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O incêndio em Castro Daire atingiu uma propriedade com 55 hectares, destruiu pasto, produção agrícola, maquinaria e cerca de 120 cabras serranas, raça autóctone transmontana, sustento de um casal que deixou a Suíça para investir na terra natal.
Jorge Santos e Carla Pinto são um casal, “entre muitas outras pessoas”, dizem, na freguesia de Mões e arredores, no concelho de Castro Daire, que ficaram sem o seu sustento, fruto essencialmente do trabalho na terra e dos animais.
“A uns foi o aviário, a outros a exploração agrícola, não faltam histórias dessas por aí, vão-nos fazendo chegar histórias, não há quase ninguém nesta zona que não tenha sido afetado pelo incêndio”, relatam.
O casal, com pouco mais de 40 anos cada um, com dois filhos menores, viveu na Suíça, mas “o amor pela terra e pelos animais” fê-lo regressar, há 12 anos, e investir em 55 hectares de terreno em Vale do Mosteiro, em Codessais, freguesia de Mões.
Em 2017 compraram cabras serranas, raça autóctone transmontana, e, “agora em outubro, novembro, iriam todas ter os seus filhotes”, foram “umas 120 que morreram” e cada cabra tem em média duas crias.
“Era, os cabritos para o Natal e já vou ter de dizer aos clientes, que já tinham feito encomendas, que já não podem contar com eles”, acrescentou.
Uma cabra desta raça, contaram, pode custar mais de 300 euros, estas, na idade em que estavam e prenhas, “valiam uns 200 euros cada” e, com as cabras, “morreram dois chibos machos adultos” que tinham no rebanho.
Carla Pinto contou que estavam na propriedade a tentar evitar que as chamas chegassem, mas quando o filho ligou, “perto da meia-noite a dizer que a casa estava a arder, “a aflição” levou-os a agir “sem pensar muito, para rapidamente chegar a casa”.
“A gente abriu ali as cabras, que estavam recolhidas, só que no meio da confusão, não fechámos a porteira que dava acesso às lojas e elas, com a aflição, refugiaram-se no seu abrigo. A maioria foi sem oxigénio”, contou Carla Pinto.
Jorge Santos acrescentou que, os dois cães, e 15 cabras, entre elas cinco crias, fugiram e já regressaram, que tinha nos animais os seus amigos, que o seguiam “para todo o lado” e cuja lista de prejuízos é ainda maior quando começa a olhar em volta.
“Ardeu tudo. Tenho tudo estragado. Em vedações tenho cerca de 10 quilómetros de rede e algumas estacas de madeira e são 55 hectares que cultivamos e mantemos. Colocamos sementes na terra para depois colher, quer para os animais, quer para nós”, disse.
Da lista, fazem parte “o cultivo de centeio, milho, aveia, tudo o que é alimento de animais” e das pessoas da família e, com o cultivo, foram também “os barracões de alfaias agrícolas, o arado, os painéis solares (instalados há pouco tempo), o silo com “o trabalho deste verão com mais de três mil fardos de palha e quilómetros de tubo de água, da nascente” até à propriedade.
E o seu veículo, “ao chegar a casa, de tão quente que estava, ardeu”.
Jorge Santos disse que tem “tido ajuda, de amigos (e têm sido muitos) e desconhecidos, que só podem ser amigos, porque estão a ajudar”, já que seguro não tem, porque “é muito difícil fazer para este tipo de ramo”.
“Mas nós temos o nosso terreno todo limpo, aliás, esta é a chamada cabra sapadora, porque ela vai para o mato, é uma cabra rústica, e quer é comer mato. Não tinha vegetação com mais de um palmo de altura, mas ardeu tudo, ardeu o pasto”, lamentou.
Assim como “algumas árvores de fruto” que Jorge Santos tem “plantado ao longo dos anos, para consumo próprio, e carvalhas, para ter bolotas” para os animais.
Carla Pinto, disse já terem desistido de “alguns projetos” para a propriedade, por “excesso de burocracia, mas desta vez” não vão desistir e, em contacto com a Associação Nacional de Criadores da Raça Serrana (ANCRAS), de Mirandela, de que são associados, já estão a “tratar da compra de novas cabras”.
Se Portugal “desiste da agricultura, vivemos do quê? E esta serra é para isto, para a pastorícia, sempre teve pastorícia e é disto que o povo tem de viver. E a nossa Câmara [de Castro Daire], que tem tanto orgulho na transumância, não aposta nos pastores e o nosso presidente devia lembrar-se de nós e dar-nos mais apoios e batalhar connosco contra o poder central, porque são eles que têm de ter força, não somos nós, pequenos agricultores, que vamos falar a Lisboa, são eles, e por isso é que os elegemos”, defendeu Carla Pinto.