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Da cozinha da Cáritas Paroquial de Santa Maria, em Viseu saem, por dia, 100 refeições quentes. É ali que dezenas de pessoas, diariamente, matam ou atenuam a fome. A crise tem aumentado a procura e a resposta, garantem, nunca falha, nem pode falhar.
No caso da cantina social, em média, este ano, foram beneficiadas 41 pessoas. Até esta altura, 370 pessoas foram apoiadas. Pessoas que chegam da zona histórica da cidade e das freguesias de Gumirães, Repeses e do bairro social de Paradinha. Nesta cantina, cada pessoa tem direito a uma refeição diária. O mês com mais apoios fornecidos foi o de janeiro (47 refeições), mas o número manteve-se sempre constante: a rondar as 40 refeições por dia. Quem ali chega tem sempre o aval de um técnico, que pode ser da Segurança Social, ou do Hospital, por exemplo.
No refeitório social da instituição, o apoio é alargado ao distrito de Viseu e os beneficiários recebem duas refeições diárias: almoço e jantar. Desde o início do ano, a Cáritas Paroquial de Santa Maria já auxiliou 103 pessoas. No Programa Operacional de Apoio a Pessoas Carenciadas, a Cáritas apoiou 567 pessoas de norte a sul do concelho de Viseu, com distribuição alimentar a quem mais precisa.
Ana Paula Ribeiro já está na Cáritas Paroquial de Santa Maria de Viseu há 13 anos. A diretora técnica assegura que “com a fase da pandemia tivemos um aumento significativo de apoio”. A responsável diz que há um protocolo assinado para apoiar 25 pessoas por dia no refeitório social. ”
“Houve um aumento significativo de pessoas que vieram pedir ajuda numa emergência, como o pão, por exemplo. Nós aí damos sempre resposta. Isso há sempre. Diariamente temos pessoas que vêm cá buscar o pão.”, refere.
À Cáritas Paroquial de Santa Maria recorrem pessoas “cada vez mais deprimidas, desgastadas e sem perspetivas”. “Vivem mesmo um dia de cada vez”, descreve Ana Paula Ribeiro. Cada valência tem diversas histórias de vida. No caso do Refeitório Social, acorrem ali sobretudo “pessoas sozinhas, mais homens até, que estão em quartos”. Já na cantina, descreve, “há mais pessoas com agregados familiares, que estão sem hipótese de fazer face às despesas por causa dos encargos que têm”.
A diretora técnica da Cáritas de Santa Maria, em Viseu, assegura que dali ninguém sai com fome. “Quando a pessoa vem bater à porta pedir ajuda, tentamos perceber que tipo de ajuda quer. Nem sempre é só alimentar. É económica, de não ter capacidade de adquirir um móvel, um fogão… Depende das necessidades. Se é a nível alimentar, se é da nossa zona e não é acompanhado por nenhum técnico, faço o atendimento e, depois, mediante a situação, tenho que reencaminhar para os técnicos da Segurança Social para eles analisarem. Se é uma situação pontual, que a pessoa não tem qualquer coisa naquele momento, faço a avaliação, pergunto pelo agregado familiar, se está desempregado ou não. Não deixamos a pessoa ir sem bens alimentares”, concretiza.
Dando conta de que, “desde que estou aqui nunca assisti a uma situação tão grave”, reforça que “a questão social é algo que diz respeito a todos nós”. Ana Paula Ribeiro lança o alerta de que “é importante que as empresas do distrito comecem a ter mais noção da responsabilidade social e ajudem as instituições que estão no terreno”.
É que, em sentido contrário, há também quem procure a Cáritas Paroquial para doar bens. “Temos muita gente que nos vem dar batatas, cebolas. As pessoas conhecem o trabalho que fazemos e chegam cá e, ou trazem, ou vamos buscar, também”, confessa. Ali trabalham 17 pessoas, quatro das quais estão na cozinha a confecionar uma média de 100 refeições diárias.
É também na instituição que fica no Centro Histórico da cidade de Viseu que funciona o Centro de Acolhimento Temporário (CAT). A valência já deu abrigo este ano a 108 pessoas. “As pessoas são encaminhadas pelos técnicos. Estão ali todo o tipo de problemática: violência doméstica, questões de adição… Temos uma equipa multidisciplinar, uma diretora técnica, uma psicóloga, uma animadora e uma encarregada geral”, assinala.
A Cáritas Paroquial tem sete quartos duplos disponíveis. “Neste momento temos 12 pessoas. Quando temos famílias acolhidas, com crianças, passamos a lotação máxima, que são 14 pessoas”, revela.
O aumento dos pedidos de ajuda também é notado na Cáritas Diocesana de Viseu. O presidente, Felisberto Figueiredo, revela que foram atendidas, só em agosto, 372 pessoas, num total de 123 famílias. E à semelhança do que acontece na Cáritas Paroquial, também aqui tem sido notado uma maior procura por parte de pessoas com problemas de foro mental. “Abordam-nos por causa da medicação ou aconselhamento”, refere Felisberto Figueiredo.
Entre os atendidos, “a maioria das tem baixa escolaridade e, estranhamente, aparecem-nos pessoas desempregadas, quando as estatísticas nos dizem que o desemprego no país”, concretizando que foram 112 os desempregados do total de 372 pedidos de apoio. Aqui também acorreram 10 ex-reclusos que procuraram ajuda para a reabilitação.
“Quando vêm aqui sentem necessidade de apoio. Muitas das vezes chegam com alguma ansiedade, desanimados da vida…Os técnicos vão procurando erguer-lhe o ânimo e encaminhá-los para o sítio certo”, descreve o presidente da Cáritas Diocesana de Viseu.
Felisberto Figueiredo defende que “este é um trabalho que nunca está terminado” e que “todos os dias temos problemas humanitários de desemprego que atiram as pessoas para situações de necessidade de apoio social e de proteção”. Tanto assim é que, explica, “vemos gente que já apoiou a Cáritas noutros tempos e que, agora, vem pedir ajuda, dizendo-nos mesmo, ‘já vos ajudei em tempos, agora sou eu quem está a precisar de ajuda'”.
A Cáritas vai avançar numa candidatura para dar um teto a quem dele precisar. “Vamos fazer uma candidatura para reabilitar quatro casas que comprámos, que pertenciam à Fundação José da Cruz Moreira Pinto. Fica junto ao seminário das missões. São casas degradadas e vamos reabilitá-las e disponibilizá-las para alojamento temporário. O alojamento não será gratuito porque a Segurança Social pagará a renda social equivalente à casa equivalente ao tempo em que lá estarão. Quem lá for colocado será sempre uma pessoa que virá sinalizado da Segurança Social: sem abrigo, vítima de violência doméstica, refugiado. É uma situação de passagem para as pessoas darem a volta”, descreve.
É um novo apoio prestado pela instituição, sendo que Felisberto Figueiredo garante que “vamos ter necessidade de continuar a estruturar e a organizar de maneira a dar uma resposta mais adequada àquilo que vão sendo as necessidades emergentes”.
Esclarecendo que a Cáritas Paroquial de Santa Maria e a Cáritas Diocesana são instituições autónomas, Felisberto Figueiredo refere existir uma “cooperação estreita” para que as pessoas que precisam continuem a ser apoiadas.