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Concelhos com elevada taxa de óbitos por doenças do aparelho digestivo sem acesso a endoscopias pelo SNS

Utentes esperam meses para conseguir realizar meios complementares de diagnóstico. Em Armamar, concelho que tem das mais elevadas taxas de óbitos, não há oferta

 Concelhos com elevada taxa de óbitos por doenças do aparelho digestivo sem acesso a endoscopias pelo SNS
15.12.24
fotografia: Jornal do Centro
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 Concelhos com elevada taxa de óbitos por doenças do aparelho digestivo sem acesso a endoscopias pelo SNS
15.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Concelhos com elevada taxa de óbitos por doenças do aparelho digestivo sem acesso a endoscopias pelo SNS

Há quatro meses que Maria Lopes está à espera de conseguir marcar uma endoscopia e colonoscopia em Viseu através do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Com credencial passada pelo médico de família em agosto, no primeiro telefonema que fez para a clínica convencionada a resposta foi imediata: “não há marcação, está tudo cheio até dezembro”. A utente tentou outras clínicas na cidade, mas todas disseram que não tinham convenção. O próximo passo foi contactar outros centros de exames fora de Viseu. Em Oliveira de Frades, a Santa Casa da Misericórdia disse que podia aceitar a marcação, mas teria de ficar numa lista de espera a não ser que a credencial tivesse, por ordem médica, a referência de urgente e aí poderia ser chamada entre dois a três meses. Os exames seriam comparticipados, mas as anestesias tinham de ser pagas, num valor de 120 euros. 

Há cerca de duas semanas, ligou novamente para a única clínica convencionada em Viseu e, desta vez, a resposta foi a de que ficaria em lista de espera com possibilidade de realizar os exames em janeiro ou fevereiro, a não ser que alguém desista. 

Maria Lopes, de 52 anos e utente em Vouzela, continua a aguardar sem saber quando vai conseguir fazer os exames que o médico pediu e que se forem pagos do seu bolso podem ascender aos cerca de 400 euros. 

A utente faz parte dos 40 por cento da população portuguesa que não tem acesso a endoscopias gastrenterológicas no concelho onde mora e de uma grande percentagem com dificuldade de acesso a meios complementares de diagnóstico e terapêutica nesta área que se dedica ao estudo e tratamento das doenças do aparelho digestivo e com intervenção do SNS.

De acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de óbitos em Portugal devido a doenças do aparelho digestivo aumentou cerca de 17% entre 2013 e 2021, registando um aumento médio anual de 2%, em linha com o crescimento médio global de todas as causas de morte, e representando cerca de 4% do total de óbitos.

Adicionalmente, as causas de morte “tumor maligno do cólon, reto e ânus” e “tumor maligno do estômago” representavam mais de 4% do total dos óbitos em 2021, embora tenham apresentado uma redução média anual de cerca de 1% desde 2013, ano em que estas causas de morte representavam quase 6% do total.

Estes dados, aliados ao histórico de problemas de acesso a serviços de endoscopia gastrenterológica identificados pela Entidade Reguladora de Saúde (ERS) traduzem-se num cenário “doente”.

Na região centro, o total de estabelecimentos capacitados para a prestação de serviços de endoscopia no setor público são 9, tantos como no setor social convencionado. Já estabelecimentos privados há 119. Em Portugal, entre privado e público, existe, 641 estabelecimentos que se distribuem por 141 dos 278 concelhos, sendo que os estabelecimentos privados se situam em 135 concelhos, os públicos em 34 e os do setor social e 38. AS regiões de saúde do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo concentram 70 por cento das clínicas.

A oferta publicamente financiada – que inclui os serviços prestados nos estabelecimentos do SNS e em prestadores não públicos com convenção com o SNS – abrange 81 concelhos dos 278 concelhos de Portugal continental. O maior número de concelhos com esta oferta está situado na zona litoral das regiões de saúde do Norte e do Centro, em consonância com os dados da informação de monitorização de 2022. Estas duas regiões concentram cerca de 68% dos concelhos com oferta publicamente financiada em Portugal continental, ou seja, 55 concelhos de um total de 81. 

Em termos populacionais, os 81 concelhos com oferta publicamente financiada abrangem 63% da população total de Portugal continental, correspondendo a cerca de 6 milhões e 380 mil habitantes, com mais de 80% desta população a residir nas regiões de saúde do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo.

Ao analisar a distribuição da incidência de tumores e outras doenças do aparelho digestivo, com base no número de óbitos por doenças do aparelho digestivo por dez mil habitantes residentes em cada concelho, constata-se que na grande maioria dos 20 concelhos onde este rácio é mais elevado não existe oferta com capacidade para a prestação de serviços de endoscopia gastrenterológica, como é o caso de Armamar em que o rácio de óbitos por dez mil habitantes é de 38,7 por cento, um dos mais elevados de Portugal. 

Conclui-se que, face à análise anterior, de 2022, a oferta nos 20 concelhos com os rácios mais elevados de óbitos por doenças do aparelho digestivo reduziu-se, de cinco estabelecimentos para três, sendo estes três de natureza privada, sem convenção com o SNS para realização de endoscopia galenterológica.

Em 2023, ainda de acordo com os dados compilados pela ERS, por cada mil habitantes na região centro realizaram-se 188 exames. O encargo com o setor convencionado nesta área geográfica foi de 13,6 milhões de euros. 

 Concelhos com elevada taxa de óbitos por doenças do aparelho digestivo sem acesso a endoscopias pelo SNS

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