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Algures na década de 1780, o organeiro Joaquim António Peres Fontanes construiu um órgão de tubos enquadrado naquilo que se designa de Órgão Português. Agora, quase 250 anos depois, este órgão – classificado de Tesouro Nacional – será tocado em Viseu, no Museu Nacional Grão Vasco.
Será o músico viseense José Pedro Pinto o responsável pela apresentação de dois concertos, um no dia 30 de março e outro no dia 6 de abril. Os dois espetáculos servem para o músico apresentar o seu terceiro projeto musical, intitulado “Carmo”, que junto órgão de tubos, acordeão, flautas, guitarra clássica e voz. A composição, o órgão e a guitarra clássica ficam a cargo de José Pedro Pinto, com Sónia Sobral no acordeão, Inês Correia e Joana Matos nas flautas e Teresa Queirós a dar a voz para este álbum composto por 18 músicas.
O espetáculo, contudo, tem uma particularidade: a música é, por vezes, o objeto secundário. Isto porque serão lidos oito textos históricos pela atriz e cantora Teresa Queirós – códigos, ensaios, discursos, atas e tratados que atravessam cinco séculos e três continentes. Foram estes textos, explicou José Pedro Pinto ao Jornal do Centro, o ponto de partida para este projeto. “Eu queria fazer música com textos já existentes porque já no álbum anterior, ‘Liturgia’, tinha feito música para coro e tinha usado aquelas letras dos cânticos fúnebres, em latim”, começou por dizer o músico. “Eu não sou escritor nem me apetecia estar a inventar palavras novas, por isso achei que seria interessante procurar textos que tivessem alguma espécie de ressonância, mesmo que antigos”, disse ainda.
Já a possibilidade de utilizar um órgão português com quase 250 anos surgiu por acaso. O Museu Nacional da Música, contou o artista, está em processo de transição para outro edifício, aproveitando para expor alguns dos seus tesouros musicais noutros museus e espaços de exposição. Foi assim que surgiu a hipótese deste órgão ir parar ao Museu Nacional Grão Vasco, oportunidade que José Pedro Pinto não deixou escapar.
“Os instrumentos normalmente têm standards, desde o número de teclas à afinação ou à maneira como se constrói, mas neste caso, como são instrumentos que têm séculos de idade e que têm manutenções mais ou menos regulares e sendo coisas de madeira e ferro, quando está calor soam de uma maneira e quando está frio soam de outra, por exemplo”, esclareceu o músico de Viseu.
As diferentes artistas que compõem o projeto acabaram por surgir através de um desejo de trabalhar em conjunto, esclareceu o compositor, dando o exemplo de Inês Correia e Joana Matos. “As raparigas que vão tocar flauta já tinham trabalhado comigo no álbum anterior, onde fizeram parte do coro”, explicou o músico.
“A questão das flautas, do acordeão e do órgão, para mim foi porque achei que era muito interessante a ideia de fazer música em instrumentos que funcionam a ar, ou seja, que funcionam sempre com o ar a bombear e pequenos tubos e foles que abrem e fazem som”, afirmou ainda José Pedro Pinto. Já a questão da guitarra, explicou, prende-se com um solo em que não são utilizados os restantes instrumentos.
Cada leitura musicada será intervalada por uma composição meramente instrumental, que José Pedro Pinto considerou serem “espaços para as pessoas processarem o que ouvirem e terem tempo de recuperar o fôlego”. “O mais importante são as músicas que têm texto e nessas sim, a música está lá só para criar um ambiente sonoro para o texto ser entendido”, concluiu.
O primeiro álbum de música original para órgão de tubos de José Pedro Pinto, “Misericórdia”, foi editado em 2021 e gravado no órgão barroco da Igreja da Misericórdia de Viseu. O segundo álbum, “Liturgia”, surgiu em 2023 e contou com uma gravação ao vivo no órgão do século XX que integra a Igreja do Campo.
No dia 30 de março, domingo, o concerto tem início às 18h30 no Museu Nacional Grão Vasco. O segundo concerto, que será gravado ao vivo, acontece no dia 6 de abril, também domingo, às 21h00. O projeto conta com o apoio do Museu Nacional Grão Vasco, do Município de Viseu e da Direção Geral das Artes.
O organeiro Joaquim António Peres Fontanes, nascido em 1750, viveu até 1818 e foi responsável pela construção de três dos seis órgãos de Mafra. Além disso, é responsável pelos instrumentos da Sé de Lisboa, bem como da Igreja do Loreto ou da Igreja de S. Tiago, em Tavira.