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O Partido Comunista Português vai organizar, no dia 1 de março em São Pedro do Sul, uma iniciativa de homenagem à resistente antifascista Conceição Matos. Inserida nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, a iniciativa vai ter lugar no auditório do Centro Cultural de São Pedro do Sul.
Intitulada “Para toda a gente voltar a sorrir”, esta homenagem vai contar com a presença tanto da homenageada como de Octávio Augusto, membro da comissão política do centro cultural. O anúncio do PCP de Viseu justifica a homenagem a Conceição Matos, “destacada resistente antifascista e empenhada lutadora pela conquista e defesa das liberdades alcançadas com a Revolução de Abril de 1974”, com a “importância dos valores humanistas que sempre estiveram presentes na vida e luta de Conceição Matos”.
O Centro Cultural de São Pedro do Sul foi inaugurado em dezembro do ano passado e funciona na antiga cadeia municipal da cidade. Um investimento de 1,5 milhões de euros que transformou este cárcere num espaço que acolhe a biblioteca municipal, a CPCJ do concelho, um núcleo museológico e um auditório com mais de 60 lugares destinado a eventos culturais.
A Ditadura, o PCP e a PIDE
Maria da Conceição Rodrigues de Matos nasceu em 1936 em São Pedro do Sul. Com três anos foi viver com a família para o Barreiro, “para uma ‘barraca de madeira’ que partilhava com os pais e irmãos no Bairro das Palmeiras”, de acordo com a plataforma Memória Comum – Memorial aos Presos e Perseguidos Políticos (1926-1974).
Após a prisão do irmão, Alfredo Matos, pela PIDE, quando Conceição Matos tinha 18 anos, a então jovem sampedrense aderiu ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), uma organização política antifascista que se opunha ao regime salazarista. Na década de 1950, depois de conhecer o seu futuro companheiro, Domingos Abrantes, Conceição Matos torna-se membro do Partido Comunista Português. Após vários anos a viver na clandestinidade, enquanto trabalhavam para o PCP, os dois namorados foram presos pela PIDE pela primeira vez a 21 de abril de 1965.
A plataforma de arquivo explica que “por volta das quatro da madrugada, uma brigada de agentes da PIDE, acompanhada por guardas da GNR, invadiu a casa onde, no Montijo, viviam Conceição Matos e o seu companheiro”. Antes de ser mantida prisioneira em sua casa com armas de fogo apontadas a si, a jovem resistente conseguiu queimar os papéis mais comprometedores das suas atividades e do PCP. A si haveria de ser associada a prática de “atividades contra a Segurança do Estado”, de acordo com a sua ficha da PIDE, tendo depois sido levada para a prisão de Caxias. Após um mês em que não pôde receber visitas, Conceição Matos foi julgada e condenada a 18 meses de prisão preventiva, tendo sido decretada ainda a suspensão dos seus direitos políticos.
Durante o seu tempo detida, Conceição Matos foi “espancada, sovada durante vários dias, despojada das suas roupas, obrigada a urinar e a defecar numa sala de interrogatório e a limpar a sujidade com aquilo que trazia vestido”, explica a plataforma Memória Comum. Nenhum destes meios de tortura, contudo, constavam do seu processo junto da polícia política. Dentro da prisão, a comunicação de Conceição Matos com os restantes prisioneiros era feita com recurso a um sistema de toques, que a jovem prisioneira foi decifrando ao longo dos dias.
Em 1968, Conceição Matos foi novamente detida pela PIDE e colocada em Caxias, onde passou mais de dois meses em total isolamento. Apenas quando saiu da prisão, em meados de 1969, é que a jovem antifascista soube que Oliveira Salazar tinha morrido e que Marcelo Caetano tinha sido nomeado presidente do conselho de ministros. Conceição Matos e Domingos Abrantes casaram em 1969, quando ambos se encontravam na prisão de Peniche.
Em clandestinidade e a trabalhar para o Partido Comunista Português, Conceição Matos e Domingo Abrantes chegaram a emigrar para França, onde estiveram dois meses, até à Revolução dos Cravos. Regressaram a Portugal naquele que ficou conhecido como “avião da liberdade” e no qual viajavam também Álvaro Cunhal, Luís Cília e José Mário Branco.
Conceição Matos trabalhou nos quadros do Partido Comunista Português até à sua reforma. Vive em Lisboa com Domingos Abrantes.