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Ele aí está, o velho e relho populismo identitário de direita, bem conhecido há décadas na “Europa” e no mundo, mas que só agora encontrou caminho entre nós, para embaraço dos partidos da direita democrática e nenhum embaraço do PS, antes pelo contrário.
A presença do Chega no parlamento — que, não esqueçamos, foi alargada de um para doze deputados pela estupidez das cúpulas do Bloco de Esquerda e do PCP, quando impuseram umas eleições antecipadas que ninguém queria — põe problemas novos aos partidos tradicionais, mas essa “novidade” é só doméstica.
Por esse mundo fora, há já muito histórico sobre as relações entre os partidos tradicionais e as direitas radicais (como o Chega) e as extremas-direitas (como a Aurora Dourada grega). Segundo Cas Mudde, no seu livro “O Regresso da Ultradireita, da Direita Radical à Direita Extremista”, tem havido quatro tipos de respostas:
(i) demarcação: os partidos do sistema excluem os “partidos de ultradireita das suas intervenções políticas”, fazem como que eles não existissem; embora os “cordões sanitários” estejam “a revelar brechas”, eles continuam operativos, por exemplo, na Bélgica, na Alemanha e nos Países Baixos;
(ii) confronto: há uma “oposição activa a partidos de ultradireita e, na maior parte das suas vezes, às suas políticas”; esta estratégia é adoptada, sem complexos, pelos verdes e os liberais;
(iii) cooptação: é “o modelo dominante de interacção nas democracias ocidentais”, em que “os partidos democráticos excluem partidos da direita radical populista, mas não as suas ideias”; com os “ataques terroristas e a chamada «crise dos refugiados»”, proliferam “políticas autoritárias e nativistas dos governos mainstream.”
(iv) incorporação: neste caso, já estamos numa estratégia de “já-que-não-os-podemos-vencer-juntemo-nos-a-eles”: os “partidos da direita radical populista são incorporados no mainstream e normalizados.”
A Itália, sempre um laboratório político fervilhante, foi pioneira, em 1994, com uma coligação de Berlusconi com a Aliança Nacional «pós-fascista» e a Liga Norte de direita radical populista, que só durou oito meses mas abriu o precedente. Seguiu-se a Áustria, em 2000, com uma coligação que integrava um partido nacionalista, o FPÖ, que causou repúdio e boicote na UE.
Com o passar dos anos e com o crescimento eleitoral das direitas radicais, estas foram integrando governos e a diabolização foi diminuindo. É que “os partidos da direita radical populista possuem uma tal dimensão em muitos países de que excluí-los do governo acarreta custos cada vez mais pesados para partidos de direita mainstream”.
A direita democrática faz a “incorporação” da direita radical ainda de outra maneira: os velhos partidos conservadores foram-se deslocando ideologicamente para a direita, especialmente em assuntos de costumes e de imigrantes, facilitando coligações entre as velhas e as novas formações políticas.
É muito provável que tal venha a acontecer entre nós com o sempre pragmático e pouco ideológico PSD. Já com a Iniciativa Liberal, que tem um corpo de valores aparentemente mais sólido, tal poderá ser mais difícil.
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