantes dos partidos políticos. Assim estamos, com metade dos eleitores a decidir o futuro de um país e outros a fugirem dos partidos sem os ideais e exemplos de outrora. Estou certo que é fruto do descrédito, que, entretanto, veio dar palco a extremismos, que apenas lhes foi concedido porque sistematicamente os do costumado se foram esquecendo dos princípios basilares da política e da democracia, esquecendo o que na realidade lhes competia e ao que iam, que é muito para além dos tronos que criaram em seu proveito. Para muitos, o último reduto para sua projeção e salvação pessoal, é o espaço político, e os partidos cada vez mais fechados no poder vão-se desprovendo dos bons, dos que podem fazer a diferença. Assim também se entende que a qualidade dos nossos políticos, na minha modesta opinião tenha diminuído drasticamente. Hoje a sensação que se tem, é que se faz muito, através da facilitada propaganda, quando no final de contas, mais não é do que uma mão cheia de nada, de pequenas tiranias. Também as nossas pequenas aldeias, vilas e cidades, precisam de políticos sérios, capazes, e não de propaganda barata. É preciso emancipar as nossas gentes (o que por vezes não é muito propenso) que ainda votam em troca de muito pouco. Ainda casos há, que se trocam votos por uma arroba de batatas.
Em suma, tenho saudades de damas e cavalheiros, gente de bem, capacitadas. Gente respeitadora e respeitáveis com sentido de responsabilidade, com vontade de deixar o mundo melhor do que o encontraram. Daqueles que sempre souberam que a vida não é eterna, e que o tempo teima em desvalorizar os que tanto se querem autovalorizar sucumbindo à necessidade de apreço e reconhecimento desdenhável.
Não é que não existam agora, nada disso, mas convínhamos, que lá começam a escassear, isso começam…
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Filipe André
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